Uma menina de 9 meses de idade morreu na manhã de ontem no Pronto-Socorro do Quietude, em Praia Grande, enquanto aguardava a transferência para uma vaga de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). A criança sofria de hidrocefalia e a família diz ter esperado por dois dias por um leito na central de vagas do Governo do Estado.

A pequena Micaely Vitória do Amaral esteve internada naquele PS desde quarta-feira e morreu às 6h59 de ontem com quadro de broncopneumonia crônica. Funcionários do PS teriam dito diversas vezes aos pais que o quadro de saúde da criança era grave e as chances de salvá-la dependiam de um atendimento específico.

T
udo começou há uma semana, quando Micaely começou a apresentar algumas pequenas feridas no corpo. Ela estava com catapora, o que tranquilizou os pais. Na terça-feira, porém, a situação piorou e eles decidiram levá-la pela primeira vez ao PS do Quietude.

“A médica passou um sabonete especial e um antialérgico. E mandou ficarmos atentos. Mas no dia seguinte, ela piorou. Estava com muitas feridas e com os lábios roxos. Levamos de volta ao Pronto-Socorro”, detalha João Mendes do Amaral, de 53 anos, pai da menina.

Foram pedidos exames. Micaely foi levada ao isolamento e, segundo a equipe médica da unidade, a situação era muito crítica. “O atendimento foi muito bom e eles foram sinceros. Disseram que dependia de uma vaga. Mas que estava difícil de conseguir em todo o Estado”.

A família chegou a tentar auxílio político. Em vão. Enquanto o pai relata a história, sua filha de 5 anos aproxima-se chorando. “Minha irmãzinha morreu, pai!”. No que ouve como resposta: “ela está morando com o Papai do Céu. Ele está cuidando dela”.

A declaração acalma momentaneamente a menina. Mas tão logo ela volta a falar, é a vez de João desabar em lágrimas.

“Era uma criança especial. Em todos os sentidos. Mas por causa da hidrocefalia, ela deveria ter prioridade. Minha bebezinha morreu por falta de vaga. Eu nunca mais vou vê-la”. O enterro será hoje. O velório, terá apenas duas horas de duração.

Ninguém convence o pai, porém, de que esses dias tão difíceis foram mera fatalidade. Para ele, isso tudo poderia ter sido evitado. “Não dá para aceitar. Ela nasceu no Hospital Guilherme Álvaro (em Santos). Sempre foi atendida lá. E, na hora da vida ou morte, não tinha vaga”.

Resposta

A Secretaria de Estado da Saúde determinou a abertura de investigação preliminar para apurar o motivo pelo qual a criança não foi transferida para uma UTI.

A secretaria irá apurar se o quadro clínico permitia ou não a transferência sem colocar a paciente em risco, se havia indisponibilidade momentânea de leito de terapia intensiva pediátrica com isolamento ou se houve falha na regulação.

A assessoria de imprensa do órgão informou ainda que, desde 2011 o Estado abriu mais nove leitos de UTI pediátrica na região. Outros 10 serão implantados com a ampliação do Hospital Regional de Itanhaém. Por fim, afirmou que a vaga foi solicitada pela unidade de origem na quinta-feira, dia 12, e não no dia 11.

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