Falta de médicos, longa espera para conseguir atendimento. O cenário
se repete com frequência nas unidades públicas de saúde do Distrito
Federal, e para os pacientes, cada episódio semelhante alimenta uma
sensação de abandono.
Na tarde de ontem, duas mulheres ficaram no chão
do Pronto-Socorro do Hospital Regional do Gama (HRG), sem atendimento.
Outras duas meninas, atropeladas no Setor Leste do Gama e encaminhadas
para a unidade, também tiveram dificuldade no socorro.
Aproximadamente cem pessoas aguardavam atendimento na entrada da
emergência. Eram crianças, adultos e idosos, muitos encostados nas
paredes, ou sentados do lado de fora da unidade. A maioria aguardava
desde às 8h, cerca de dez horas de espera. No guichê de atendimento,
apenas um funcionário registrava as fichas.
Classificação
De acordo com o relato dos pacientes, o hospital só estava atendendo
casos classificados pelo acolhimento “mais simples” - identificados
pelas cores verde e azul na classificação de risco. Já os pacientes com
necessidade de atendimento imediato e urgente, com dor abdominal,
diarreia resistente, desmaio, a exemplo da auxiliar de serviços gerais
Maristela Nogueira Vieira, de 46 anos, ficavam esperando.
Maristela sofre de epilepsia, toma remédio controlado, mas passou mal
e desmaiou. Ficou no chão, sem atendimento médico, até acordar. Foi
ajudada por outros pacientes . “Passaram por cima de mim sem se
incomodar, como se fosse um bicho”, falou Maristela.
Uma das pessoas que a ajudou foi a dona de casa Iara Maria Silveira,
de 41 anos, que aguardava atendimento para o irmão, que teve um
Acidente Vascular Cerebral. “Duas pessoas ficaram caídas no chão e sem
ninguém para levantar. Estamos aqui pedindo pelo amor de Deus por
atendimento”, reclamou Iara, que chamou atenção para o comportamento do
guarda: “Ficou olhando o tempo todo sentado, e ainda rindo da nossa
cara”.
Desespero da família
As duas meninas atropeladas na tarde de ontem, e encaminhadas para o
Hospital Regional do Gama, não fizeram exames de raios X e tomografia
porque não havia médico especializado na unidade, afirmaram parentes
das vítimas. O acidente ocorreu entre as quadras 38 e 41 do Setor Leste
no Gama, por volta das 16h.
Quatro amigas, todas de 12 anos de idade, tentavam atravessar a
pista quando um micro-ônibus passava. Duas delas conseguiram atravessar,
e o veículo atingiu as outras duas. Uma das vítimas teve ferimentos na
cabeça, sem gravidade, mas a outra fraturou o fêmur e cortou a cabeça, e
segundo os familiares estava em estado grave. A menina ficou em choque
e não reconhecia os familiares. Ela foi levada ao Hospital de Base à
noite.
“Minha neta estava com muita dor na cabeça. Foi muito sério. Tem
horas que ela desfalece e está sangrando muito, mas não tem um médico
para fazer os exames que ela precisa”, contou Benedita das Graças Silva,
avó da menina.
Deficit de profissionais
Segundo a Assessoria de Comunicação do Hospital do Gama, o único
registro de desmaio foi da paciente Cláudia Silva Costa, que deu entrada
no hospital com tontura, mas teria sido medicada e mantida em
observação.
“Só temos dois médicos na clínica médica à tarde, para retorno e
fichas amarelas, e para emergências, no box. Temos deficit de
profissionais, e o médico atende por prioridade”, explicou a chefe da
Comunicação, Eliane Simeão. Ela acrescentou que o hospital não atende
por ordem de chegada e a classificação de risco é importante para
determinar as prioridades.
http://www.jornaldebrasilia.com.br/site/noticia.php?hospital-do-gama-esta-a-merce-do-descaso-com-a-populacao&id=440598
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