Diferença de valores se explica por pesquisas e marketing, explicam especialistas
Na farmácia, preços de remédios de marca, genéricos e similares variam muito
Daia Oliver/R7
Remédio de marca, genérico ou similar? No balcão da farmácia, muitas
vezes, surge a dúvida de qual deles escolher. Os genéricos e os
similares têm preços mais atrativos para o bolso dos pacientes, se
comparados aos de marca. Entre os remédios mais prescritos por médicos,
entre fevereiro de 2013 e o mesmo mês deste ano, de acordo com
Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos, a
losartana potássica (usada para hipertensão arterial) custa em média R$
8, o similar R$ 9, já o de marca com o mesmo princípio ativo é vendido
por R$ 32. Ou seja, quatro vezes mais que os outros dois. Mas será que
há diferença de qualidade entre eles?
De acordo com a professora de farmácia da UFOP (Universidade Federal de
Outro Preto) Elza Oliveira Sebastião, o remédio de referência (de
marca) é aquele que “primeiro foi produzido no mundo com aquela
formulação e para um efeito terapêutico específico”.
— A indústria o “batiza” com um determinado nome comercial, registra e o
patenteia. Quando termina a validade desta patente [que pode demorar
dez e até 20 anos], o princípio ativo então pode ser “copiado” por
outras indústrias. Então surgem os similares e genéricos.
Os genéricos têm a mesma qualidade que os medicamentos de referência,
pois passam por “testes que garantem que são iguais na ação, toxicidade,
reações adversas e forma de uso e também na forma de produção. De
acordo com a especialistas, eles são as cópias exatas dos medicamento
referências.
— O Ministério da Saúde do Brasil garante a equivalência dos genéricos
com os de referência, pois há fiscalização das indústrias farmacêuticas,
certificando-as que a linha de produção daquele medicamento resultará
num produto idêntico ao de referência. Por causa disso, eles podem ser
intercambiáveis, ou seja, o de referência pode ser substituído pelo
genérico, caso os médicos e dentistas permitam a troca.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) garante este
“intercâmbio” explicado pela professora. Segundo a a agência, a
substituição do medicamento de referência pelo seu genérico é assegurada
por testes de bioequivalência apresentados” à Anvisa.
Medicamentos genéricos saem mais em conta nas farmácias
Vanessa Sulina/R7
Preço que cabe melhor no bolso
Os preços mais em conta dos genéricos se explicam, pois as fabricantes
não precisam investir em pesquisas e desenvolvimento, como as de remédio
de referência, conforme afirma Elza. Na lista dos mais prescrito por
médicos, o antibiótico amoxicilina é vendido a R$ 20 e sua versão
genérica R$ 15.
— Eles apenas copiam da indústria que descobriu. Além disso, não têm
gastos financeiros com marketing do produto. Já que indústrias de
genéricos não gastam com pesquisa nem com propaganda, o preço cai. Não
são mais baratos porque são ruins. São mais baratos porque o custo final
deles é mais baixo que os de marca.
O farmacêutico Hemerson Henrique de Oliveira explica que, geralmente, o
genérico tem que custar 50% mais barato que o de referência, mas com o
similar não há controle.
Cuidado com similares
Diferentemente dos produtos de marca e genéricos, os similares não
passam por testes que comprovam os princípios ativos e sua eficácia,
segundo Oliveira. Além disso, a professora explica que as indústrias de
similares, apesar de não gastarem com pesquisa e desenvolvimento,
precisam fazer propaganda para incentivar a venda.
— Muitas vezes [a indústria dos similares] faz pressão por outras
formas de indução do consumo como a “empurroterapia”. Ou seja, fazem
promoções do tipo “compre 6 e leve 12”. Os estabelecimentos não
compraram estes produtos, eles “ganharam”, é o bônus. Então, “empurram”
os produtos para o consumidor.
Elza conta que “conhece vários casos” de ineficácia de produtos similares.
— Um caso sério foi quando um paciente hipertenso, que fazia o
acompanhamento comigo, apresentava descontrole dos valores, apesar de
relatar que tomava o medicamento corretamente. Averiguei diversas
questões que poderiam alterar sua pressão, como a sua alimentação,
exercícios físicos, nível de estresse, uso de outros medicamentos e
nada. Ele me contou então que os comprimidos estavam saindo nas suas
fezes da mesma maneira que eram ingeridos. Como consequência, não fazia
efeito!
Segundo a Anvisa, “os medicamentos similares devem apresentar os testes
de biodisponibilidade relativa e equivalência farmacêutica para
obtenção do registro para comprovar que o medicamento similar possui o
mesmo comportamento no organismo (in vivo), como possui as mesmas
características de qualidade (in vitro) do medicamento de referência”.
No consultório
O presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Clínica Médica), Antônio
Carlos Lopes, disse que, em seu consultório, “receita muito os
genéricos”, pois eles têm o mesmo efeito e fazem “os pacientes
economizarem “muito dinheiro”. Porém, segundo ele, há diversos
profissionais que preferem prescrever apenas os de marca.
— Muitos médicos não acreditam no genérico, mas não mostram os
fundamentos técnicos para não acreditarem. Alguns profissionais ficam
presos a certas relações com indústrias farmacêuticas. Assim, só
receitam remédios de tal laboratório pra prestigiar sua parceria e seus
privilégios.
http://noticias.r7.com/saude/apesar-da-mesma-qualidade-remedio-de-marca-custa-ate-4-vezes-mais-que-generico-25052014
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