No território dominado pelo grupo que se autodenomina Estado Islâmico
(EI), ser gay é um crime punido com morte. E é uma morte violenta:
homossexuais são lançados do alto de prédios - e se sobrevivem, são
apedrejados.
O tema das agressões a homossexuais promovidas pelo EI voltou à tona
com o massacre ocorrido em uma boate gay em Orlando, o maior atentado a
tiros da história recente dos EUA. Cerca de 50 pessoas morreram.
O atirador, Omar Mateen, era americano de origem afegã e tinha um
histórico de homofobia - segundo seu pai, ele ficou "muito irritado"
recentemente ao ver um casal gay se beijando em Miami.
As autoridades acreditam que ele tenha buscado como alvo do ataque um
local frequentado por gays - mas isso ainda não foi comprovado.
Também investiga-se a relação de Mateen com o EI. Há relatos que ele teria jurado lealdade aos extremistas.
O EI declarou que um "combatente" do grupo havia feito o ataque em
Orlando, mas não especificou se estava diretamente envolvido na ação ou
se teria apenas inspirado o atirador.
Caso se confirme esta relação, ela irá se somar a um histórico de agressões do EI a homossexuais.
Aplaudidos
Diversos vídeos e fotos compartilhados por simpatizantes do grupo divulgam a punição que os extremistas reservam aos gays.
Aqueles que sobrevivem à queda do alto dos prédios são apedrejados em
praça pública, sob aplausos das multidões que acompanham o evento.
Apenas entre janeiro e julho de 2015, o EI diz ter matado 23 gays em
áreas controladas pelo grupo na Síria e no Iraque. Mas ativistas dizem
que o número pode ser mais alto.
No ano passado, o estudante de medicina Taim (nome fictício), de 24
anos, contou à BBC como escapou desse destino numa fuga do Iraque ao
Líbano.
"Na nossa sociedade (iraquiana), ser gay é igual a uma sentença de
morte. Quando o EI mata gays, muitos ficam felizes porque pensam que
somos doentes."
Ele foi ameaçado pelo Estado Islâmico e depois pela própria família.
Religioso, o pai disse que o entregaria ao grupo se ele realmente fosse
homossexual.
"O Islã se opõe à homossexualidade. Meu pai me fez estudar a sharia
(lei islâmica) por seis anos porque queria que fosse religioso como ele.
Há um hadith (narrativas e pregações atribuídas ao profeta Maomé) que
recomenda que homens gays sejam jogados de desfiladeiros, e depois que
um juiz ou um califa decida se devem ser queimados ou apedrejados até a
morte", disse Taim na entrevista.
Mas, segundo o pesquisador do Islã Usama Hasan, da Fundação Quilliam,
há controvérsias sobre se Maomé realmente pregava contra gays.
Ele afirma que há muitos hadiths atribuídos ao profeta Maomé e seus
discípulos sobre o tema da punição a homossexuais. "Contudo, todos são
controversos e nunca houve consenso sobre seu conteúdo, principalmente
porque eles parecem contradizer o Alcorão, 4:15-16."
Ele acrescenta que alguns estudiosos afirmam que Maomé não poderia ter
dado nenhuma ordem do tipo porque nunca teria tido conhecimento de
nenhum episódio confirmado de homossexualidade.
Homofobia institucionalizada
Não é apenas o EI, porém, que restringe direitos de grupos homossexuais.
Segundo um levantamento da associação Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and
Intersex Association, em 73 países é crime ser homossexual e, em 13
países - ou partes deles -, a punição é a pena de morte (em alguns,
porém, a pena não costuma ser implementada).
No Iraque, os homossexuais passaram a ser mais perseguidos após a queda
de Saddam Hussein. Há muitas mortes causadas pelos próprios familiares -
as chamadas "mortes pela honra" - , ou pela ação de milícias. Mas a
perseguição também parece ocorrer a mando de forças de segurança
oficiais.
Uma reportagem da BBC de 2012 mostrou que, durante o governo de Saddam
(1979-2003), homossexuais desfrutaram de algum grau de liberdade e
segurança e, após a invasão americana, grupos liberais esperavam que
essa liberdade aumentasse.
Mas forças conservadoras islâmicas que chegaram ao poder se mostraram
resistentes a aceitar valores supostamente ocidentais, incluindo a
homossexualidade.
Em outros países islâmicos, porém, o grau de perseguição é variado. No
Líbano, o grupo radical Hezbollah é razoavelmente tolerante à
homossexualidade.
No Irã, onde a prática homossexual é ilegal e comumente punida, a cena "underground" gay também é tolerada.
Até na ultraconservadora Arábia Saudita a perseguição não parece chegar nos níveis do Iraque.
Gays são lançados de prédios em território dominado pelo EI
http://noticias.terra.com.br/mundo/a-brutal-perseguicao-do-estado-islamico-aos-gays,9af7f5188c99c424bed92320a227d5f6js246i3i.html
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