segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Executivos acham que está mais difícil subir da base à chefia de uma empresa

No McDonalds, ex-CEO morto na semana passada começou fritando hambúrgueres: coisa do passado

 Para especialista, atualmente escalada é mais "mitologia corporativa" do que realidade

Fred Turner, ex-executivo que morreu na última semana, foi um exemplo de grande ascensão profissional: passou de preparador de hambúrgueres do McDonald's a presidente da empresa, em 1974, ajudando-a a se tornar uma marca global. Mas e hoje, ainda é realista pensar que é possível subir da base à chefia de uma empresa?

Quando o britânico Jarrod Best tinha 16 anos, seu pai lhe disse que ele não era "inteligente o bastante" para passar na universidade. Ainda que depreciativo, o comentário serviu para que Jarrod se esforçasse para se provar para sua família. Ele começou a trabalhar como ajudante de uma empreiteira e, passados 20 anos, tornou-se diretor-gerente e sócio da empresa, comandando 80 funcionários e milhões de dólares em receita. "Queria olhar meu pai de igual para igual, em vez de pedir dinheiro emprestado para ele", conta.

A história de Best, assim como a de Turner, é cada vez mais incomum. No mundo corporativo, a habilidade de convencer investidores e elaborar estratégias globais é mais valorizada do que virtudes tradicionais como trabalho duro e bom senso.

'Mitologia'
Para Matthew Gwyther, editor do periódico especializado Management Today, trabalhar para chegar da base ao topo, a exemplo de Turner no McDonald's, atualmente é mais "mitologia" corporativa do que realidade. "É algo meio folclórico e antiquado", diz.

Muitas empresas grandes esperam que seus executivos passem uma semana "nos andares de baixo" para aprender como o negócio funciona - e isso, argumenta Gwyther, é mais do que suficiente. "Não é preciso trabalhar anos como limpador de chaminé para saber a respeito de chaminés", defende.

Há muitos exemplos de executivos de origem humilde, principalmente em áreas como varejo e serviços. Mas são raros os que foram de um cargo muito baixo a um muito alto. São poucos os que são carismáticos, empenhados e ainda se mantêm na mesma empresa ao longo de anos. Estes costumam falar de suas empresas como uma "família" e creem que qualquer um pode chegar à diretoria se for suficientemente esperto e esforçado.

Michel Taride, presidente do braço internacional da empresa de aluguel de carros Hertz, diz que "os olhos das pessoas saltam" quando ele conta que está na mesma companhia há quase 40 anos.

Taride passou sua adolescência sonhando ser músico e só concorreu ao emprego de diretor de uma agência da Hertz para satisfazer sua mãe. Para sua própria surpresa, pegou gosto pelo trabalho e começou sua subida na escada corporativa.

Individualismo e mobilidade social
Mas ele admite que o mundo mudou desde então. "As pessoas são menos leais, mais individualistas. Há menos sentimento de compromisso com uma empresa", afirma Taride.

Stuart Rose, ex-presidente da gigante varejista britânica Marks & Spencer, diz que começou vendendo pijamas na empresa. "As pessoas tentam, erroneamente, planejar suas carreiras até o nono grau", afirma Rose. "Vivemos numa sociedade do imediatismo. Todos querem chegar ao topo. Só um consegue ser executivo-chefe. Trabalhei numa empresa que empregava 100 mil pessoas, o que significa que 99.999 delas não terão esse cargo."

Ao mesmo tempo, ele se preocupa com o aparente colapso da mobilidade social em seu país - reclamação constantemente ouvida também nos EUA e em outras partes da Europa. Para Rose, os jovens atuais têm "menos disposição a fazer sacrifícios". "Muitos estão fechando seus próprios horizontes."

Já Ian Payne, presidente da rede de pubs britânicos Stonegate, se queixa do que considera "falta de ambição" entre alguns jovens. E admite que tende a preferir empregados que começaram lá embaixo e cresceram, como ele.

Payne fala com orgulho de um jovem empregado de 27 anos que começou como funcionário de meio período de um dos pubs e hoje é um dos gerentes da empresa. Em contrapartida, "temos um cara que trabalha para nós há seis anos, na mesma função. Disse a ele que ele precisa de um belo chute no traseiro".

                           Pesquisa nos EUA revela: quem não bebe, não sobe na carreira

Pesquisas apoiam a ideia de que os que não bebem têm dificuldades para subir na hierarquia corporativa e de se enturmar, além de ganhar menos dinheiro que beberrões

Como executivo de vendas de anúncios da revista Forbes, Terry Lavin trabalhou duro para ganhar sua reputação de companheiro de bebida confiável.

"Era como se eu tivesse alugado um espaço no P.J. Clarke's", disse, se referindo ao bar de Midtown Manhattan. "Sempre fui o último a sair, sempre com um coquetel na mão."

Em um negócio baseado na simpatia, o papel o ajudou a ter sucesso. Até 2010, quando ele decidiu dar um tempo para o seu corpo e parar de beber por seis meses. Sua saúde melhorou; já seu negócio, não.

"Ligava para camaradas com quem eu tinha amizade, camaradas que tinham nas mãos grandes orçamentos para anúncios, a fim de ver se queriam sair para um happy hour ou comer alguma coisa", lembrou, "e eles me respondiam: 'Está bebendo? Não? Então esquece'".

Lá se vão os benefícios da vida sóbria.


Terrence Levin, ex-executivo de publicidade da Forbes, bebe copo de água com gás em Pig and Whistle, em Nova York.
 
Mesmo enquanto almoços com três doses de Martini e reuniões de funcionários abastecidas a uísque se tornam mais difíceis de encontrar fora da TV a cabo, grandes quantidades de rituais de negócios americanos continuam girando em torno do consumo de álcool.

Quer seja cortejando um cliente, esboçando um acordo ou simplesmente provando que você é um jogador de equipe, tomar uma rodada de cerveja é substancialmente mais vital para muitas ocupações que jogar uma rodada de golfe.

Para profissionais que se abstêm do álcool – seja por saúde, religião, recuperação ou simplesmente por preferência – pode parecer às vezes mais difícil progredir se não estiverem dispostos a tomar uma.

"Esperam que você beba, e beber é parte do que você faz; as pessoas ficam meio sérias se você disser que não bebe", disse Link Christin, diretor de um programa de tratamento especial para advogados iniciado no ano passado pela Hazelden, uma rede de centros de recuperação contra álcool e drogas que fica no estado de Minnesota. "Se disser que não bebe, você tem que lidar com a suspeita de que não sabe jogar."

Para encontrar essa postura em ação, basta olhar para a campanha presidencial deste ano. Como parte de sua estratégia de campanha de convencer os eleitores de que Mitt Romney, um mórmon abstinente, é diferente da maioria dos americanos, o presidente Barack Obama tem feito uma exibição notável de que aprecia cerveja como as pessoas comuns.

"Ontem fui à Feira Estadual e comi costeleta com cerveja", Obama se gabou para uma multidão de Iowa em agosto, o dia em que fechou um quiosque de cerveja para que pudesse comprar cervejas para ele e para outros dez frequentadores da feira. "E a cerveja estava boa. Hoje, só tomei cerveja. Não comi costeleta. Mas a cerveja estava boa." A multidão retribuiu gritando em coro: "Mais quatro cervejas!".

Quando o público exigiu que Obama revelasse as suas receitas de cerveja caseira após dividir uma garrafa com um dos clientes de um pequeno restaurante em Knoxville, Iowa, a Casa Branca aproveitou o momento, exigindo primeiro 25.000 assinaturas em um abaixo-assinado (a Casa Branca finalmente cedeu, liberando duas receitas depois de apenas 12.000 assinaturas).


E esse não é um assunto novo entre os políticos. Edward M. Kennedy se queixou da falta de álcool na Casa Branca de Jimmy Carter enquanto se preparava para desafiar o presidente nas prévias de 1980. E isto se tornou um truísmo nas pesquisas nos últimos anos: os eleitores escolhem o candidato com quem beberiam uma cerveja (o mais recente presidente que não bebe a assumir a Casa Branca, George W. Bush, pelo menos se assegurou de ser ocasionalmente fotografado segurando uma cerveja sem álcool).
Para pessoas menos públicas, a noção de que alguém que não bebe não tem bom desempenho nos negócios – ou pior, é uma pessoa não confiável – pode impedir o progresso profissional.

"Existe a percepção de que você é quase impotente", afirmou um abstêmio, que é editor de uma revista de estilo de vida focada em bebidas e que pediu para não ser identificado porque muitos de seus colegas de trabalho não sabem que ele entrou no programa dos 12 passos.

As desvantagens profissionais da sobriedade variam do literal – o editor teve recusar uma promoção em potencial porque envolveria beber vinho – ao sutil.

"Regularmente, me recuso a ir a almoços e jantares com pessoas do ramo que, no passado, eu aceitaria correndo", afirmou. "Simplesmente, não posso ir a um jantar com um fabricante de vinho e dizer: não, obrigado. Não vou beber.''

Mas não precisamos trabalhar diretamente com bebidas alcoólicas para passarmos por isso. Em Wall Street, onde prevalece o estilo de vida "modelos e garrafas", os que não bebem "queixam-se de que não conseguem fechar negócios, não conseguem mesmo entrar nas negociações iniciais porque não entram no comportamento de beber", diz John Crepsac, um terapeuta de Nova York que aconselha profissionais de Wall Street em recuperação.


Os cientistas sociais se referem a isso como "capital social", a quantidade de potencial econômico a ser controlado pela capacidade de se enturmar.
"Houve épocas em que eu sabia que colegas iriam sair com clientes que poderiam ajudar a avançar a minha carreira", disse um corretor de Wall Street que não bebe e que pediu para ficar anônimo porque o seu empregador não permite que funcionários conversem com a imprensa, "mas era compreendido sem palavras: 'Sim, não vamos convidá-lo porque provavelmente vamos tomar alguma coisa e ele não vai participar, então do que adianta?'''.

Claro que a sobriedade e o sucesso não são mutuamente contraditórios. Warren Buffett, Donald Trump, Joe Biden e Larry Ellison são abstêmios desde sempre. Quer vença a eleição ou não, também não faltou sucesso para Romney.

E mulheres sóbrias podem de fato se beneficiar com um padrão dúbio. "Ainda se espera que os homens se reúnam e enlouqueçam, mas de algum modo isso é mal visto se uma mulher participa", disse Crepsac, notando que poucas de suas pacientes se queixaram deque a sobriedade tenha lhe prejudicado a carreira. "Existem várias coisas pelas quais as mulheres são discriminadas no trabalho, mas esta não é uma delas."

Mesmo assim, as pesquisas apoiam a ideia de que os que não bebem têm dificuldades para subir na hierarquia corporativa. Vários estudos demonstraram que as pessoas que bebem ganham mais dinheiro do que as que não bebem, embora os que bebem demais ganhem menos do que os que bebem moderadamente.

Essa pressão de desempenho pode às vezes causar uma recaída nos profissionais em recuperação. É por esta razão que a Hazelden criou um grupo de apoio especialmente para advogados que estão tentando ficar sóbrios.

"A pressão para trazer negócios em escritórios de advocacia, a pressão de fazer acontecer, é maior a cada dia", disse Christin, ex-advogado e alcoólatra recuperado. "Quando temos que escolher entre sustentar a família e entre beber uma taça de vinho, pode ser difícil não se desviar do caminho", afirmou.
Abstinentes tendem a desenvolver estratégias para se socializar profissionalmente sem o álcool. Alguns pedem uma bebida e simplesmente não bebem; outros utilizam o humor para desviar atenção indesejada. "Digo que estou grávido", informou o corretor de Wall Street.

Lavin, que tirou uma licença das vendas de anúncios para escrever um livro, aconselha pedir a sua bebida em um copo que engane. "As pessoas ficam bem mais calmas se você estiver bebendo água mineral em um copo de uísque", disse.

E existe justiça. Joe McKinsey, um ex-executivo imobiliário que abriu uma clínica de recuperação para executivos em East Hampton, no estado de Nova York, após sua própria recuperação, disse que bastaram apenas alguns meses de sobriedade em seu antigo trabalho para passar de objeto de piadas a confidente dos que estavam em apuros.

"As pessoas acabam te cercando, perguntando: 'Acha que tenho um problema?'", afirmou. "Tornei-me o cara a quem recorrer se precisar ter uma conversa particular."


 http://economia.ig.com.br/empresas/2012-10-09/nos-negocios-nao-beber-pode-ter-um-custo-alto.html

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