Kiko afirma que uso de espuma foi recomendado por engenheiro.
O
empresário Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da Boate Kiss, onde
um incêndio matou mais de 230 pessoas no último domingo, disse que as
próprias vítimas atrapalharam o resgate. "E as pessoas, em vez de terem
saído e 'abrido', ficaram na frente da boate, atrapalhando, ainda", afirmou, em entrevista veiculada no programa Fantástico, da TV Globo e disponibilizada
no Facebook pelo advogado do empresário, Jader Marques. A entrevista
foi gravada pelo defensor dentro do hospital no qual Kiko está
internado.
De acordo com Kiko, a banda Gurizada Fandangueira, que
acendeu o sinalizador que deu início ao fogo, não conversou com ele
sobre o uso de artefatos pirotécnicos dentro da boate. "A banda nunca
falou comigo sobre isso (queima de fogos dentro da boate). Eu nunca
autorizei isso. Faz dois anos, eu acho, que a banda toca lá. Eu vi, no
mínimo, 30 shows deles. Eles nunca fizeram isso, nem na Kiss e - vi
shows deles -, em outros lugares, eles também nunca usaram isso. Se eu
soubesse que iam usar isso, eu não deixaria usar", disse.
Kiko
afirma que não lembra com exatidão qual era a lotação da casa no dia da
tragédia. "Nessa noite eu lembro – e geralmente eu chego na entrada e
pergunto 'como é que tá?'. (Responderam:) 'Tá bom, tá razoável, deve ter
umas 700 pessoas'. Entrei e, realmente, acredito que tinha perto de 600
a 700 pessoas", disse.
O empresário conta como reagiu quando viu o
teto da boate pegando fogo. "Vi que a coisa era séria e saí já
gritando: Abre! Abre tudo que é sério! Eu mesmo abri as portas,
inclusive".
Segundo Kiko, a espuma usada para o isolamento
acústico da casa noturna – material que, queimado, liberou gases tóxicos
– foi colocada por indicação do engenheiro Michel Angelo Pedroso. "As
opções eram gesso ou espuma. A espuma eu achava horrível, muito feio. Eu
optei pelo gesso. Porém, continuou o barulho. Eu voltei a chamar o
Pedroso, pra gente trocar uma ideia, ver o que fazer. A gente botou
espuma e madeira por cima, concreto, e aí, por fim, espuma. Eles queriam
que eu botasse espuma em toda a boate. Mas eu botei só no palco",
disse.
O engenheiro se defendeu: "Eu tenho uma quantidade grande
de projetos acústicos e de laudos acústicos, e jamais, em nenhum deles,
eu aconselhei a utilizar espuma de borracha", afirmou. O empresário
admitiu que a boate funcionou com o alvará vencido. Segundo Kiko, em uma
das vistorias na Kiss, os bombeiros constataram que as portas estavam
ultrapassadas. "Foi o que me disseram. E me indicaram uma empresa
chamada Hidramix, que era de um antigo colega deles, que fazia todo esse
sistema operacional pra mim", disse.
O Corpo de Bombeiros informou que só vai se manifestar depois de terminado o inquérito.
Também em entrevista ao Fantástico, o percussionista da banda
Gurizada Fandangueira, Marcio de Jesus dos Santos, afirmou que a Boate
Kiss era um "labirinto". O músico disse que só escapou do local porque
saiu do palco pela área VIP. "Qualquer um de nós, mesmo conhecendo a
casa, se saísse daquele corredorzinho que se formava entre o ferro e uma
parede, que dava direto numa porta, não acharia mais. É um labirinto, e
se tu perguntar para qualquer um que já foi na Kiss ou vai, ou foi
nessa data específica, eles vão te dizer que é um labirinto", disse.
O
gaiteiro da banda, Danilo Jaques, morreu no incêndio. Segundo
depoimentos de testemunhas, o vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos
Santos, irmão de Marcio, foi quem manuseou o sinalizador que deu início
ao fogo. O músico está preso. "Marcelo tirou a luva [que levava os
fogos] e a gente continuou o show. Logo o guitarrista olhou pra cima e
tinha uma pequena bolinha de fogo, e eu avisei o Marcelo: 'cuidado tem
fogo ali'. Quando o cara deu o extintor, ele atirou no chão. Atirou e
pegou e puxou a trava. Se estivesse funcionando, por Deus que nada disso
teria acontecido", afirmou.
Segundo Marcio, o uso dos artefatos
pirotécnicos não foi o responsável pelas mortes. "Nunca nos proibiram de
usar [os fogos], nunca tinha ferido ninguém. Eu poderia me sentir
culpado se, mesmo sabendo que eu já tivesse ferido alguém, viesse a
acontecer a tragédia que aconteceu, eu deixasse acontecer de novo". De
acordo com o músico, os fogos de artifício eram sempre utilizados nas
apresentações e Kiko, o dono da boate, tinha conhecimento.
Dono de boate está internado em hospital sob custódia
Kiko
está internado sob custódia da polícia em um hospital de Cruz Alta, a
130 quilômetros de Santa Maria. A Justiça decretou a prisão preventiva
dele e do outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, no dia seguinte à
tragédia. Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, testemunhas
afirmaram que os extintores de incêndio da casa noturna não funcionavam.
Conforme o delegado Marcelo Arigony, há indícios de que os equipamentos
seriam falsos.
Ainda segundo a polícia, a casa noturna também
teria recebido mais de mil pessoas no dia do evento, mais do que a
capacidade máxima estabelecida em seu alvará de funcionamento, de 691
pessoas. "Qualquer criança sabia que aquela casa não podia funcionar
daquele jeito", disse Arigony.
De acordo com o advogado de Kiko,
Jader Marques, a capacidade de público foi respeitada pelos
proprietários. "Está sendo argumentado que poderia haver mais de mil
pessoas na casa. Na avaliação do Kiko, a lotação fica em torno de 600 a
700 pessoas e, quando se atinge esse número, as portas são trancadas e
novas entradas só são permitidas quando pessoas deixam o local. Se não
tiverem sido atingidos pelo fogo, há cadernos de controle do público.
Para essa festa, foram impressos 850 convites. Para comprovar isso,
levaremos ao conhecimento das autoridades o arquivo da empresa de
publicidade responsável. No total, 700 convites foram entregues à
representante dos estudantes", afirmou.
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2013/02/04/dono-da-boate-kiss-diz-que-sobreviventes-atrapalharam-resgate/
Nenhum comentário:
Postar um comentário