domingo, 17 de novembro de 2019

Precisamos falar para mais de 50% da população, diz líder do PT no Senado

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira passada (8), o PT ingressa em um novo capítulo de sua história, tentando agora se recuperar da derrota sofrida nas urnas nas eleições de 2018 para o presidente Jair Bolsonaro.

Ao programa de entrevistas da Folha de S.Paulo e do UOL, no estúdio compartilhado em Brasília, o líder do partido no Senado, Humberto Costa (PT-PE), reconhece que é necessário falar para além de sua bolha, em um esforço para recuperar a parcela do eleitorado perdida.
"Nosso discurso tem que se dirigir não somente para um terço que gosta e vota no PT, mas para mais de 50% da sociedade que já, inclusive, votou no PT", diz Costa.
De acordo com o senador, Lula elevou o tom nos primeiros discursos ao sair da prisão, mas deve buscar o diálogo com o país. Ele ainda defendeu uma aliança ampla da esquerda brasileira nas eleições municipais de 2020.
Reconquistando eleitorado
"Estamos sob ataque desde 2015, quando ganhamos a eleição. Já estávamos sob ataque, mas esse mais cerrado --que culminou com impeachment [de Dilma] e com a proibição de Lula ser candidato, com a prisão dele e a verdadeira satanização do partido-- nos obrigou a nos fecharmos em copas, darmos uma ordem unida à nossa tropa de resistir. Isso permitiu, inclusive, que o PT sobrevivesse e disputasse a eleição de 2018."
"Estamos ainda muito contaminados por esse discurso. Aos poucos, o partido vai saindo dessa posição e compreendendo que não podemos continuar falando só para aquele terço da população que é a nossa base social."
"Já temos praticamente um terço da sociedade que não está dando apoio ao governo Bolsonaro e uma parte desse um terço já esteve conosco em alguns momentos. Nosso discurso tem que se dirigir não somente para um terço que gosta e vota no PT, mas para mais de 50% da sociedade que já, inclusive, votou no PT."
"Temos que adequar nosso programa, nosso projeto, nossa linguagem. Acho que vamos conseguir construir um discurso para reconquistar parte importante da sociedade."
Lula livre
"Além de ser uma liderança de peso, Lula conversa e dialoga com amplos setores. O Lula que encontramos nesses primeiros momentos é alguém que estava há quase 600 dias preso injustamente, num processo com vícios gigantescos. Ele desabafou, nominou os responsáveis pelo que viveu."
"Ele vai manter um tom elevado no sentido do enfrentamento que temos que dar a Bolsonaro. Agora, eu acho que Lula vai procurar abrir um diálogo importante no Brasil."
Discurso radical
"Alguém no Brasil incitou mais a violência do que Bolsonaro? Defendeu torturadores, apregoou o assassinato do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, falou que se poderia matar 40 mil brasileiros, já propôs fechar o Congresso Nacional, já propôs fechar o Supremo."
"E Lula que é radical? Lula que está ameaçando a segurança nacional? Pelo amor de Deus."
Prisão em 2ª instância
"Não boto muita fé nisso. A Constituição é muito clara quando estabelece algumas cláusulas pétreas. As duas [PECs, propostas de emenda à Constituição que tramitam na Câmara e no Senado] procuram encontrar um atalho para negar a Constituição."
"Com certeza não vai haver acolhida por parte do STF. As pessoas que estão hoje no Parlamento e no governo interessadas nisso não é porque querem que as pessoas vão para a cadeia. É porque não querem que Lula esteja solto."
Hegemonia do PT
"O PT realmente já teve muitos momentos que poderia ter sido mais aberto ao entendimento. Um bom momento em que essa aprendizagem pode se manifestar será nas eleições do ano que vem."

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