segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Dono da boate Kiss diz que sobreviventes atrapalharam resgate

Kiko afirma que uso de espuma foi recomendado por engenheiro.

O empresário Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da Boate Kiss, onde um incêndio matou mais de 230 pessoas no último domingo, disse que as próprias vítimas atrapalharam o resgate. "E as pessoas, em vez de terem saído e 'abrido', ficaram na frente da boate, atrapalhando, ainda", afirmou, em entrevista veiculada no programa Fantástico, da TV Globo e disponibilizada no Facebook pelo advogado do empresário, Jader Marques. A entrevista foi gravada pelo defensor dentro do hospital no qual Kiko está internado.

De acordo com Kiko, a banda Gurizada Fandangueira, que acendeu o sinalizador que deu início ao fogo, não conversou com ele sobre o uso de artefatos pirotécnicos dentro da boate. "A banda nunca falou comigo sobre isso (queima de fogos dentro da boate). Eu nunca autorizei isso. Faz dois anos, eu acho, que a banda toca lá. Eu vi, no mínimo, 30 shows deles. Eles nunca fizeram isso, nem na Kiss e - vi shows deles -, em outros lugares, eles também nunca usaram isso. Se eu soubesse que iam usar isso, eu não deixaria usar", disse.

Kiko afirma que não lembra com exatidão qual era a lotação da casa no dia da tragédia. "Nessa noite eu lembro – e geralmente eu chego na entrada e pergunto 'como é que tá?'. (Responderam:) 'Tá bom, tá razoável, deve ter umas 700 pessoas'. Entrei e, realmente, acredito que tinha perto de 600 a 700 pessoas", disse.

O empresário conta como reagiu quando viu o teto da boate pegando fogo. "Vi que a coisa era séria e saí já gritando: Abre! Abre tudo que é sério! Eu mesmo abri as portas, inclusive".

Segundo Kiko, a espuma usada para o isolamento acústico da casa noturna – material que, queimado, liberou gases tóxicos – foi colocada por indicação do engenheiro Michel Angelo Pedroso. "As opções eram gesso ou espuma. A espuma eu achava horrível, muito feio. Eu optei pelo gesso. Porém, continuou o barulho. Eu voltei a chamar o Pedroso, pra gente trocar uma ideia, ver o que fazer. A gente botou espuma e madeira por cima, concreto, e aí, por fim, espuma. Eles queriam que eu botasse espuma em toda a boate. Mas eu botei só no palco", disse.

O engenheiro se defendeu: "Eu tenho uma quantidade grande de projetos acústicos e de laudos acústicos, e jamais, em nenhum deles, eu aconselhei a utilizar espuma de borracha", afirmou. O empresário admitiu que a boate funcionou com o alvará vencido. Segundo Kiko, em uma das vistorias na Kiss, os bombeiros constataram que as portas estavam ultrapassadas. "Foi o que me disseram. E me indicaram uma empresa chamada Hidramix, que era de um antigo colega deles, que fazia todo esse sistema operacional pra mim", disse.

 O Corpo de Bombeiros informou que só vai se manifestar depois de terminado o inquérito.

Também em entrevista ao Fantástico, o percussionista da banda Gurizada Fandangueira, Marcio de Jesus dos Santos, afirmou que a Boate Kiss era um "labirinto". O músico disse que só escapou do local porque saiu do palco pela área VIP. "Qualquer um de nós, mesmo conhecendo a casa, se saísse daquele corredorzinho que se formava entre o ferro e uma parede, que dava direto numa porta, não acharia mais. É um labirinto, e se tu perguntar para qualquer um que já foi na Kiss ou vai, ou foi nessa data específica, eles vão te dizer que é um labirinto", disse.

O gaiteiro da banda, Danilo Jaques, morreu no incêndio. Segundo depoimentos de testemunhas, o vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, irmão de Marcio, foi quem manuseou o sinalizador que deu início ao fogo. O músico está preso. "Marcelo tirou a luva [que levava os fogos] e a gente continuou o show. Logo o guitarrista olhou pra cima e tinha uma pequena bolinha de fogo, e eu avisei o Marcelo: 'cuidado tem fogo ali'. Quando o cara deu o extintor, ele atirou no chão. Atirou e pegou e puxou a trava. Se estivesse funcionando, por Deus que nada disso teria acontecido", afirmou.

Segundo Marcio, o uso dos artefatos pirotécnicos não foi o responsável pelas mortes. "Nunca nos proibiram de usar [os fogos], nunca tinha ferido ninguém. Eu poderia me sentir culpado se, mesmo sabendo que eu já tivesse ferido alguém, viesse a acontecer a tragédia que aconteceu, eu deixasse acontecer de novo". De acordo com o músico, os fogos de artifício eram sempre utilizados nas apresentações e Kiko, o dono da boate, tinha conhecimento.

Dono de boate está internado em hospital sob custódia

Kiko está internado sob custódia da polícia em um hospital de Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria. A Justiça decretou a prisão preventiva dele e do outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, no dia seguinte à tragédia. Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, testemunhas afirmaram que os extintores de incêndio da casa noturna não funcionavam. Conforme o delegado Marcelo Arigony, há indícios de que os equipamentos seriam falsos.

Ainda segundo a polícia, a casa noturna também teria recebido mais de mil pessoas no dia do evento, mais do que a capacidade máxima estabelecida em seu alvará de funcionamento, de 691 pessoas. "Qualquer criança sabia que aquela casa não podia funcionar daquele jeito", disse Arigony.

De acordo com o advogado de Kiko, Jader Marques, a capacidade de público foi respeitada pelos proprietários. "Está sendo argumentado que poderia haver mais de mil pessoas na casa. Na avaliação do Kiko, a lotação fica em torno de 600 a 700 pessoas e, quando se atinge esse número, as portas são trancadas e novas entradas só são permitidas quando pessoas deixam o local. Se não tiverem sido atingidos pelo fogo, há cadernos de controle do público. Para essa festa, foram impressos 850 convites. Para comprovar isso, levaremos ao conhecimento das autoridades o arquivo da empresa de publicidade responsável. No total, 700 convites foram entregues à representante dos estudantes", afirmou.

 http://www.jb.com.br/pais/noticias/2013/02/04/dono-da-boate-kiss-diz-que-sobreviventes-atrapalharam-resgate/

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