sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Aos 46 anos, mulher descobre que foi criada pelo seu sequestrador

  • Ela foi sequestrada aos 2 anos de idade (Foto: Getty Images)Ela decidiu investigar a própria vida depois da morte do ‘pai’
  • Crime aconteceu quando ela tinha apenas dois anos de idade
Simone Lopes Garcia descobriu aos 46 anos que o homem que dizia ser seu pai era, na verdade, seu sequestrador. Hoje, ela trabalha como cuidadora na cidade de Cariacica (ES) e quer encontrar sua mãe verdadeira.
Simone começou a investigar o caso depois da morte do suposto pai, Pedro Antônio Garcia, em 2006. Ela tinha diversas dúvidas sobre a própria história de vida: sempre ouviu de Pedro que sua mãe havia morrido, mas nunca acreditou. Também queria saber se ele tinha antecedentes criminais, já que a agredia e demonstrava ser muito violento. As informações são da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo no Espírito Santo.

Ela começou procurando o atestado de óbito da mãe, mas não encontrou. Então, resolveu procurar pela ficha criminal de Pedro. Foi então que a madrasta contou que ele já havia morado em Tanabi, no interior de São Paulo.
 
"Liguei pra delegacia de lá e me disseram que tinha um crime ligado a ele que tinha gerado um processo, mas me disseram pra ligar pro Fórum. Uma pessoa desarquivou o processo a meu pedido. Acabei descobrindo que não era um processo de uma briga qualquer, por exemplo, era de sequestro, do meu sequestro", contou ao G1.
O processo no Fórum de Tanabi foi o que trouxe a verdade à tona. A cuidadora descobriu que Pedro, na verdade, era casado com uma prima do seu pai verdadeiro. Simone conseguiu ler o boletim de ocorrência registrado pela sua mãe, Neide Aparecida Pereira, quando ela desapareceu. Neide contou à Polícia Civil que foi buscar lenha nas proximidades da casa no dia 7 de abril de 1975, e quando retornou, Pedro e Simone haviam desaparecido. Na época, ela tinha apenas dois anos.
Boletim de ocorrência registrado pela mãe de Simone em 1975 (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Boletim de ocorrência registrado pela mãe de Simone em 1975 (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Em documento anexado ao boletim de ocorrência, a mãe de Simone detalhou o que aconteceu no dia (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Em documento anexado ao boletim de ocorrência, a mãe de Simone detalhou o que aconteceu no dia (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Pedro passou por cidades em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo enquanto fugia com a menina. Ele a apresentava como sua filha e dizia que a mãe dela havia morrido. Em 1977, registrou Simone com o próprio sobrenome.
 
"Tinha um conflito entre o meu pai e a família da mulher que eu acreditava que era a minha mãe, eles não se entendiam e eu sofria agressões em casa. A minha avó queria me pegar para criar, porque acreditava que eu era filha da filha dela, mas éramos afastadas. Ele ganhou a minha guarda na justiça e a ultima vez que essa minha avó me viu foi quando eu tinha 15 anos", relata.
Simone lembra que, além de ser agredida pelo suposto pai, ela foi abusada sexualmente por um filho adotivo de Pedro, 12 anos mais velho que ela:
 
"Ele abusou de mim dos quatro aos nove anos. Quando eu fiz nove anos, um amigo do meu pai foi lá em casa e perguntou se alguma filha poderia morar na casa dele, para ajudar a cuidar dos filhos dele, brincar, e eu disse que queria ir só para fugir daqueles abusos. Morei na casa dessa família até meus 14 anos e saí porque quase sofri um abuso lá também.”
Hoje, Simone procura sua verdadeira mãe com a ajuda de uma de suas filhas e de uma ONG. Elas sabem que Neide hoje tem 66 anos e não mora mais em Tanambi:
 
"No relato do Ministério Público que está no processo diz que minha mãe sofreu muito, que me procurou em muitas cidades. Ela era uma pessoa muito humilde, sem condições financeiras, então eu quero sim poder abraçar ela de novo.”

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