Menos
de sete quilômetros separam o Palácio do Planalto do hotel onde o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito articulações políticas
desde que teve a nomeação suspensa para a Casa Civil. Alvo da Operação
Lava Jato e impedido de pisar no Planalto, Lula recebeu ali, nos últimos
dias, ministros e dirigentes de partidos, além de deputados e senadores
da fraturada base de sustentação do governo no Congresso. "Nunca pensei
que a situação estivesse tão crítica", disse ele, numa referência às
"demandas represadas" dos aliados. "Estamos comendo o pão que o diabo
amassou".
A suíte do hotel onde Lula costuma se hospedar, em
Brasília, foi transformada em uma espécie de quartel-general do "Fica
Dilma". O hotel é o mesmo onde morava o senador Delcídio Amaral
(ex-PT-MS), que ali foi preso pela PF, acusado de atrapalhar a Lava
Jato.
Vez por outra Lula sai do gabinete de crise improvisado e se
reúne com interlocutores em local reservado. Na quarta-feira, por
exemplo, ele foi ao apartamento do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e
acertou a permanência de Helder Barbalho na Secretaria dos Portos, mesmo
após o PMDB ter anunciado o divórcio do governo. Helder é filho de
Jader.
Na quinta, antes de voltar para São Paulo, acometido por
forte gripe, o ex-presidente se encontrou com o senador Fernando Bezerra
Coelho (PSB-PE), que foi ministro da Integração no governo Dilma
Rousseff. Partido do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto
em 2014, o PSB passou para a oposição, sob o argumento de que Dilma
"perdeu a credibilidade e a capacidade de governar".
Ainda
assim, Lula tenta "pescar" votos avulsos naquela seara. Pela sua
contabilidade, o PSB poderia contribuir com "uns seis ou sete votos" de
um total de 31. Já o PMDB, mesmo rachado, teria "potencial" para dar a
Dilma cerca de 35 dos 68 votos da bancada.
Se depender
de Lula, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), deve sair da
equipe. Dilma resiste porque Kátia é sua amiga, mas ele avalia que a
ministra não tem como conseguir apoio para a presidente. Numa das
reuniões, petistas lembraram que o filho de Kátia, o deputado Irajá
Abreu (PSD-TO), já votou contra o Planalto.
Novos tempos
Nas
conversas para convencer aliados, Lula diz que, vencido o impeachment,
Dilma está disposta a "refundar" o governo e a mudar a cara da
administração. Foi dele a ideia de dialogar com todas as forças
políticas, incluindo a oposição, liderada pelo PSDB, para tentar um
"pacto nacional".
Na avaliação de Lula, porém, Dilma precisa
lançar com urgência medidas para pôr "dinheiro na mão do pobre". Ele
chegou a se irritar com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para quem
essas iniciativas já estão em andamento. "Então vocês precisam se
comunicar melhor porque, se eu não sei, ninguém sabe", retrucou Lula.
Em
outra frente, emissários do ex-presidente também procuraram, nos
últimos dias, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e
pediram ajuda para enfrentar a crise. O governo diz estar preocupado com
o acirramento dos ânimos e o clima de intolerância que tomou conta do
País.
"Não podemos deixar o Brasil se fragmentar em nome de uma
disputa política. Precisamos conviver com a diversidade de forma
pacífica", afirmou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.
Durante
muitos dias, Lula também tentou um acordo com o vice-presidente Michel
Temer, antes do encontro do PMDB que selou o rompimento com o governo.
Levou um chá de cadeira e, quando finalmente conseguiu falar com Temer,
fracassou na missão. "A presidente nunca quis me ouvir", disse-lhe o
vice.
No 4º andar do Planalto, um acima de Dilma, o gabinete da
Casa Civil - até 16 de março ocupado pelo ministro Jaques Wagner - foi
esvaziado para receber Lula. Até agora, porém, está fechado. Virou
"ponto turístico" de servidores, que querem saber quando o ex-presidente
vai ocupá-lo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2016-04-03/lula-usa-hotel-em-brasilia-como-qg-da-crise.html
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