Depois de abordar a briga entre fãs do desenho “Pica Pau” e o diretor do “TV Xuxa” e perder a mão exibindo uma entrevista de cunho sensacionalista com Guilherme de Pádua,
mais uma vez a Record usou o espaço do “Domingo Espetacular” para
atacar a Globo. No último domingo (13) foi levada ao ar uma reportagem
que condenava a rival por abordar aspectos religiosos que desagradam
grupos evangélicos na minissérie “O Canto da Sereia” e “Salve Jorge”.
Como justificativa, a matéria usou a campanha feita por um pastor
contra a história baseada no livro homônimo de Nelson Motta exibida na
semana passada. Segundo ele, a minissérie faria apologia à
bissexualidade – a protagonista, vivida por Isis Valverde, tinha um
romance com a personagem de Camila Morgado – e à umbanda, ao citar a
figura de Iemanjá. O candomblé, aliás, também foi o alvo de uma
antropóloga, que, em depoimento, “acusou” a novela de fazer referência a
Ogum em seu título. Não só houve menosprezo de outra religião como a
emissora acabou por dar voz a uma parcela pequena – e extremista -, que
propõe boicote à sua concorrente direta.
A mesma reportagem mostrou ainda a insatisfação de alguns pastores
com o “Festival Promessas”, promovido pela Globo com cantores
evangélicos. Nesse caso, a acusação é de golpe de marketing. A julgar
pelo material exibido, a Globo estaria errada, portanto, não só ao dar
voz a religiões fora do cristianismo quanto aos próprios evangélicos.
Difícil entender.
A produção da Record chegou até mesmo a enviar à rival
um questionamento que considerou pertinente: se ela pretende exibir uma
novela cuja protagonista seja evangélica. Curiosamente, nenhuma mocinha
de “Balacobaco”, “Máscaras”,
“Caminhos do Coração” ou qualquer outra produção da emissora professou
seu credo ardorosamente. Em resposta, a Globo afirmou que sua
programação é laica, ou seja, não segue nenhuma religião.
A Constituição Brasileira prevê que o Estado seja laico. Não há crime
em professar uma fé diferente seja ela católica, evangélica, espírita
ou umbandista. Ao permitir que grupos como este que propôs o boicote
ganhem voz, a Record acaba por estimular uma briga desnecessária e
alimentar, ainda que não queira, discursos de ódio. Um episódio
lamentável. Há que se ter cuidado e fazer melhor uso do bom jornalismo.
http://colunistas.ig.com.br/natv/2013/01/14/record-exibe-reportagem-criticando-cunho-religioso-de-salve-jorge-e-o-canto-da-sereia/
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