Manifestação foi menor do que a do dia 15 de março, mas semelhante à de abril
O Datafolha calculou que 135 mil manifestantes
estiveram no domingo na Avenida Paulista – mais que no dia 12 de abril
(100 mil), mas menos do que no dia 15 de março (210 mil)
Apesar da queda mais
acentuada da popularidade da presidente Dilma Rousseff nos últimos
meses, os protestos desde domingo não cresceram significativamente em
tamanho – em geral, foram menores que os de 15 de março e semelhantes ou
pouco maiores que os de 12 de abril.
Ainda assim, mobilizaram pela terceira vez no ano centenas de milhares de pessoas em cidades de todo país.
Em São Paulo, o instituto Datafolha calculou que 135 mil manifestantes estiveram no domingo na Avenida Paulista – mais que no dia 12 de abril (100 mil), mas menos do que no dia 15 de março (210 mil).
Na
avaliação de analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil, alguns
acontecimentos da última semana somados ao não crescimento significativo
dos protestos contribuem para aliviar um pouco a situação de estresse
do governo federal.
No entanto, eles notam que a conjuntura
continua muito complicada e incerta para Dilma e que sua evolução
dependerá dos imprevisíveis desdobramentos da Operação Lava Jato e da
economia.
Lavareda
destaca alguns fatores que contribuíram para um noticiário mais
positivo para Dilma na última semana. Dois processos contra a
presidente, que podem resultar em um pedido de impeachment ou na sua
cassação, estão ainda sem data de julgamento.
O
Tribunal de Contas da União (TCU) resolveu dar mais tempo para o
governo se defender sobre as acusações de "pedaladas fiscais". Já o
julgamento de uma ação sobre supostas irregularidades nas contas
eleitorais de Dilma pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também foi
adiado após o ministro Luiz Fuz pedir vista do processo.
Na
esfera política, houve uma reaproximação entre o governo petista e o
presidente do Senado, Renan Calheiros, com o lançamento de um apanhado
de propostas chamado de Agenda Brasil – que, embora contenha pontos
polêmicos, serviu para criar um contraponto à agenda negativa do
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
BBC
Manifestação foi menor do que a do dia 15 de março, mas semelhante à que ocorreu em 12 de abril
Além
disso, movimentos sociais como CUT e trabalhadores rurais estiveram com a
presidente ao longo da semana passada e manifestaram apoio ao governo.
"O conjunto dessas coisas terminou por arrefecer o ânimo de ir para a rua, porque é como se a sociedade visse diminuída as chances de conseguir o impeachment, que é o que eles querem."
"Não
vejo grandes alterações (políticas) após os protestos de hoje. É óbvio
que os protestos fossem ainda maiores isso iria abalar bastante essa
agenda positiva criado pelo PMDB com a qual o governo se abraçou. Sua
implementação será difícil e poderá ter efeitos negativos e positivos
(para o governo)", acrescentou.
O cientista político Paulo Baía,
da UFRJ, considera que, mesmo que menores que em março, os protestos
foram expressivos, pois continuaram mobilizando um número grande de
pessoas, em muitas cidades.
"Vale destacar que as pesquisas de
opinião mostram uma avaliação muito baixa da presidente. Dessa forma, os
protestos acabam sendo a ressonância de algo maior", destacou.
Na sua avaliação, o fato de as pesquisas recentes mostrarem um amplo apoio ao impeachment (66%, segundo levantamento do Instituto Datafolha
do início do mês) mantém a presidente em situação delicada. Por outro
lado, contribui no sentido contrário o fato do empresariado estar dando
sinais de que não gosta dessa possibilidade, devido à instabilidade que
acarretaria.
"Os empresários estão indicando que querem um acordo pela governabilidade, que pacifique a economia", afirma.
BBC
Aloysio Nunes defende impeachment, mas diz que falta "unidade política" para aprovar a medida
Oportunidade? Presente
na manifestação que ocorreu de manhã em Brasília, o senador Aloysio
Nunes (PSDB-SP) reconheceu a dificuldade de conseguir que seja votado e
aprovado o impeachment da presidente pelo Congresso Nacional. Ele é um
dos que defendem abertamente a medida dentro do PSDB, ao lado do senador
Aécio Neves (PSDB-MG).
"Acho que existem hoje fatos com base
jurídica suficientes para isso, as pedaladas fiscais, os indícios cada
vez maiores de utilização de dinheiro sujo na campanha eleitoral. O
problema é a solução política. Não há unidade política entre aqueles que
sustentam o governo e que poderiam promover uma alternativa, que é o
caso do PMDB", afirmou.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) disse à
BBC Brasil que acha que "a história está dando mais uma oportunidade
para a presidenta Dilma" e que "ela tem que aproveitar isso".
Para
o petista, a população está compreendendo que não há base para a
derrubada da presidente. Ainda assim, ressaltou que o movimento deste
domingo foi "forte" e "demonstra uma insatisfação real com o governo".
"As
pessoas já começam a enxergar ou apoiar a ideia de que não é possível
derrubar a presidente da República, não há elementos para um processo de
impeachment. E por essa razão também as pessoas vão se mobilizando
menos em torno desse tema", disse.
"O governo ganhou um pequeno
fôlego para trabalhar bastante e tentar reverter esse quadro de queda de
popularidade", ressaltou, defendo que o Planalto reforce o diálogo com o
Congresso e os movimentos sociais.
Políticos O protesto de
ontem foi marcado pela presença de políticos. Em São Paulo, o senador
José Serra (PSDB-SP) circulou, mas não chegou a discursar. Em Belo
Horizonte, onde seis mil protestaram de acordo com a Polícia Militar (um
quarto dos manifestantes de março), o senador Aécio Neves discursou de
um dos carros de som.
"O Brasil despertou. Temos um Brasil onde as
pessoas lutam por seus direitos e não aceitam mais tanta impunidade,
tanta corrupção, tanta mentira e tanta incompetência. Esse é o novo
Brasil e é o povo na rua que vai tirar o Brasil da crise", disse.
Para
Baía, da UFRJ, o fato de o PSDB ter convocado a população para
comparecer ao protesto por meio de inserções na televisão pode ter
afastado algumas pessoas das manifestações de domingo. Ele destaca que
há um forte sentimento contra partidos e políticos entre os
manifestantes.
Já Lavareda acredita que as convocações foram discretas e não tiveram efeito nem positivo nem negativo na decisão das pessoas.
"Os
políticos comparecem menos porque acham que vão se beneficiar com isso e
mais pelo temor de serem cobrados por sua ausência."
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