segunda-feira, 20 de abril de 2015

Corpos nus e adornados por uma máscara vão fazer parte do espetáculo Batucada

Antes de chegar a São Luís Batucada circulou em Bruxelas, Teresina, Frankfurt e outros lugares


Pouco mais de quarenta pessoas despidas utilizando apenas um acessório: uma máscara. E elas saem batucando panelas, penicos, latas e frigideiras em movimentos rápidos, ritmados, por vezes descompassados. Uma festa, um protesto? Pouco importa a denominação se o resultado for atingido. O despir-se das vestes dá lugar ao que o corpo realmente significa para cada um. A performance é Batucada, do coreógrafo Marcelo Evelin e Demolition Inc., que se “apresenta” em São Luís, amanhã (20), na Casa do Maranhão (Praia Grande), às 19h, ao mesmo tempo fazendo parte do lançamento das atividades do Festival Conexão Dança 2015.
 


Antes de chegar a São Luís Batucada circulou em Bruxelas, Teresina, Frankfurt, novamente Piauí, onde lançou o Galpão do Cibrazém como um novo espaço cultural para a cidade União; e Porto das Barcas, em Parnaíba (PI). Marcelo define Batucada como um acontecimento. O ritmo transita entre a festa e o protesto num ritual que expõe a relação conflitante entre uma coletividade quase tribal e as subjetividades dos indivíduos. O batucar em objetos cotidianos contagia, desmancha fronteiras entre espectador e artista, e provoca reflexões sobre a pulsão do homem na sociedade contemporânea.

Os corpos mascarados batucam panelas, frigideiras e latas numa espécie de desfile apoteótico e revolucionário. O grupo é diverso, bem democrático, reunindo artistas e “não artistas”, da dança, do teatro, da música, arquitetura, moda, performance, da vida; de diferentes nacionalidades, profissões, classes sociais, idades, sexos, raças, crenças e ideais.

“Não há um ideal de elenco porque acontece em cada lugar com pessoas diferentes. Esse ‘acontecimento’ foi sugerido para encerrar um evento na Bélgica com a proposta de utilizar a linguagem do corpo. Pedi 20 brasileiros que não teriam facilidade de sair do Brasil, então foi um ato político em acontecimento. Na Bélgica juntei mais 30 europeus e africanos e trabalhamos em cima de uma batucada que não sai que por alguma razão está suspensa, enganchada”, pontua Marcelo Evelin.

A ideia foi suscitada depois das manifestações que ocorreram no Brasil em 2013 espontaneamente, sem direcionamento de nenhuma liderança, o que para Marcelo, foi mais impressionante e que chamou a atenção. “Diferente das manifestações goumert que aconteceram em março deste ano e que para mim, foram ridículas” opina.

Em São Luís se apresentarão mais de 40 pessoas de diversos lugares como Piauí, Maranhão e de outros estados do Brasil. Estes performers cidadãos - selecionados a partir de uma convocatória pública - se misturam e se transformam um no outro, e na cadência de uma batucada os corpos tornam-se instrumentos para as estruturas rítmicas e impulsionam uma coreografia da qual o público também faz parte.

A relação com o público é um aspecto sempre tratado pelo coreógrafo Marcelo Evelin em suas obras, que buscam desmanchar fronteiras entre espectador e artista, vida e arte, propondo reflexões acerca de uma arte feita do presente e que fale do e ao homem contemporâneo.
“No Batucada a nudez chega muito perto e isso é muito inconsciente. Para mim o que interessa é o cheiro da carne. O público presente em União (PI) era de 350 pessoas e elas riam, falavam o tempo todo, fotografavam... eu nunca tinha visto isso. Depois fiquei pensando que essa era a maneira deles processarem o que estava se passando. Achei que foi muito forte a participação do público. Uma presença coerente. Eu acho muito lindo. Cada vez mais eu penso no espectador que está ali para experimentar, para ver. Essa é uma das minhas grandes preocupações. A resposta do público”, avalia.

O espetáculo foi concebido para o Kunsten Festival des Arts, um dos principais festivais de arte performática da Europa, realizado em Bruxelas (Bélgica), onde aconteceu sua estreia internacional em maio de 2014. A estreia nacional aconteceu no Galpão do Dirceu, em Teresina, em janeiro deste ano. Com Batucada, o coreógrafo se debruçou sobre a tarefa de empregar ideias e dinâmicas de convívio humano, e se concentrou em como o corpo se torna um meio de expressão no espaço público. Afinal, nesse projeto os principais instrumentos utilizados na batucada são o corpo e as singularidades de cada participante.

Conexão Dança 2015

Na oportunidade a performance Batucada lança também as convocatórias para o Festival Conexão Dança 2015, que acontece no período de 1º a 8 de junho. O projeto é um conjunto de ações direcionadas para artistas da dança, performance, artes visuais, teatro entre outras linguagens, promovendo um espaço de circulação e encontro, em sua diversidade de linguagens, perspectivas de criação e pesquisa no universo artístico contemporâneo tendo o corpo como acionador de questões. O idealizador do Festival, Erivelto Viana, integra o elenco de Batucada ao lado de outros quatro artistas maranhenses.

“Nós apresentamos fora do Brasil e eu pedi para fazer no Piauí e em São Luís, em parceria com o Erivelto Viana, que integra o Batucada e que desenvolve com muita vontade um trabalho incrível aí em São Luís e que vale a pena ser divulgado”, afirma Marcelo. 
 
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2015/04/19/interna_impar,170188/corpos-nus-e-adornados-por-uma-mascara-vao-fazer-parte-do-espetaculo-batucada.shtml

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