sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Mais armas nas mãos da população é tragédia anunciada

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Depois da redução da maioridade penal, é provável que desponte, até o fim do ano, a proposta de revisão do Estatuto do Desarmamento na Câmara Federal, a ser avançada pela chamada bancada da bala e que pretende, entre outros itens, flexibilizar a restrição ao porte de armas no Brasil. Vai significar, se aprovada a medida, mais armas nas mãos de civis, nos aproximando de certa forma do modelo vigente nos Estados Unidos onde o porte de armas é facilitado e mesmo estimulado, via a propaganda de armamentos e a atuação de um forte lobby da indústria de armas.

Mas isto funcionaria no Brasil? De tempos em tempos retomo a questão no blog. 
Creio que a pergunta foi, em parte, respondida recentemente pela divulgação do Mapa da Violência 2015 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Para resumir. Segundo o relatório da UNESCO, o Estatuto do Desarmamento, de 2003, aliado a campanhas pela entrega de armas, conseguiu deter, ao menos por algum período, a tendência de alta contínua de homicídios por armas de fogo registrada no Brasil desde 1980.

O cálculo: entre 1993 e 2003 o número de homicídios por armas de fogo no país cresceu a um ritmo de 7,8% ao ano. Este ritmo desacelerou de 2004 em diante , quando entrou em vigor o Estatuto e campanhas de desarmamento tiraram de circulação 500 mil armas em todo o país. Segundo a UNESCO, como resultado disso, entre 2004 e 2012 (últimos dados disponíveis), o país deixou de ter 160 mil homicídios por armas de fogo – a diferença entre o que estava “previsto” pela curva estatística e o que de fato foi registrado ao longo de 9 anos.

Estudos como o Mapa da Violência ajudam a informar mais um debate que no Brasil envolve o drama de milhares de pessoas, o cotidiano de violência da população e também muitos interesses corporativos.

Particularmente acho que mais armas nas mãos de civis não será solução, pelo contrário. Com nosso machismo, intolerância, alcoolismo, com nossas relações pessoais intermediadas por opressões de diferentes matizes, com a nossa ambígua cordialidade a extravasar paixão e fúria da esfera individual para a pública, com nossa cultura de nos engalfinharmos em público por questões risíveis, por tudo isso me parece que mais armas nas mãos de civis trarão apenas mais desgraça. 
 
 https://br.noticias.yahoo.com/blogs/rogerio-jordao/mais-armas-nas-m%C3%A3os-da-popula%C3%A7%C3%A3o-%C3%A9-trag%C3%A9dia-112856034.html

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