Paraplégicos e um tetraplégico presos no Complexo Penitenciário da
Papuda, que abriga há quase um mês políticos condenados no mensalão,
relatam ter ficado em uma cela com até 12 pessoas, conviver com ratos,
não ter acesso a medicamentos e até já ter dormido no chão.
Cada penitenciária da Papuda tem uma cela adaptada para cadeirantes. No
PDF-1 (Penitenciária do Distrito Federal 1), a cela já chegou a ter 12
detentos, segundo eles.
Atualmente lá há oito pessoas, sendo quatro cadeirantes (um tetraplégico
e três paraplégicos) e outros quatro presos que lhes servem de
cuidadores, trabalhando para diminuir suas penas. Na cela, eles se
apertam em quatro beliches e têm como único luxo um chuveiro quente.
A Folha entrou nessa ala na quarta-feira e presenciou os relatos
dos cadeirantes, feitos à deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP), que é
tetraplégica.
Interior de cela da Papuda que abriga presos cadeirantes
As condições do local estão sendo levadas em conta pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) para análise do pedido de prisão domiciliar do
ex-presidente do PT José Genoino, que sofre de problemas cardíacos.
Quando chegaram à Papuda, no dia 15 de novembro, os condenados no
mensalão tiveram de início privilégios como visitas fora do dia -até
serem vetadas pela Justiça.
O tetraplégico que teve o pedido de prisão domiciliar negado, conforme revelado pela Folha
(sua defesa pediu para que seu nome não fosse publicado), diz que teve
que dormir 15 dias no chão ao ser transferido para o PDF-1, há cerca de
um mês, porque havia outros 11 detentos lá.
Ele estava preso desde abril no Centro de Detenção Provisória e há cerca
de um mês foi para o PDF-1, após ter sido condenado em definitivo pelo
crime de tráfico de drogas.
Os cadeirantes relatam não ter acesso aos remédios que tomam para
melhorar as condições de vida, que servem, por exemplo, para diminuir
espasmos musculares e para reter líquido.
Já os médicos são em quantidade insuficiente, dizem. O tetraplégico
possui úlceras pelo corpo que, segundo ele, não estão recebendo o
tratamento adequado.
Após ouvir os relatos, Gabrilli disse que pretende fazer um levantamento
de todos os cadeirantes no sistema prisional brasileiro.
"No caso do tetraplégico, se as feridas não forem tratadas, ele vai
morrer. Isso pode evoluir para uma infecção generalizada. Precisa de
cirurgia de enxerto de pele e de alguns cuidados que não está tendo lá",
disse a deputada.
Os próprios agentes da Polícia Civil que acompanharam a visita admitiram
que as condições para os cadeirantes na Papuda não são adequadas.
Além desses problemas, eles são alvo de ameaças dos detentos mais
perigosos, que compram suas cadeiras de rodas para transformar o metal
em facas caseiras.
Procurado, o coordenador-geral da Sesipe (Subsecretaria do Sistema
Penitenciário), João Feitosa, afirmou desconhecer superlotação em celas
de cadeirantes e que os detentos cuidam da limpeza das próprias celas.
Sobre os medicamentos, disse que o presídio tem acesso a todos
oferecidos pela rede pública de saúde. "A gente vai fazendo as melhorias
[para os cadeirantes] de acordo com as necessidades", diz.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/12/1385565-cadeirantes-presos-na-papuda-reclamam-da-precaria-infraestrutura-da-prisao-e-da-falta-de-remedios.shtml
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