Especialistas dizem que isolamento e conivência dos vizinhos protegem pedófilos
Lavrador foi condenado após ter filhos
com duas de suas filhas; ele foi morto decapitado durante rebelião em
presídio do Maranhão
Reprodução Rede Record
O caso de incesto descoberto pela Polícia Civil de Santa Catarina —
duas irmãs foram estupradas durante anos pelo pai e tiveram seis filhos
com ele — pode não ser um fato isolado no País. Especialistas ouvidos
pelo R7 dizem que casos como esse são mais comuns do que se pode imaginar e surgem com mais frequência fora dos centros urbanos.
Apesar
de o pai estar preso, as jovens de Rio Negrinho, que agora aumentam as
estatísticas de violência sexual, decidiram deixar a cidade com medo de
novas ameaças de morte por parte do agricultor de 45 anos. A família vivia em uma casa
simples na zona rural da cidade, no interior de Santa Catarina. No
imóvel, moravam o suspeito, a mulher, nove filhos — incluindo as duas
vítimas — e os três filhos de cada uma delas. Além disso, a filha mais
nova está grávida do quarto filho do pai. A jovem está no terceiro mês
de gestação.
Christian Ingo Lenz Dunker, psicanalista e professor do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo, avalia que, tal como o
verificado em Rio Negrinho, o isolamento das famílias favorece a prática
de abusos sexuais semelhantes.
— O incesto é relativamente comum em lugares mais afastados, as
circunstâncias favorecem. Em geral, é uma pessoa que já tem uma
disposição de evitar os outros, em relação a limites e, por outro lado,
existe uma tolerância social, os vizinhos não delatam, tem uma certa
conivência.
A ausência do Estado, do que representa simbolicamente a lei,
proporciona um ambiente sem regras onde o incesto pode surgir. Já as
mães acabam sendo coniventes com os abusos porque temem perder a ligação
com os maridos. O psicanalista diz que, provavelmente, quando o pai sai
para trabalhar, em tese, a mãe se torna uma substituta da regra do pai.
Outro caso que guarda características semelhantes ao de Santa Catarina aconteceu no Maranhão e chocou o Brasil em 2010. O lavrador José Bispo Agostinho estuprou e manteve as próprias filhas em cárcere privado por 17 anos.
Ele começou estuprar e prender sua filha mais velha quando ela ainda
tinha 15 anos. A mulher, hoje com 35 anos, teve um bebê com o próprio
pai. Além dela, a irmã mais nova sofreu abusos por 17 anos e tem sete
filhos.
Segundo a delegada que investigou o caso, na época, o lavrador assumiu
em depoimento que seis das oito crianças são filhas-netas dele.
Condenado a 17 anos de prisão, o trabalhador rural foi morto decapitado
durante uma rebelião em 2011, na delegacia da cidade de Pinheiro,
enquanto aguardava transferência para o presídio de Pedrinhas.
Segundo Christian Dunker, em muitos casos, os crimes são motivados pelo sentimento de posse e poder dos pais sobre as filhas.
— É mais uma questão de poder do que sexo. É a possibilidade de você se
aproveitar de uma pessoa que não tem condições para se defender. É um
pai que não quer dividir as filhas com o mundo, com os outros.
Machismo x denúncia
Para a coordenadora nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Silvia
Giugliani, o País precisa assumir suas características e unir toda a
sociedade para proteger indefesos de crimes cometidos pelos próprios
familiares.
— Vivemos em um País machista que trabalha na lógica da submissão. Isso
faz com que as vítimas de violência sexual e as pessoas ao seu redor
hesitem em denunciar os responsáveis pelos abusos.
http://noticias.r7.com/cidades/casos-de-pais-que-abusam-dos-filhos-sao-mais-comuns-fora-dos-centros-urbanos-20072014
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