Chamada dos prisioneiros recém chegados, a maioria judeus presos durante
a "Noite dos Cristais" (Kristallnacht), no campo de concentração de
Buchenvald. Buchenwald, Alemanha, 1938.
Berlim - Há 80 anos, logo depois da chegada de Adolf
Hitler ao poder, o Partido Comunista Alemão (KPD), perseguido pelo
nacional-socialismo, convocou uma greve geral em todo o país.
Apenas uma cidade de quatro mil habitantes no sudoeste da Alemanha,
Mössingen, atendeu ao apelo da organização e, segundo os dados da época,
entre 800 e mil pessoas saíram às ruas e paralisaram duas fábricas que
funcionavam no local.
A polícia, sem maiores problemas, terminou reprimindo o protesto, o único que houve naquele dia em toda a Alemanha.
As autoridades de Mössingen, segundo o historiador Bernd Jürgen
Warneken que escreveu um livro sobre o tema, tiveram através da história
dificuldades na hora de confrontar os fatos do início do ano de 1933.
Já os nazistas durante a década e meia de seu regime tinham assentado
as bases para que a greve de Mössingen fosse vista como um episódio
orquestrado pelo stalinismo e pelos inimigos da Alemanha.
Durante o pós-guerra, a visão que os nazistas tinham imposto sobre a
greve de Mössingen seguiu vigente por um bom tempo, ao que ajudou o
domínio que as forças conservadoras tiveram durante muito tempo nessa
região.
Somente dez anos atrás, quando se completou seu 70º aniversário, foi
colocada uma placa comemorativa daquele protesto, apesar das
resistências dentro da própria prefeitura. Apenas um dos sobreviventes
da greve - Jakob Textor, que morreu em 2010 com 102 anos - pôde estar
presente nesse ato.
Textor mesmo, no entanto, que pintou um dos cartazes da greve, nunca
recebeu uma homenagem da cidade e a prefeitura rejeitou uma proposta a
esse respeito quando ele completou cem anos.
Agora, por ocasião do 80º aniversário da greve, diversos grupos
impulsionaram uma série de atos comemorativos, contra os quais os
representantes da União Democrata-Cristã (CDU) - o partido da chanceler
Angela Merkel - se mostram reticentes.
Alianças de casamento encontradas pelos soldados do exército
norte-americano perto do campo de concentração de Buchenwald. Alemanha,
maio de 1945.
O prefeito de cidade, o independente Michal Bulander, quer aproveitar
o aniversário para ativar um diálogo entre os que, como ele, consideram
a greve contra Hitler como um ato de resistência legítimo e aqueles que
criticam os distúrbios daquele dia.
Foto de crianças sobreviventes da ala infantil--Barraco 66--do campo de
Buchenwald, logo após a libertação do mesmo pelos Aliados. Alemanha,
foto tirada após 11 de abril de 1945.
O livro de Warneken, "Das ist nicht nirgends gewesen, ausser hier"
("Não aconteceu nada em lugar nenhum, exceto aqui", em tradução livre),
foi publicado originalmente em 1982 e recentemente foi reeditado por
causa do aniversário da greve.
No prólogo para a nova edição, Warneken se ocupa das dificuldades que
Mössingen teve com a memória da greve e vê este problema dentro do
âmbito da demora que a própria Alemanha teve em abordar o passado
nazista e em homenagear àqueles que tentaram resistir ao regime.
Warneken lembra que a República Federal da Alemanha demorou muito a
ver como algo legítimo a rebelião dos oficiais, liderados por
Stauffenberg, que tentaram matar Hitler em 20 de julho de 1944.
Se honrar os rebeldes de 20 de julho - todos eles de procedência
conservadora - não era fácil, mais difícil ainda era render tributo à
resistência operária, muitas vezes liderada pelo KPD, do qual, diz
Warneken, quase não se falou na imprensa, nem nos livros de história
durante anos.
"O fato de os comunistas terem liderança nos movimentos de oposição ilegais não ajudou sua reputação", teoriza Warneken.
A isso se soma um fator local: em Mössingen conviviam os antigos
nazistas e os antigos opositores ao regime, que em muitos casos eram
vizinhos ou trabalhavam no mesmo lugar.
Isto fazia temer, segundo Warneken, que a lembrança da greve pudesse
envenenar a vida social da cidade com o que "o apelo para não
ressuscitar velhas feridas era determinado ideologicamente".
Agora a situação mudou, segundo Warneken, e o fim da Guerra Fria fez
com que aumentasse a consciência de que o passado vermelho também faça
parte da identidade de Mössingen.
http://br.mulher.yahoo.com/justi%C3%A7a-neozelandesa-volta-negar-liberdade-condicional-dotcom-074011715.html
http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/gallery_ph.php?ModuleId=10005198
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