A Polícia Federal investiga a ligação entre a compra pela Petrobras da
refinaria de Pasadena, nos EUA, e o esquema de lavagem de dinheiro
desbaratado em 17 de março pela Operação Lava Jato, que envolve
suspeitas ligadas à obras na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Os
investigadores citam a existência de uma possível "uma organização
criminosa" que estaria atuando "no seio" da estatal de petróleo.
Os dois casos têm um personagem em comum: o ex-diretor de Abastecimento
da estatal, Paulo Roberto Costa, que ficou no cargo entre os anos de
2004 e 2012.
A compra de Pasadena, iniciada em 2006 com a aquisição de 50% da
refinaria de uma empresa belga, a Astra Oil, é cercada de polêmica em
razão do preço pago pela Petrobrás. Após o negócio ser fechado, a
estatal brasileira indicou um integrante para representá-la no conselho
de proprietários. Esse representante era Paulo Roberto Costa.
Após um litígio envolvendo questões contratuais, a Petrobras acabou
desembolsando mais de R$ 1,2 bilhão pela compra de 100% da refinaria. A
Polícia Federal suspeita que as operações envolvendo a unidade tenham
sido usadas para pagamento de propinas e "abastecimento de grupos" que
atuavam na estatal.
Ofício
É em um ofício enviado em 22 de abril ao juiz federal Sérgio Fernando
Moro, do Paraná, que o delegado Caio Costa Duarte, da Divisão de
Repressão a Crimes Financeiros em Brasília, cita a existência de "uma
organização criminosa no seio" da estatal, que atuaria desviando
recursos, e pede o compartilhamento de provas da Operação Lava Jato.
Segundo o ofício, o "empréstimo" das provas e do material apreendido na
Lava Jato seria de "grande valia" para a condução do inquérito sobre
Pasadena.
"A citada refinaria teria sido comprada por valores vultosos, em
dissonância com o mercado internacional, o que reforça a possibilidade
de desvio de parte dos recursos para pagamento de propinas e
abastecimento de grupos criminosos envolvidos no ramo petroleiro",
descreve o delegado. "Acrescentando-se a isto, apura-se possível
existência de uma organização criminosa no seio da empresa Petrobrás que
atuaria desviando recursos com consequente remessa de valores ao
exterior e retorno do numerário via empresas offshore", completa o
policial.
O documento da PF foi lido hoje na Câmara pelo líder do Solidariedade,
Fernando Francischini (PR). "O delegado chefe das investigação Pasadena
pediu cópia da operação dizendo que descobriu que o ex-diretor da
Petrobras era conselheiro da refinaria e da trading na época da
aquisição. E que todo o cruzamento dos dados mostra que o Paulo Roberto
estava trazendo dinheiro de fora, via off shore, via Alberto Youssef",
afirmou o deputado paranaense.
Celeridade
No ofício, o delegado sustenta que o compartilhamento das provas traria
economia processual e celeridade da investigação. "Em linha gerais,
adentrando no mérito do procedimento persecutório, a partir da compra de
uma refinaria no Estado do Texas/EUA (Pasadena), por parte da Sociedade
de Economia Mista Petrobras, possíveis valores teriam sido enviados ou
mantidos no exterior sem a respectiva declaração aos órgãos
competentes", diz ele.
A Operação Lava Jato foi deflagrada em março deste ano para
desarticular organizações criminosas que tinham como finalidade a
lavagem de dinheiro em diversos estados da Federação. De acordo com as
informações fornecidas pelo Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF/MF), integrantes do esquema teria movimentado até R$
10 bilhões.
Abreu e Lima
Uma das suspeitas da Polícia Federal é que o ex-diretor de
Abastecimento da Petrobrás atuou como elo entre o doleiro e a estatal.
Costa teria atuado, por exemplo, em contratos de obras da Petrobrás
tocadas pelo consórcio liderado pela empreiteira Camargo Correa na
refinaria Abreu e Lima, em construção no Estado de Pernambuco.
O ex-diretor da Petrobrás nega ter participado de ilegalidades envolvendo a estatal.
Procurada na noite de hoje, a Petrobras informou que não tinha conhecimento da nova linha de investigação da PF.
Estadão Conteúdo
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