sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Em operação tartaruga, PMs instalam outdoors com cobranças ao GDF

 

Apreensão de armas cai 40%; secretário diz haver previsão de concurso.

 
Não tem condições de apenas pelo GDF resolvermos questões que envolvam aumento salarial da corporação, porque os recursos são oriundos da União, passam por projeto de lei que têm que ser encaminhados ao Congresso Nacional. É algo que é mais complexo, está fora do nosso alcance"
Sandro Avelar, secretário de Segurança Pública do DF
 
Em operação tartaruga, intensificada há dois meses, policiais militares do Distrito Federal instalaram sete outdoors em quatro regiões administrativas durante o fim de semana cobrando do governo isonomia salarial e reestruturação da carreira. O movimento disse que vai colocar mais 11 letreiros e distribuir 40 mil panfletos a partir desta segunda-feira (27). O secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, admitiu que houve queda na produtividade policial e disse que "não tem nada que justifique esse tipo de movimento", porque há "diálogo com o governo." Ele afirmou ainda considerar o termo "operação tartaruga" perjorativo.

"Considero legítimo o desejo de se resolver questões que são importantes para a corporação, mas o meio que tem sido utilizado, reduzindo a produtividade policial e aumentando alguns índices que são importantes para a comunidade, já não posso concordar com isso", disse Avelar. "Agora, é uma corporação que ao longo dos anos vem sendo falsamente estigmatizada como a mais bem paga do Brasil e essa realidade mudou. Não é mais a corporação mais bem paga do Brasil, embora isso não justifique o que tem sido feito no DF."
Outdoor sobre operação tartaruga instalado por militares do DF  (Foto: Eliomar Rodrigues/Divulgação)Outdoor sobre operação tartaruga instalado por militares do DF (Foto: Eliomar Rodrigues/Divulgação)
 
Os equipamentos foram instalados em Samambaia, no Gama, em São Sebastião e no Paranoá e, além de pedir a valorização dos militares, comunicam uma assembleia geral de policiais e bombeiros às 9h do dia 13 de fevereiro, em frente ao Palácio do Buriti, sede do GDF.

Um policial que não quis se identificar disse que os itens foram custeados pelos próprios servidores, que estão depositando quantias em uma conta específica. "Não somos a favor do aumento da criminalidade, mas preciso sustentar minha família."

Ele afirmou ainda que durante a ação a categoria tem cumprido apenas o que é previsto na Constituição Federal. "Com a operação, não fazemos abordagem a carro suspeito, por exemplo, e não preservamos locais de crimes."

Se fizesse a reestruturação, que dá para ser feita ainda este ano, nós já ficaríamos satisfeitos. A isonomia não dá mais tempo neste governo, então não podemos cobrar algo que sabemos que não vai acontecer"
 
Eliomar Rodrigues, cabo da PM
Também atuante no movimento, o cabo Eliomar Rodrigues afirmou que cerca de 90% dos militares estão se sentindo desmotivados. “Outros setores da segurança pública receberam reajuste, a gente não. A gente se sente deixado de lado”, afirma.

Segundo Rodrigues, a mudança do comando da PM não trouxe nenhuma novidade em relação às negociações. O cabo, que está há 14 anos na corporação, afirma que a reestruturação do plano de carreira já deixaria os militares contentes.

“Se fizesse a reestruturação, que dá para ser feita ainda este ano, nós já ficaríamos satisfeitos. A isonomia não dá mais tempo neste governo, então não podemos cobrar algo que sabemos que não vai acontecer”, afirma Rodrigues.

Em entrevista ao DFTV no dia 21 de janeiro, o governador Agnelo Queiroz negou a existência da operação tartaruga. "É muito mais [uma ação] de algumas pessoas, algumas lideranças, que são até candidatas, que estão fazendo um trabalho para prejudicar a Polícia Militar do Distrito Federal e o nosso povo.”

Queda de produtividade e negociações
O secretário afirmou que houve redução de 40% no número de armas apreendidas em dezembro, em relação às médias anteriores. Foram recolhidos 80 equipamentos, contra os cerca de 130 objetos geralmente apreendidos antes.
 
“Você vê [a queda de produtividade] em vários índices: você vê a queda na apreensão de armas de fogo, você vê a queda de recuperação de veículos roubados, você vê na elevação do número de homicídios. Por mais que o perfil das vítimas continue o mesmo, de maioria já envolvido com o mundo do crime, especialmente tráfico de entorpecentes ou vítimas de crime passional, de toda forma quando você tem menor número de armas de fogo circulando você tem uma redução também desse tipo de crime”, afirmou.

Queda de apreensão de armas de fogo caiu 40% em dezembro em relação às médias dos meses anteriores, diz GDF
 
Avelar disse estar negociando alguns pontos com a corporação, mas afirmou que a reestruturação “envolve uma série de questões que têm que ser trabalhadas com tempo” e que o aumento salarial não depende do governo local.

“Não tem condições de apenas pelo GDF resolvermos questões que envolvam aumento salarial da corporação, porque os recursos são oriundos da União, passam por projeto de lei que têm que ser encaminhados ao Congresso Nacional. É algo que é mais complexo, está fora do nosso alcance.”
De acordo com o secretário, há previsão para concurso para as polícias Militar e Civil ainda neste ano. Atualmente, o DF tem 15 mil PMs e 6 mil bombeiros.

“Troco na Copa”
Em imagens gravadas no dia 5 de dezembro, durante um café da manhã dentro do 11º Batalhão de Polícia Militar, em Samambaia, um sargento diz ao secretário de Segurança que, caso a categoria não seja contemplada com reajuste salarial, os PMs “darão troco” na Copa do Mundo de 2014. Na época, a pasta não comentou o vídeo e o comando da corporação diz que estava avaliando as informações.
 
"A Copa do Mundo 'tá' vindo aí. E eu vou falar para o senhor, em nome de nossa categoria, é a nossa vontade. Se a Polícia Militar não for contemplada, como outros órgãos da Segurança Pública foram contemplados, o troco nós vamos dar na Copa do Mundo. O senhor secretário leve essa mensagem [ao governador Agnelo Queiroz]", diz o sargento na gravação.

Segundo Avelar, a gravação ocorreu de maneira "clandestina". "Era uma conversa informal, que foi sendo noticiada como um ato unitateral", disse. "O sargento em uma conversa informal, expondo o ponto de vista dele. Eu também expus o meu, usando muito mais tempo que ele".

O secretário disse ainda discordar da exposição do vídeo. "O que acho ilegítimo e acho covarde é filmar e divulgar somente um trecho, criando um fato falso", falou. "A gente está trabalhando para poder justamente resolver essas situações de maneira civilizada, negociada, para que a gente não tenha problema na Copa do Mundo."

Em novembro, um tenente-coronel do 21º Batalhão da PM, em São Sebastião, ordenou que os policiais não aguardassem mais a chegada da perícia em locais de crimes cometidos na região. De acordo com ele, a decisão segue instruções normativas da Polícia Civil e artigos do Código de Processo Penal. Ele alegou ainda “escassez de efetivo” e problemas no relacionamento entre os militares e os agentes da 30ª DP.

G1

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