Tamires Sampaio conquistou uma bolsa do ProUni e sempre estudou em escolas públicas
Tamires é quinta mulher a presidir o diretório estudantil e a primeira pessoa negra a alcançar o posto
Arquivo pessoal
Tamires Gomes Sampaio, de 20 anos, estudou em escolas públicas dos três
meses de vida até o fim do ensino médio. Ela frequentou uma creche
desde muito nova porque sua mãe, Rosimary, precisava trabalhar para
pagar e terminar a faculdade de psicologia.
Apesar das dificuldades, hoje ela está no quarto ano do curso de
direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, e acaba
de ser nomeada a primeira presidente negra do centro acadêmico de seu
curso em 69 anos.
A atuação de Tamires à frente do Centro Acadêmico João Gomes Jr. também
representa outros marcos. Ela é quinta mulher a presidir o diretório
estudantil, e a primeira pessoa negra de maneira geral a alcançar o
posto.
— Para mim isso é algo muito simbólico, porque na minha sala tem três
estudantes negros num total de 80 alunos. Algumas salas aqui [no
Mackenzie] não têm alunos negros.
Tamires conta que o curso de direito tem com mais de 100 docentes, mas apenas um deles é afrodescendente.
— Ainda hoje você quase não vê negros nas salas de aula das
universidades. Onde você vê muitos negros aqui na faculdade? Na
segurança, fazendo faxina.
Para a aluna, ser eleita a primeira negra presidente do centro acadêmico vai mostrar que a universidade é lugar para todos.
A vitória da chapa sobre outras duas concorrentes aconteceu no início deste mês, e Tamires tomou posse no último dia 9
Arquivo Pessoal
— Minha história indica que qualquer um pode ser uma liderança no
movimento estudantil, mesmo em uma faculdade de direito que é
tradicionalista, elitista e por vezes até conservadora.
Tamires também citou que ela, como outros jovens, já se beneficiou de
políticas públicas como as cotas raciais e o ProUni (Programa
Universidade para Todos), que estão mudando o cenário de acesso dos
negros ao ensino superior.
Nos tempos da escola
Durante o último ano do ensino médio, a estudante fez cursinho
pré-vestibular. Em 2009, fez provas para tentar ingressar em
universidades públicas e também prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio). Não passou nas instituições públicas, mas a nota que obteve no
Enem lhe rendeu uma bolsa integral no Mackenzie pelo ProUni. Ela
ingressou na universidade com apenas 17 anos de idade.
— Escolhi direito porque sempre gostei muito de humanas e nunca me dei
bem com matemática. Além disso, sempre participei dos debates
filosóficos e políticos na escola.
Militância universitária
A veia política fez com a presidente do centro acadêmico se aproximasse
do movimento estudantil desde o início da faculdade. Em 2013,
participou da construção da Frente Coletiva, grupo estudantil que se
propunha a debater o combate às opressões na universidade.
Após a saída de parte dos membros da última gestão do centro acadêmico
do curso de direito, que aconteceu no meio deste ano, uma nova eleição
foi convocada: “Como já tínhamos o coletivo [Frente Coletiva],
resolvemos disputar as eleições como chapa Catarse, que é um termo
utilizado na ciência política como um movimento de transição rumo a uma
representação coletiva de fato”.
A vitória da chapa sobre outras duas concorrentes aconteceu no início
deste mês, e Tamires tomou posse no último dia 9. O feito lhe rendeu dez
dias de férias para se preparar para a nova jornada política num
período próximo do fim de sua graduação, de cinco anos.
Futuro
Militante do movimento negro em São Paulo e reconhecendo os problemas
raciais e sociais no Brasil, Tamires afirma que a intenção de sua gestão
no centro acadêmico é promover debates sobre estes assuntos.
Quanto ao que irá fazer após o término da faculdade, a jovem conta que
deseja ser procuradora do Ministério Público Federal e trabalhar nas
áreas do direito penal, direitos humanos e segurança pública.
Tamires também pretende lutar contra a desigualdade social e racial. Ao R7 ela disse que irá fazer seu trabalho de conclusão de curso sobre o assassinato de jovens negros nas periferias.
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