"Tráfico próximo às escolas é mais comum do que se imagina", diz professor do DF
Pesquisa mostra que Distrito Federal tem a maior incidência de venda de drogas próximo às escolas públicas.
Após saber que, no DF, mais da metade dos
estabelecimentos (53,2%), a maior proporção do País, registram a
ocorrência de venda e compra de drogas nas redondezas, o coordenador
intermediário de Direitos Humanos e Diversidade na Regional de Ensino do
Recanto das Emas (região administrativa do DF), o professor Celso
Leitão Freitas, diz que o tráfico próximo às escolas é mais comum do que
se imagina.
— As ocorrências são diárias. Pensamos que é um problema só do aluno,
mas, quando se vai atrás, a família toda está envolvida com drogas e ele
traz esse hábito de dentro de casa.
Freitas é prova de que o tráfico está associado à violência, tanto entre
pessoas, quanto a que chamou de estrutural: a falta de serviços
básicos.
— Aqui presenciamos a falta de moradia, de educação, a falta de benefícios econômicos como um todo.
Os programas para combater o uso de drogas são vários, tanto
governamentais quanto iniciativas privadas, e é consenso que para mudar a
realidade nas proximidades da escola é preciso modificar a realidade da
comunidade, por meio de assistência social e acesso a políticas
públicas e a itens básicos como saúde, saneamento, alimentação, além de
uma educação de qualidade.
Para combater o tráfico e ajudar os alunos, ainda enquanto era
professor, Freitas resolveu tomar uma iniciativa ele mesmo: criou o
projeto Estudar em Paz, para resgatar o interesse pelos estudos.
— A comunidade perdeu o encanto pela escola, precisamos resgatar isso.
Ao mesmo tempo, as ruas estão cada vez mais 'encantadoras', cada vez
mais estamos perdendo nossos alunos para o trafico.
O estudante Natanael Neves, de 18 anos, fez parte do grupo Estudar em
Paz. Dos tempos de escola, ele conta que não tinha a menor paciência,
bastava “não ir com a cara” da pessoa para já começar a bater. E a
violência estava lado a lado com o tráfico. Apesar de não ter feito o
uso de drogas, ele viu colegas consumirem tanto nas ruas, quando dentro
da escola, em São Sebastião (região administrativa do DF).
— O local tinha policiamento, mas os guardas ficam com medo. O pessoal sabe e [usar drogas] já é algo quase normal.
A agressividade foi algo que herdou de casa. Ele diz que queria chamar a
atenção dos pais. A vida pessoal acabava chegando às salas de aula:
— Na escola você só aperfeiçoa o que aprende em casa.
Hoje, Natanael se diz uma nova pessoa, foi aprovado para o curso de
gestão pública pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e pretende
voltar ao ambiente escolar depois de formado para mudar a realidade. Ele
diz que perdeu as contas dos amigos que deixaram as salas de aula por
problemas com tráfico e violência.
A pesquisa
A pesquisa se baseou nas respostas dos questionários socioeconômicos da
Prova Brasil 2011, aplicada pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), divulgada em agosto do ano
passado. A questão sobre o tráfico nas proximidades das escolas foi
respondida por 54,5 mil diretores das escolas públicas. Deles, 18,9 mil
apontaram a existência da atividade. A situação, de acordo com
especialistas, é preocupante e está associada diretamente à violência e à
precariedade que cercam muitos centros de ensino do país, além de
contribuir para que os alunos deixem de estudar.
O responsável pelo estudo, o coordenador de Projetos da Fundação Lemann,
Ernesto Martins, diz que não dá para isolar escola no contexto em que
está inserida.
— Ela faz parte de um todo maior, se há violência fora, poderá chegar
também aos centros de ensino. Basta observar que o Distrito Federal
[53,2%] e São Paulo [47,1%], [regiões] com altos índices de violência,
são [as áreas] com o maior percentual.
http://noticias.r7.com/distrito-federal/noticias/-trafico-proximo-as-escolas-e-mais-comum-do-que-se-imagina-diz-professor-do-df-20130206.html
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