A advogada e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de
Joinville (SC), Cynthia Pinto da Luz, disse em entrevista à BBC Brasil
que a violência de agentes penitenciários nos presídios de Santa
Catarina catarinenses é uma prática frequente e está em vigor há muito
tempo - algo que o Departamento de Administração Prisional (DEAP) do
Estado nega.
Câmera interna registrou ação no presídio
Cynthia fez o comentário após ter recebido denúncias de torturas
contra detentos e ter visitado o presídio da cidade, onde ouviu relatos
de presos que dizem ter sido arrastados pelo pescoço, espancados, que
foram atacados com spray de pimenta e viu hematomas que teriam sido
feitos por balas de borracha.
Um vídeo divulgado nos últimos dias deu peso aos relatos ao mostrar policiais praticando esse tipo de abusos contra os detentos.
"(A violência) é um prática recorrente do Deap (Departamento Estadual
de Administração Prisional). Eles praticam tortura psicológica,
castigos inadequados, usam balas de borracha e outras práticas
abusivas", afirma Cynthia. "Fazem isso para dar vazão à política
prisional de violência que é praticada no Estado."
Segundo ela, todos os anos são denunciados casos de violência contra
presidiários, mas as denúncias raramente terminam em punição dos
responsáveis.
"Já ocorreram casos de funcionários de presídios serem transferidos
ou afastados de seus cargos. Mas em geral há um comportamento por parte
do governador Raimundo Colombo (PSD) e da do secretária de Justiça, Ada
de Luca, de se omitirem na hora de punir esses agentes", afirma Cynthia,
acrescentando que a corregedoria do órgão nem sempre apura os fatos.
"Há uma conivência do governo. O Estado insiste em manter em seus quadros pessoas que praticam a tortura."
Outro lado
O diretor do DEAP, Leandro Lima, nega que haja violência recorrente
no sistema e diz que a administração penitenciária "repudia qualquer
forma e tortura física ou psicológica" e investe em programas de
ressocialização e trabalho de detentos.
"Há agentes em processo de punição. Não falta vontade do sistema.
Todas as denúncias são encaminhadas para apuração da Corregedoria", diz à
BBC Brasil.
No caso específico do presídio de Joinville, onde agentes
penitenciários foram filmados agredindo detentos nus, Lima diz que "as
imagens falam por si só". "Vamos nos recolher em reflexão e corrigir os
erros." Ele diz também que o presídio é "inadequado" e será reformado.
Publicidade
Cynthia Pinto da Luz acredita que os agentes sabiam que estavam sendo
filmados durante a tortura dos presos - há mais de três horas de
gravação, obtidas da câmera de segurança do local. No entanto, ela acha
que os funcionários não imaginavam que, dessa vez, os abusos teriam
tamanha publicidade.
Segundo ela, a Comissão de Direitos Humanos da OAB local está
acompanhando os desdobramentos do caso de perto e levará as denúncias à
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, vinculada ao Ministério
da Justiça, e ao Departamento Penitenciário Nacional.
Também será realizada uma ação conjunta com a OAB de Florianópolis,
para apurar torturas em outros presídios do Estado. Juntamente com o
Centro de Direitos Humanos e o Conselho Carcerário, ela visitou o
presídio no dia 30 de janeiro, 12 dias após os atos de violência. Ainda
assim, os exames de corpo de delito realizados nos presos mostravam,
segundo ela, sinais claros de tortura.
Cynthia afirma que a onda de violência que vem assolando o Estado há
uma semana é uma reação extremamente inaceitável por parte do crime
organizado, que faz sofrer o cidadão comum.
"Mas essa reação é algo que já se sabia que iria acontecer, por conta
da violência contra os detentos de São Pedro de Alcântara e, agora, no
de Joinville."
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,abusos-em-presidios-de-sc-sao-recorrentes-diz-oab,993417,0.htm
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