A cidade de Airão Velho, no Estado do Amazonas,teve seu auge há mais de
100 anos e sua decadência econômica traduziu-se na partida dos
moradores. Hoje, um único homem vive ali e tornou-se seu guardião.
Shigeru Nakayama tem 62 anos e chegou ao Brasil há mais de 50 anos.
Nasceu em Fukuoka, no sul do Japão, e mudou-se durante o grande fluxo
migratório de japoneses no começo dos anos 1960.
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O Japão, à época, passava por dificuldades econômicas e o Brasil
precisava de mão de obra na agricultura. Sua família, então, assentou-se
no Pará.
No início dos anos 70, ele e um grupo de amigos partiram para a
Amazônia em busca de trabalho, e estabeleceram-se às margens do Rio
Negro.
Chegou a Airão Velho em 2001, quando a cidade já estava abandonada
havia quase 70 anos. O vilarejo teve seu auge econômico durante o
período do Ciclo da Borracha, quando a região era movida pela exploração
do látex.
Com o declínio da produção, aos poucos, quem morava ali se mudou para outras regiões.
Airão Velho, a 180 km de Manaus, também foi berço da colonização
portuguesa, como pode ser visto no único cemitério do local, onde estão
enterradas gerações inteiras.
A família lusitana Bizerra "mandava" na cidade e um de seus últimos
membros viveu ali até meados do século 20. Foi um deles que pediu,
pessoalmente, a Nakayama que cuidasse dali. E ele aceitou.
"Meu sonho desde criança era viver na floresta amazônica", diz ele, em seu carregado sotaque japonês.
'Se eu sair, a história morre'
Nakayama diz ter tido ajuda de dois amigos para avançar sobre o mato que havia tomado Airão Velho.
"Tudo estava completamente abandonado havia mais de 40 anos", diz.
Hoje, recebe e guia turistas, a maioria estrangeiros, mas recusa-se a
cobrar entrada. Em troca, recebe comida e doações dos visitantes.
Em sua pequena casa de madeira, de apenas três cômodos e chão de terra,
montou um pequeno museu onde reuniu objetos históricos recolhidos nas
imediações.
Dorme em uma modesta cama de solteiro, gasta pelo tempo. Planta o que
come - longe dali, diz, já que a área é de preservação ambiental. E,
todos os dias, cuida de "sua" cidade, andando sempre com um facão - ou
terçado, como dizem amazonenses - como forma de proteção.
A tecnologia quase não existe por ali, a não ser pelo pequeno televisor
movido por um gerador de energia e um antigo rádio de pilhas.
"Airão é um patrimônio histórico. Plantação, roçar, derrubar floresta, é
completamente proibido. Do jeito que está, tem que deixar assim. É área
de patrimônio".
E diz temer que um dia o local seja esquecido e novamente abandonado:
"Se eu sair, a história daqui morre. Todo mundo sabe disso".
http://noticias.terra.com.br/brasil/japones-eremita-toma-conta-de-cidade-abandonada-na-selva-amazonica,1d16e0c21940ad94983c2c9ac7584f22aa0ugxbn.html
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