sexta-feira, 21 de junho de 2013

Há 3 anos na UTI, paciente comemora aniversário e sonha voltar para casa

Ele já recebeu alta médica, mas prefeitura ainda não montou homecare.
Gerson tem 44 anos e luta contra a esclerose em hospital de Santos

Gerson na cama da UTI do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos (Foto: Mariane Rossi/G1)Gerson na cama da UTI do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos (Foto: Mariane Rossi/G1)
 
Um paciente que sofre de uma doença degenerativa e está internado há mais de três anos em um hospital em Santos, no litoral de São Paulo, completou 44 anos de vida e recebeu o carinho de familiares e funcionários durante toda quarta-feira (19). Gerson Faltermeier, de 44 anos, está internado em uma UTI do Hospital Guilherme Álvaro desde 2009. Além de lutar contra a doença, ele busca um tratamento domiciliar. Gerson já recebeu alta médica há vários meses e já ganhou um processo na Justiça, mas o governo ainda não montou os equipamentos e nem escalou os médicos para realizar o tratamento que o paciente necessita para continuar vivendo.

Dentro do hospital, Gerson recebeu a equipe do G1 para contar sua história. Ele diz que os sintomas da doença apareceram aos poucos. Ele começou a sentir dor nas costas, depois ficou com dificuldade de andar e ia trabalhar de bicicleta. Depois, começou a perceber que tinha dificuldade para fazer algumas coisas do dia a dia, como pentear o cabelo e escovar os dentes. A fraqueza ficava cada vez mais aparente e, por isso, ele passou a usar muletas. ”Eu caía sozinho no meio da rua”, conta. Ele consertava antenas e não conseguia mais realizar o trabalho por conta dos problemas de saúde. Por isso, teve que se afastar do serviço e passou a fazer exames e procurar tratamento.
 
Em janeiro de 2010, ele passou mal em Itanhaém. Gerson foi levado para o hospital municipal, os médicos deram um antibiótico a ele e o mandaram para casa. Um dos quatro irmãos dele, Luiz Carlos Faltermeier, conta o que aconteceu. “No dia seguinte, ele tinha um exame neurológico, em Santos, para avaliar porque ele andava com a muleta e do nada caía no chão, no meio da rua. Ele andava normal, perdia as forças e caia. Depois do exame neurológico ele ficou com uma tosse. Ele disse para o médico que estava passando mal desde Itanhaém e tirou uma chapa. Depois uma médica veio e me disse para eu ir embora porque meu irmão tinha ido para a UTI e que o estado dele era grave”, lembra.

Gerson entrou em coma e depois acordou na cama de Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Guilherme Álvaro. “Eu entrei só para fazer uma consulta. Acordei desesperado. Não lembrava de nada e acordei na UTI”, explica. Três anos após o susto, Gerson continua no hospital. Os médicos coletaram seu sangue e fizeram uma série de exames. Eles conseguiram saber que Gerson tem esclerose, mas não sabem qual o tipo. Ele diz que não tem força muscular e pulmonar e, por isso, não consegue andar, está perdendo os movimentos das mãos e respira com a ajuda de aparelhos. A doença é degenerativa e os médicos acreditam que é uma herança familiar, já que a mãe de Gerson já tinha problemas semelhantes e um dos irmãos dele está começando a apresentar os mesmos sintomas.

Ele utiliza a ponta dos dedos para conseguir utilizar o computador (Foto: Mariane Rossi/G1)
Ele utiliza a ponta dos dedos para conseguir utilizar o computador (Foto: Mariane Rossi/G1)
 
Nos três anos em que está no hospital, Gerson já passou mal outras vezes. Ele diz que se sente sozinho em alguns momentos e que muitas vezes fica deprimido. “No começo ele chorava. Falava que aquilo era uma prisão”, conta o irmão. Nos primeiros meses, Gerson ficava ao lado de outros pacientes, o que o deixava pior. “Eu só via as pessoas entrarem e morrerem do meu lado. Cheguei a ir para a enfermaria, mas peguei infecção e voltei para UTI”, conta ele. Depois desse período, Gerson foi para um quarto individual e mais espaçoso.

Também ganhou um novo equipamento que lhe trouxe mais contato com o mundo. O notebook foi adaptado para ele, que nem sabia como entrar na internet e hoje não sai de frente da tela. Ele ganhou um celular e, apesar de estar com a traqueostomia, consegue falar com os filhos, de 13 e 17 anos, e familiares também. A televisão fica na sua frente e agora ele tem mais conforto para receber os parentes, que fazem visitas semanalmente. Os médicos, enfermeiros e fisioterapeutas viraram amigos e confidentes. Desde o porteiro até a diretoria conhecem a história de Gerson e o admiram por sua força de vontade e bom humor, que ele tenta manter para continuar na luta pela vida. “Todo mundo me conhece. Eu sou bem atendido aqui”, fala.

Por ser bem tratado, Gerson apresentou evoluções desde que foi internado. Karina Martin Rodrigues Silva, a coordenadora de fisioterapia das Unidades de Terapia Intensiva do hospital, acompanha o tratamento dele. “Nós sabemos que é uma doença degenerativa, mas ele está evoluindo aos poucos. A parte motora está melhorando aos poucos”, garante ela.

Gerson conseguiu alta médica há mais ou menos um mês. O problema é que a Prefeitura de Itanhaém ainda não disponibilizou o tratamento homecare, o atendimento médico em casa. “Ele tem condições de sair de uma UTI tanto pela parte médica, enfermeiros e fisioterapeutas. Na parte clínica não tem o que impeça. A luta agora é para ele ir para casa”, completa a fisioterapeuta.
Luiz Carlos, irmão de Gerson, sempre faz visitas e leva lembranças ao irmão (Foto: Mariane Rossi/G1)Luiz Carlos, irmão de Gerson, sempre faz visitas e leva lembranças ao irmão (Foto: Mariane Rossi/G1)
 
Essa luta começou há algum tempo. A família dele entrou na Justiça para provar que Gerson poderia receber tratamento em casa. A causa foi ganha, mas a prefeitura ainda não ofereceu o serviço. "A Prefeitura foi obrigada a arrumar um homecare. Eles têm que dar toda a assistência tanto o humano quanto o material. No dia que era para fazer a licitação, eles disseram que não veio nenhuma empresa. A Prefeitura foi multada em R$ 10 mil por dia. Daí eles entraram com um recurso em São Paulo”, argumenta o irmão dele. Gerson conta que funcionários da prefeitura chegaram a visitá-lo no hospital no ano passado e garantiram que ele estaria em casa neste ano, mas nada aconteceu. “Eles sumiram”, lamenta.

Weldon José Rosa, médico plantonista da UTI do hospital, afirma que o problema de Gerson já foi levado para a diretoria e que o Guilherme Álvaro já entrou em contato com a Prefeitura de Itanhaém para resolver essa questão. “O quadro dele é estável. Ele já esteve para sair daqui várias vezes, mas não montam a estrutura para ele. Estamos esperando” explica o médico.

O médico, assim como todos os profissionais do hospital e familiares esperam o dia em que Gerson possa voltar para casa. Esse é o grande desejo dele. No dia do seu aniversário, esse seria o melhor presente. “Eu queria estar em casa. Eu acordo todos os dias na esperança”, finaliza Gerson.

Em nota, a Prefeitura de Itanhaém afirma que já abriu dois processos licitatórios para contratar uma empresa prestadora de serviço de homecare para atendimento periódico de internação domiciliar, em cumprimento a determinação judicial. A Prefeitura afirma que as chamadas públicas são obrigatórias e atendem a Lei de Licitações. As mesmas foram feitas no Diário Oficial do Estado de São Paulo e em um jornal de grande circulação regional, mas não houve empresas interessadas. A Prefeitura garante que volta a preparar novo chamado público nos próximos dias.

Quarto na UTI com todos equipamentos necessários para Gerson (Foto: Mariane Rossi/G1)Quarto na UTI com todos equipamentos necessários para Gerson (Foto: Mariane Rossi/G1)

http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2013/06/ha-3-anos-na-uti-paciente-comemora-aniversario-e-sonha-voltar-para-casa.html

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