O "isolado reino" da Coreia do Norte é um caldeirão de contradições.
O
país é vizinho de várias das economias mais dinâmicas do mundo,
incluindo a próspera Coreia do Sul, mas sua população sofre com toda
sorte de privações.
Em meados do século 20, a Coreia do
Norte era um dos países mais industrializados da Ásia. Mas, hoje, é
visto como um desastre econômico.
E, enquanto as condições de vida
de seus cidadãos são precárias, o governo anuncia programas de
desenvolvimento de sofisticados sistemas de armamento, inclusive de
foguetes de longo alcance e bombas atômicas.
A Coreia do Norte
reforça que o recente lançamento de um foguete é parte de um programa de
exploração espacial, enquanto as potências ocidentais alegam se tratar
de uma tentativa de desenvolver mísseis capazes de atingir alvos
distantes.
De qualquer forma, são poucas as nações da Terra capazes de conceber tecnologias avançadas e tão caras.
Mas como a Coreia do Norte financia essas atividades?
Exportação e investimento
Em
primeiro lugar, são necessárias divisas internacionais. Muitos estão de
acordo que a Coreia do Norte fez importantes aquisições de tecnologia
no exterior, em certos casos com fins militares.
E, apesar de ser
um dos últimos países do mundo a manter uma economia centralmente
planificada, ao modo stalinista, Pyongyang ainda consegue desenvolver um
setor exportador.
Em sua página na internet, a CIA, a agência de
inteligência americana, estima o tamanho da economia norte-coreana em
torno de US$ 40 bilhões (R$ 160 bilhões), similar ao PIB de Honduras ou
do Estado brasileiro de Goiás.
As exportações da Coreia do Norte somam, por outro lado,
US$ 3,834 bilhões (R$ 15 bilhões), o equivalente às vendas externas de
Moçambique ou das do minúsculo Estado europeu de San Marino, encravado
na Itália.
Entre os produtos destinados ao exterior,
estão minério e itens manufaturados, entre eles armamentos e artigos
têxteis, além de produtos agrícolas e pesqueiros.
Mas como um país
com uma economia de tamanho equiparável à de alguns dos países mais
pobres da América Latina pode pagar por um programa nuclear?
Passando fome
A
resposta parece estar na natureza autoritária e centralizada do
governo, que destina os escassos recursos do país a fins militares, nem
que para isso seus cidadãos passem fome.
O PIB per capita da
Coreia do Norte, ajustado pelo seu poder de compra, chega a US$ 1,8 mil
(R$ 7,2 mil), fazendo com que o país asiático ocupe a 208ª posição entre
230 nações, nível comparável ao de Ruanda, na África, ou do Haiti, na
América Central.
Na década de 1990, o país enfrentou a ameaça de
uma escassez generalizada de produtos alimentícios básicos, e sua
economia levou um longo tempo para recuperar-se do desastre.
Foi
um processo tão traumático que, até 2009, a Coreia do Norte recebeu uma
substancial ajuda alimentar da comunidade internacional. Hoje,
acredita-se que sua produção agrícola interna tenha melhorado.
Os clientes
E quem são os clientes dos produtos norte-coreanos?
O
aliado político mais importante do país é a China, que compra 54% de
sua produção. Em um inesperado segundo lugar, vem a Argélia, que é o
destino de 30% das vendas do país. E, para a Coreia do Sul, vão 16% de
suas exportações.
Apesar da Coreia do Norte e a nação vizinha
viverem um dos conflitos militares mais longos de que se tem notícia na
história, em curso desde o fim da 2ª Guerra Mundial, os dois países vêm
fortalecendo os vínculos econômicos.
Alguns investimentos
sul-coreanos se concentram em determinadas partes do pais, oferecendo ao
governo norte-coreano outra valiosa fonte de divisas.
O núcleo
mais importante deles é o complexo industrial de Kaesong, que está
diante de um futuro incerto depois de o governo de Seul anunciar a
suspensão de sua participação na iniciativa, devido às crescentes
tensões políticas entre ambas as nações por conta dos testes nucleares
realizados pela Coreia do Norte.
A Coreia do Sul diz não querer
que os recursos gerados pela zona industrial sejam usados no programa
militar norte-coreano. E as sanções econômicas impostas por vários
países, inclusive as mais recentes aplicadas pelo Japão, devem continuar
debilitando a economia norte-coreana.
No entanto, enquanto o
governo do líder norte-coreano, Kim Jong-un, seguir disposto a impôr
sacrifícios substanciais a seus habitantes, pode-se esperar que a Coreia
do Norte continue a desenvolver seu poderio militar muito além do que
seria possível esperar de uma nação com sua frágil condição econômica.
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2016-02-14/como-a-coreia-do-norte-paga-por-seu-sofisticado-programa-militar.html
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