Especialista diz que leis de migração são burocráticas e não atendem necessidades
David sonha em trabalhar como economista no Brasil e fazer pós-graduação
Eduardo Enomoto/R7
Após gastar cerca de R$ 8.000 para viajar do Haiti até o Brasil, o
economista David Josopsu não conseguiu encontrar aqui o que queria. Seu
diploma teve que ser colocado de lado para dar espaço ao uso das mãos na
construção civil. Ele virou pedreiro e lamenta não conseguir atuar na
sua área.
— Eu tinha o sonho de fazer pós-graduação e vim para o Brasil com esse
objetivo. A única coisa que consegui até agora foi traduzir o meu
diploma, mas ele não é válido. Eu procuro emprego e falo da minha
experiência, mas acredito que os empresários também têm preconceito em
contratar um haitiano que não seja para um serviço considerado inferior.
Com essas dificuldades, está complicado continuar a sonhar.
David chegou ao País por meio dos coiotes que atuam nas fronteiras. Ele
pagou tudo em dólar, economizado durante mais de um ano de trabalho no
Haiti. A passagem aérea de Porto Príncipe até o Equador custou cerca de
R$ 4.000. Do país vizinho até Brasileia, no Acre, passou dias viajando
de ônibus disponibilizados pelos coiotes. Mais dinheiro gasto com
transporte e alimentação.
O economista, de 30 anos, deixou para trás toda a família. Além de
estudar, a esperança era mandar um pouco de dinheiro, o que David não
consegue. Ele saiu de Brasileia para buscar abrigo na Casa do Migrante,
em São Paulo. O que ganha na capital paulista trabalhando na construção
civil, pouco mais de R$ 1.000, é usado para se sustentar.
— Eu ganho aqui menos que no Haiti. O aluguel é caro, a vida é difícil.
Penso em voltar para o Haiti, mas nem dinheiro consigo guardar para
isso. Eu não sabia que seria assim, tinha esperança que tudo seria
diferente.
A advogada Gabriela Ferraz, especialista em leis de migração, reconhece as dificuldades de se validar o diploma aqui no Brasil.
— O Brasil tem leis de migração burocráticas. É muito caro e difícil
validar um diploma aqui. Eu mesma fiz mestrado na França e nunca
consegui validar meu certificado, não existe nenhum tipo de integração.
Os haitianos vêm porque estão em uma situação difícil por lá, ficam nas
mãos de coiote para chegar ao Brasil, cobram o que querem deles, não
sobra dinheiro para pensar em diploma.
David está no Brasil há um ano. A decisão de mudar veio após o
terremoto de janeiro de 2010 que deixou um saldo de mais de 220 mil
mortos. Desde então, mais de 20 mil haitianos já vieram morar no País,
segundo dados do Ministério da Justiça. O governo concede visto de
permanência, o que dá direito a carteira de trabalho e CPF. A medida
humanitária foi tomada após o terremoto como forma de ajuda.
Mais de 482 empresas procuraram a Casa do Migrante em Sâo Paulo para
recrutar trabalhadores haitianos. São mais de 400 ofertas de trabalho
por semana, a maioria para a construção civil ou frigoríficos. Muitos
haitianos são levados para trabalhar em outros Estados, como Paraná e
Santa Catarina.
http://noticias.r7.com/cidades/apos-gastar-r-8000-com-coiote-economista-do-haiti-vira-pedreiro-no-brasil-17062014
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