terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Estresse psicológico - Policial Militar, a profissão de risco.

Homens estressados, cansados, mal pagos porque não recebem um salário condizente com sua função. Insatisfeitos com o presente e com pouca crença no futuro. Imobilizados pela hierarquia arcaica  magoados com a generalização de uma imagem corrupta e ineficiente na sociedade. Relegados a terceiro plano pelo o próprio Governo e por aqueles que conduzem a Organização Polical. Esse é o retrato dos policiais no Brasil.

Se trabalho fosse bom se chamaria lazer, mas há quem diga que quando se gosta do que faz, tudo fica mais prazeroso. Nem sempre. Algumas profissões são tão estressantes que, no fim do dia, você parece ter sido atingido por um caminhão. Esta profissão chama-se: Policial Militar.  Por que? Porque O Policial Militar lida com o lado mais obscuro do caráter do ser humano.

Na modernidade e a corrida do dia-a-dia, muito se fala sobre o nível de estresse enfrentado pela população mundial. Algumas profissões estão no pódio entre as que mais sofrem desta tensão nervosa e é definida como Doença do século 21 pela Organização das Nações Unidas (ONU), entre elas os médicos, professores e policiais. Sendo a profissão Policial, a mais estressante. 

O Policial Militar vive na pele situações perigosas durante o exercício da profissão. O atendimento à população, prisões, situações de homicídios, latrocínios, tiroteios e violências. 

A saúde do Policial Militar tem sido afetado drasticamente sendo as mais comuns a alteração e o controle físico e psicológico deste profissional, que figura como peça importante na segurança pública da sociedade em geral. O nível de estresse tem interferido até no convívio familiar e social do Policial Militar.

A depressão é o principal transtorno constatado nos atendimentos Alguns sintomas gerados são: O quadro de irritabilidade, tensão muscular, úlceras, dores de cabeça, insônia, perda de apetite, impaciência, perda de iniciativa, falta de concentração e de humor são outros sintomas e queda de cabelo, até distúrbios ou transtornos bipolares e ataques de pânico, ansiedade, alcoolismo e dependência química. 

Os policiais militares constituem a categoria de funcionários que sofre a mais draconiana legislação contra movimentos reivindicatórios: a Constituição Federal proíbe-lhes a greve, o Código Penal Militar prevê crimes militares e os regulamentos disciplinares permitem prisão disciplinar.

George Kelling e Mark Moore, pesquisadores de temas policiais da Universidade de Harvard, assinalam que o autoritarismo disciplinar, à moda militar arcaica e doentia, só consegue desmotivar as forças policiais e incrementar a militância sindical. O rigor militar é desmoralizado pela profundidade da insatisfação funcional.

          É comum os governantes investirem exclusivamente na infra-estrutura da segurança - prédios, carros, rádio-comunicação, armas - para tentar a redução e o controle da criminalidade, esquecendo quem vai utilizar esses equipamentos, são os policiais.

Os governos parecem considerar o policial como um funcionário qualquer, deixando de observar que nenhuma função pública ou privada reúne tantos fatores estressantes como o trabalho policial: exposição continuada às intempéries e à poluição ambiental, horários prolongados, salários indignos e miseráveis, encontros tensos com a população, contatos com as piores tragédias humanas,  e ainda vivendo em permanente risco de vida.

Os resultados podem ser vistos nos hospital da PM, nas policlinicas policiais: hipertensão, doenças digestivas, sobrecarga na psiquiatria com alcoolismo, envolvimento com drogas e outras descompensações funcionais, além de um número alarmante de suicídios e separações judiciais.

De todos esses fatores, o fator gatilho é o tratamento disciplinar desrespeitoso que agride severamente a auto-estima. O ser humano só aceita se sentir subordinado a alguém sob condições muito especiais; quando falta o respeito e o tratamento digno e sobra a pressão injusta, as reações virão: agressão deslocada a cidadãos, à família ou à própria pessoa, apatia, alcoolismo, suicídio ou eventualmente agressão aberta aos superiores ou ao governo.

          É cada vez mais evidente que a reivindicação salarial é apenas a ponta do iceberg, o argumento mais compreensível para o grupo e para a sociedade. Por baixo da fratura exposta da greve policial, arde silenciosa a desmotivação e o desinteresse com as necessidades da população.

Nenhum Estado brasileiro tem programa de valorização dos recursos humanos policiais, que cuide concretamente da auto-estima e de outras necessidades críticas: salários, atendimento médico-hospitalar, oportunidades de carreira, condições ambientais adequadas, programas de moradia, transporte e alimentação, prevenção dos riscos profissionais. Sem esse investimento o potencial de crise funcional na polícia continuará ardendo e erupções ocorrerão, queiram ou não as autoridades, permitam ou não as leis.

Além do mais percebemos que não existe uma preocupação mais intensa por parte do Governo e das Organizações Policiais com a saúde do Policial através do desenvolvimento de palestras, atendimentos psicológicos, seminários e ações sociais que contam que possam contar com a interação dos seus servidores, contribuindo assim para o equilíbrio emocional do quadro ocupacional.

            O Policial  Militar para o Governo, é como material descartável.

Mais de 70% dos Policias Militares, relatam que durante a sua história na Polícia Militar, sempre enfrentaram situações difíceis, o contato direto com os dois lados da história, vítimas e suspeitos, e além de outros serviços atribuídos ao policial, fez com que o nível de estresse o deixasse doente.

Nos quartéis, o assunto ainda é um tabu mais, mesmo com resistência, começa a ser relatado pelos os próprios policiais, e os resultados são preocupantes. Que a convivência com a violência crua tem reflexos sobre a saúde física e mental do Policial. 

Os sintomas se agravam a cada dia e não se ver uma preocupação, um estudo para  quantificar e qualificar este problema. Existem policiais que precisariam até mesmo de avaliação psiquiátrica porque já apresentam transtorno psicológico. Policiais com  níveis de  estresse altíssimos que a grande maioria  não tem ideia de que pode estar com depressão.

Um estudo feito pela psicóloga Vanessa Guimarães Borges. Foi constatado que as alterações foram relatadas por policiais ouvidos no trabalho e constatou-se que, 36% admitiram estar mais impacientes e 24% sentiram perda de iniciativa. Alteração na memória foi relatada por 21% dos participantes e dificuldade para relaxar por 18,4%. Apenas 27,2%, no entanto, passaram por algum tipo de tratamento psicológico, psiquiátrico ou neurológico.

Ela informou ainda que nós profissionais temos um contato direto e contínuo com situações de extrema violência, que são altamente estressantes. Inicialmente, ela pensou que fosse detectar algum quadro compatível com a Síndrome de Burnout (total esgotamento relacionado ao trabalho). “Não chegou a esse ponto, mas há um nível de estresse altíssimo”

A forma como o policial está sendo tratado, tanto pelo Governo e Chefes Militares tem gerado um desequilíbrio completo do policial, exigindo tratamentos especiais para essa vítima principalmente dentro das Organizações Militares. É lamentável que na corporação militar e as autoridades ainda usam a tortura psicológica, o medo e a opressão para impor respeito, quando se pode muito bem, com disciplina e hierarquia, impor respeito, sem medo.

Alguns policiais relataram o tipo de dano que causa o estresse em suas vidas. Vejam!

Pelo menos 6 entre 10 policiais lotados em uma zona de policiamento possuem algum problema de saúde, seja mental ou físico. A afirmação é de um policial militar que pediu para não ter a identidade revelada e que sofre de duas doenças consideradas comuns para quem trabalha com segurança pública: depressão e estresse. O policial é cabo da PM e está na corporação há mais de 24 anos. Ele já foi afastado três vezes, sendo que na última licença passou três anos na "junta médica", termo que eles usam para indicar quando iniciam o tratamento psicológico e conseguem licença médica.
 
"Eu tenho artrite, artrose, problemas cardíacos, estresse e depressão. São muitas doenças para uma pessoa só. O trabalho é difícil. Somos cobrados constantemente pela população e pelos superiores. Eu voltei há dois anos para o trabalho normal na corporação, mas é difícil. Eu sou muito agressivo", relata o policial.
 
Ele conta que apesar de ter retornado ao trabalho, ainda faz tratamento psiquiátrico e toma vários remédios. A assistência psiquiátrica é feita por meio do plano de saúde oferecido pelo estado e não é específico da PM. "Eu vou ao psiquiatra duas vezes por semana ou quando estou muito aflito. O plano cobre algumas consultas, mas às vezes preciso tirar do bolso, o que me deixa mais irritado. A situação é complicada. Se você for ao quartel, vai ver que muitos estão na mesma situação", acrescenta.
 
O policial foi afastado da corporação por três anos depois de ter um ataque de raiva seguido de depressão profunda. "São 24 anos de profissão. Um dia fui fazer uma ocorrência e fiquei muito nervoso, descontrolado. Saí da situação e fui para o psicólogo e assistente social da PM. Eles me afastaram e fui transferido para a ‘junta médica’, onde recebi o tratamento. Foram três anos assim. Mas de vez em quando eu fico de licença, porque a situação complica", afirma o oficial, que ainda tentou se matar duas vezes.
 
Cobrança desencadeia problemas mentais - Outro cabo da PM que pediu para não ser identificado revela que o estresse acaba atrapalhando a convivência familiar. Segundo ele, situações simples, como o fato de a esposa não ter feito café, podem fazer com ele tenha um ataque de raiva. "Eu não bato na minha mulher nem nos filhos, graças a Deus. Mas pego a garrafa de café e jogo no pátio de casa. Também já quebrei três guarda-roupas, uma televisão e um som. A geladeira lá de casa está com um amassado na porta. Eu fico nervoso por bobagem", acrescenta o cabo, que tem 18 anos de profissão.
 
Ele conta que ficou afastado da função de praça durante dois anos. Para ele, as doenças mentais ocorrem não só por causa dos problemas da ronda diária, mas pela cobrança que os superiores fazem. "Temos que intervir em muitas situações como ação de gangues, negociação de sequestros para liberação de reféns, perseguições, entre outras e tudo deve correr bem. Se algo der errado, somos cobrados e o estresse aumenta", relata o cabo da PM, lembrando um caso que ocorreu há quatro anos, quando foi suspenso por dez dias porque não compareceu a um jogo, onde iria garantir a segurança. "Eu estava na escala, mas tive problemas familiares. Estava há 14 anos na PM, nunca fui chamado atenção e era considerado um PM exemplar, fui até condecorado. Por causa de um jogo eu fui fiquei com minha ficha suja. Expliquei o que ocorreu, mas não foi suficiente. Fiquei muito irritado".
 
Há seis anos, 2.035 militares foram afastados de suas atividades - Para outro policial, também cabo da PM, falta investimento na saúde mental dos militares. "Eu trabalho seis vezes por semana, durante seis horas. Mas acho que o policial deveria ter folga quando se envolvesse em ocorrências mais tensas, que envolvem assalto com refém ou homicídios. Mas não é assim. Mesmo matando um bandido, nós ficamos com peso na consciência porque era um ser humano. Além disso, ainda temos que cuidar da própria vida. Somos constantemente ameaçados pelos bandidos que prendemos. Entretanto, nossa maior preocupação é com a família", avalia o oficial, que está na PM há 14 anos.
 
O vice-presidente da Associação de Policiais Militares, Bombeiros Militares e Familiares do Estado do Pará (Aspon), Sargento Soares, avalia que se mais investimentos fossem feitos na área social, nem todas as responsabilidades seriam da segurança pública. "A profissão é estressante porque lidamos com todo tipo de pessoas. Há 15 anos o policial era recebido no interior como se fosse muito importante. Ele era tudo para eles. Hoje em dia, quando o trabalho social do governo falha, a responsabilidade cai sobre a segurança pública, que no caso da ostensiva é do policial militar", afirma.
 
Além da afirmação do cabo, de que 6 em cada 10 policiais possuem algum problema físico ou psicológico, dados de atendimentos da Junta Regular de Saúde (JRS) da Polícia Militar do Pará apontam que a saúde dos agentes de segurança pública carece de mais cuidados. Registrados em 2006, os dados mostram que 2.035 policiais militares foram afastados de suas atividades. Naquele ano, o número representava 17% do efetivo policial, que era de aproximadamente 12 mil homens e mulheres. Do total de policiais afastados, 14% foram em decorrência de transtornos mentais (depressão, transtorno de pânico, alcoolismo, estresse pós-traumático) e outros foram por causa de doenças que também deixavam os profissionais em situações estressantes.
 
Processo de reforma é aberto após comprovação de incapacidade - A coronel Andrea Diogo enumera três tipos de demandas comuns na PM. A primeira é a espontânea, quando o próprio militar percebe sua necessidade, seus sintomas ou doenças e procura por atendimento. A segunda é o encaminhamento feito por profissionais de saúde em geral. A terceira é o encaminhamento feito pelo comandante das Unidades Militares.
 
"Mas, a demanda espontânea é a principal. O importante é lembrar que os militares acometidos de doenças que geram algum grau de incapacidade temporária, ou seja, que ficam impedidos em função da doença de exercerem sua capacidade laboral, são afastados e amparados pelo médico perito isolado ou pela Junta Regular de Saúde nos casos em que a necessidade de afastamento seja superior a 28 dias", afirma.
 
Ela acrescenta que para ser afastado das atividades no trabalho, o militar deverá ter o encaminhamento dos seus comandantes, com documentação administrativa e médica. "Eles são inspecionados na Junta Regular de Saúde e, se comprovada incapacidade definitiva, é aberto o processo de reforma", comenta a coronel da PM.
 
Risco são inerentes à rotina policial, destaca tenente-coronel - A Comissão do Corpo Militar de Saúde e o Centro Integrado de Psicologia e Assistência Social (Cipas), coordenados, respectivamente, pela coronel PM Andrea Diogo e pela tenente-coronel PM Jesiane Calderaro, apontam que são diversas as doenças que acometem os policiais. Existem as consideradas ocupacionais e as de natureza traumatológica, cardiológica, neurológica, psiquiátrica e crônico-degenerativa.
 
A tenente-coronel Jesiane Calderaro explica que a categoria de policiais constitui um segmento dentre os servidores públicos no qual o risco e o perigo são inerentes à rotina. "Alguns teóricos que estudam a Segurança Publica, tais como Amador (2002) e Minayo (2009), consideram ainda que a profissão policial militar, quando comparada com outras profissões da população brasileira, é a que se submete a mais elevada carga de risco e de estresse", afirma.
 
A tenente-coronel cita ainda o jornal do Conselho Federal de Psicologia, editado em 2007, que apresentou dados da Isma (Internacional Stress Management Association) que constatavam que os profissionais de segurança pública estão classificados entre os três grupos de profissionais que apresentam maior grau de estresse.
 
"As pesquisas da Isma ainda mostram que os operadores da segurança pública possuem algumas manifestações de sofrimento psíquico como resposta à sobrecarga do trabalho que são tipicamente relacionadas com a profissão: tensão, ansiedade, depressão, desgaste físico e emocional e uso abusivo de álcool. Produções científicas promovidas pelo Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde da Fiocruz que registram as condições de trabalho e qualidade de vida desse grupo de servidores apontam que a profissão pode ser responsável pelas mortes e pela saúde física e mental dos servidores. Então, existem várias sintomatologias que são decorrentes da profissão policial militar . 

                Policial Militar - A PROFISSÃO DE RISCO.

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