A maioria dos delegados da Polícia Federal (PF) sente-se segura, confortável
e respeitada em seu ambiente de trabalho. No entanto, 64% não se sentem
estimulados e 61% dizem que têm reconhecimento pela atividade exercida.
Para 98,37% da categoria, o principal problema é o número insuficiente
de servidores administrativos do Departamento de Polícia Federal (DPF),
informa pesquisa divulgada hoje (23) pela Associação Nacional dos
Delegados de Polícia Federal (ADPF).
Para os delegados,
não basta aumentar o efetivo de servidores na área administrativa –
72,81% deles entendem que é preciso também melhorar os critérios de
divisão das tarefas investigativas e administrativas.
“Somos
11,5 mil policiais, enquanto há apenas 2,5 mil administrativos nos
dando apoio. Isso é ilógico. Precisamos reorganizar a atividade
administrativa. Caso contrário, continuaremos tendo de desviar policiais
da atividade de investigação. E isso, do nosso ponto de vista, não é o
que a sociedade
espera”, disse o presidente da ADPF, Marcos Leôncio Ribeiro. Segundo
ele, “o ideal seria que o DPF tivesse pelo menos o triplo” de pessoas na
área administrativa.
Para o delegado, essa
carência pode prejudicar o trabalho da PF nos grandes eventos previstos
para o país, como a Copa do Mundo, no ano que vem, e os Jogos Olímpicos,
em 2016, no Rio de Janeiro.
“Esse é um dilema que a PF tem de enfrentar, porque, com o efetivo
atual, ela não consegue fazer ao mesmo tempo segurança de grandes
eventos e investigar. Precisamos, ou aumentar o efetivo para dar conta
das duas atividades, ou priorizar o que acreditamos que a sociedade
brasileira realmente quer”, disse Ribeiro.
O delegado
lembrou a visita do Papa Francisco ao Brasil, para a Jornada Mundial da
Juventude, e a Copa das Confederações, eventos que ocorreram em meados
deste ano, e questionou: “O que queremos? Que a PF seja uma polícia que
investiga ou que participe dos grandes eventos?. Do nosso ponto de
vista, a sociedade quer uma polícia que investigue”.
Na
opinião de Ribeiro, a Polícia Federal, tem “boa” estrutura física.
“Nosso grande problema está na gestão de recursos humanos, nas relações
interpessoais e no cuidado com o que há de mais valioso na Polícia Federal, que é o seu servidor, tanto policial quanto administrativo.”
Segundo
ele, a consequência do baixo número de servidores administrativos é que
não há ninguém cuidando dessa que é uma das atividades mais
estressantes do mundo. "Não temos acompanhamento psicológico para o caso
de policiais que, no desempenho da atividade ou em legítima defesa,
disparam contra alguém. Não é à toa que, nos últimos dois anos, houve 25
suicídios de servidores do DPF. Destes, pelo menos dois eram
delegados”, ressaltou.
Para Ribeiro, dois fatores explicam o alto
índice de suicídios no departamento: a facilidade de acesso a armas e a
“insensibilidade do DPF” para enxergar que o servidor enfrenta
problemas. “Se houvesse acompanhamento psicossocial, pela nossa área
administrativa, esse índice [de suicidas] certamente seria menor, porque
[ao identificar o risco] o uso da arma poderia ser vetado”, acrescentou
o delegado. Para 56,74% dos pesquisados, faltam profissionais de
psicologia e assistência social em seus locais de trabalho. "O número de
policiais deprimidos ou vítimas de alcoolismo também assusta",
acrescentou Ribeiro.
Os delegados demonstram, porém, satisfação
com as condições de trabalho. Para 51%, o espaço físico é adequado e são
satisfatórios, em termos de quantidade e qualidade, os armamentos e
coletes (66,43% dos entrevistados), material de expediente (67,98%),
equipamentos de telefonia e fax (76,13%) e veículos usados pela
corporação (43%). “São números considerados positivos, principalmente
porque, no passado, eram muito piores”, disse Ribeiro.
“Apesar de,
em geral, os serviços de segurança e incêndio dos prédios da PF terem
boa qualidade, chama a atenção o fato de a sede [localizada em Brasília]
não ter escadas de incêndio. Preocupa-nos também a terceirização dos
serviços de tecnologia da informação porque isso representa risco [à
segurança de informações consideradas sigilosas]”, completou o dirigente
da ADPF.
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2013/09/23/delegados-da-pf-reclamam-da-falta-de-equipe-na-area-administrativa/
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