O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, na semana passada, que a
economia brasileira cresce com “duas pernas mancas”, mas o que está com
dificuldades para andar é a própria equipe dele. O poderoso ministério
da Esplanada entra no último ano do governo Dilma Rousseff com “baixas”
de atores importantes e ainda sem reposição à vista.
A Pasta está praticamente funcionando no stand-by, termo usado para
designar o modo de espera. Em consequência, projetos de reformas
importantes foram parar na geladeira no momento em que a política
econômica vive o seu momento mais difícil no governo Dilma.
Mantega perdeu alguns colaboradores-chave ao longo deste ano: o
secretário executivo Nelson Barbosa deixou o cargo em maio por
desavenças internas; o de Acompanhamento Econômico, Antônio Henrique
Silveira, virou ministro dos Portos. Em seu entorno mais próximo, está
previsto o desfalque esta semana do assessor econômico Gilberto
Scandiucci, que se muda para Washington. Ele acompanhava o ministro em
viagens e diversas audiências, de empresários a jornalistas.
Além disso, o corpo técnico do Tesouro pressiona o secretário Arno
Augustin por mudanças na política fiscal e a Receita Federal está sem
prestígio e com o quadro de servidores descontente pela ingerência
externa nas decisões de política tributária.
Para complementar a má fase, o chefe de gabinete do ministro e seu
braço gestor, Marcelo Fiche, foi exonerado, na semana passada, depois de
denúncias de que teria recebido propina de uma empresa contratada do
ministério. A Polícia Federal e a corregedoria da Fazenda investigam o
caso.
O sinal mais evidente de letargia na equipe tem sido a demora na
escolha do substituto de Nelson Barbosa, um dos principais formuladores
da política econômica desde o governo Lula. Há sete meses a vaga do
“número do 2” da pasta - uma espécie de vice-ministro - está aberta.
Interino
O secretário executivo adjunto, Dyogo Oliveira, ocupa interinamente o
cargo sem muito espaço de ação na longa interinidade. Embora o ministro
tenha indicado internamente que pode efetivar Oliveira no cargo, a
morosidade em fazê-lo tem ampliado o desconforto na equipe e esvaziado
discussões importantes de projetos que estavam em andamento, como a
proposta de reforma do ICMS e o aperfeiçoamento da política fiscal.
Outro debate em ponto morto é a simplificação do PIS e da Cofins,
anunciada pelo secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, há
dois anos.
Com a política econômica sob fogo cruzado e por causa do baixo
crescimento e da deterioração da política fiscal, Mantega tentou sem
sucesso encontrar um nome do setor privado para ocupar o lugar de
Barbosa. Pesa contra a “solução de mercado” o pouco espaço para tocar
projetos importantes em 2014, ano de eleições.
Sem pressa
Assessores do ministro alegam que o seu estilo é mesmo esse: demorar
para escolher. Mas essa regra não foi aplicada na substituição de
Antônio Henrique, ex-secretário de Acompanhamento Econômico. Pouco
depois da sua indicação pela presidente Dilma para a Secretaria dos
Portos, o ministro nomeou o economista Pablo Fonseca, no governo desde
2001 e detentor de título de mestre em Columbia.
No jogo de troca de cadeiras, Fonseca deixou para trás o cargo de
secretário adjunto de Política Econômica e a gestão de uma agenda de
medidas microeconômicas, principalmente voltadas para o mercado
financeiro, que hoje está praticamente paralisada. O seu antigo cargo
também permanece com a vaga aberta. Além de desfalcado, o time do
secretário Márcio Holland também perdeu prestígio depois que a
presidente divulgou uma previsão errada de revisão da alta do Produto
Interno Bruto para o jornal espanhol El País feita pela equipe dele.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, na quinta-feira, 12,
Mantega rebateu a visão de vazio no ministério. “A Fazenda está sólida. O
Tesouro está muito bem, basta ver o resultado do trabalho dele, e não
as fofocas. A Receita também está bem, ainda que de vez em quando alguém
sai, o que é normal. Tudo funciona muito bem.”
Estadão Conteúdo
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