O processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff fez com que
o PT se "reencontrasse com as ruas" e procurasse mais uma vez suas
origens, afirmou o presidente do partido, Rui Falcão, em entrevista à
Agência Efe.
Após o afastamento temporário de Dilma por 180 dias na última semana, o
PT voltou à oposição após 13 anos no governo e fez um "exame
autocrítico", segundo Falcão. "Fizemos muitos avanços, apesar disso
tivemos muitas insuficiências. Algumas delas estão na origem da nossa
queda", disse.
Agora, afastado do poder, o partido encontrou um "fato positivo" em
todo o processo do impeachment, classificado como "golpe" por Falcão,
rumo às eleições municipais de outubro.
"Esse processo de impeachment, paradoxalmente, pode nos beneficiar. Se é
possível achar um fato positivo nesse processo de golpe é o PT ter se
reencontrado com as ruas, com os movimentos sociais, com o conjunto da
esquerda e, principalmente, com todos aqueles que querem aprofundar a
democracia no Brasil", disse Falcão.
Com o próximo pleito no horizonte, o presidente do PT não descarta que o
partido realize pactos pontuais com o PMDB, do presidente interino
Michel Temer, e que apoiou a abertura do processo de impeachment de
Dilma no Congresso.
Falcão, porém, explicou que nenhum deputado ou senador que tenha votado
ou apoiado o processo que suspendeu Dilma terá o respaldo do partido.
Isso inclui não somente parlamentares do PMDB, mas também de outras
legendas que compuseram a base aliada da presidente.
"A presidenta está sendo afastada por um golpe constitucional. Ela não
cometeu nenhum crime e, portanto, o governo que assume é usurpador,
ilegítimo e não reconhecido por nós", criticou.
O PT chegará às eleições municipais com o peso da Operação Lava Jato,
na qual foram condenados importantes nomes do partido, como o
ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que, segundo Falcão, foi "condenado sem
provas". Ele ressaltou que o PT não foi financiado com recursos obtidos
ilegalmente da Petrobras e considerou "uma injustiça dizer que quem
mais abriu caminho para o combate à corrupção é o partido mais corrupto
do país".
"É inimaginável pensar que os outros são inteligentes e só pegam
doações do caixa limpo, e o PT vai buscar doações sujas. É como se os
outros fossem à sacristia e nos ao prostíbulo", destacou.
Para Falcão, há uma "manipulação" na operação Lava Jato para
criminalizar o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A
exigência para que as delações sejam aceitas é que se fale o nome do
Lula", afirmou o presidente do partido.
"Eu acho que toda a campanha que se faz para tentar acuá-lo, para
atingir sua família, tem um único objetivo: criminalizá-lo para impedir
sua eventual candidatura em 2018", indicou Falcão.
"E ele nem disse que é candidato. Então nós não vamos pensar em nenhuma
alternativa, porque consideramos que o melhor programa, a melhor
liderança, aquele mais se identifica com a população e tem o melhor
discurso é o presidente Lula", completou o presidente do PT.
Falcão lamentou o fato de Dilma ter adotado políticas diferentes das
anunciadas na campanha após ter sido reeleita, fator que considerou como
um dos motivos da queda do governo.
"Houve vários debates com ela alertando de que nós tínhamos ganhado a
eleição com um programa, uma eleição muito polarizada, e que começamos a
cumprir um programa que parecia ser a do adversário", criticou o
presidente do PT.
Agora, outra vez na oposição, Falcão apontou os caminhos que o PT tem
que seguir para resgatar suas origens. "Devemos de recuperar as pessoas
que se desencantaram com a política, com os partidos políticos e com a
esquerda, e que voltaram agora a se manifestar, embora seja de maneira
limitada", afirmou.
http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/falcao-diz-que-impeachment-de-dilma-fez-pt-se-reecontrar-com-as-ruas,2e2354fe958369f423604f8d599dcb61odap1efc.html
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