Levantamento exclusivo do iG mostra que, dos 553 cursos em que as notas de aprovados pelas cotas são mais próximas às da concorrência geral, 66% são de institutos federais.
As diferenças de desempenho entre os aprovados pelas cotas ou pela
concorrência geral do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) são menores
nos cursos de institutos federais. Entre os 553 cursos com menores
diferenças entre as notas de corte – pontuação do último aprovado em
cada modalidade de seleção – de cotistas e não cotistas, 66% são dessas
instituições.
Dados do Ministério da Educação (MEC) levantados exclusivamente para o iG
mostram que diferença de desempenho dos estudantes selecionados em
primeira chamada só é insignificante, ou seja, de menos de 10 pontos a
mais tanto para cotistas em 11,54% dos casos: em 553 opções de cursos
eme um total de total 4.793 analisado pelo iG
.
Os dados se referem apenas às notas dos cursos que já
oferecem 50% de suas vagas no processo seletivo em todos os modelos
possíveis de cotas, o que totaliza 1.229 cursos. Como as universidades
ofereceram até oito modelos de cotas aos estudantes da rede pública no
Sisu, a análise considerou 4.793 notas de corte geradas a partir das
possibilidades de concorrência.
São elas: candidatos pretos, pardos ou indígenas com
renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo per capita (algumas
instituições dividiram essa categoria em duas, separando os indígenas);
candidatos pretos, pardos ou indígenas independentemente da renda (essa
categoria também foi transformada em duas por algumas instituições,
separando os indígenas); candidatos com renda familiar inferior a 1,5
salário mínimo per capita e candidatos com renda superior a essa.
As notas entre os selecionados nos diferentes tipos de
cotas e na concorrência geral dos cursos oferecidos nos institutos
federais que participam do Sisu são muito semelhantes em 364 casos.
Desses, 251 variaram, no máximo, cinco pontos.
A nota no Sisu é calculada a partir do desempenho do
estudante no Enem, cuja escala varia de 0 a 1000. Na última edição, as
notas mínimas e máximas tiradas pelos estudantes em cada prova (não há
média geral) variaram entre 277,2 pontos em matemática e 955,2 na mesma
prova. Alguns alunos alcançaram nota 1.000 na redação.
Quase iguais
Em 41 tipos de seleção oferecidos pelo Sisu, as notas
atingidas pelos últimos aprovados em cada modelo de concorrência foram
praticamente as mesmas (diferem, no máximo, em um ponto a favor dos
cotistas ou dos não cotistas). A maior parte dos casos de desempenho
semelhante ocorre entre não cotistas e os cotistas egressos de escola
pública que não fazem parte dos recortes raciais (para candidatos
pretos, pardos ou indígenas) e de renda.
Na sequência, as coincidências acontecem mais entre os
grupos de cotistas que possuem renda familiar de até 1,5 salário mínimo,
mas não se utilizaram dos recortes raciais. São nove casos nesse
recorte. Entre esses 41 cursos com maiores semelhanças de desempenho
entre cotistas e não cotistas, 30 são da área de exatas ou de saúde e 27
de institutos federais.
Os candidatos selecionados com as menores diferenças de
pontuação – menos de 0,1 ponto – entre os grupos de cotistas e os não
cotistas eram dos cursos: Engenharia Cartográfica e de Agrimensura
(integral) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRAM, câmpus
principal); Ciências Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso
(câmpus de Rondonópolis); Processos Químicos da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (câmpus de Apucarana) e Matemática do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (câmpus Valença).
Em todos, os cotistas eram do grupo que concorreu às
vagas reservadas aos egressos da rede pública independentemente da raça
ou da renda. O último aprovado nas 12 vagas oferecidas para a ampla
concorrência de Engenharia Cartográfica e Agrimensura tirou 686,4 pontos
e o que ocupou a única vaga para essa cota, 686,38. No bacharelado em
Ciências Contábeis da UFMT a diferença foi de 0,08 ponto. A nota mínima
na ampla concorrência, que ofereceu 22 vagas, foi de 609,48 pontos e,
entre os cotistas, a pontuação obtida foi de 609,4 pontos.
Nos cursos de Processos Químicos, graduação tecnológica
oferecida à noite pela UTFP em Apucarana, e no de Matemática,
licenciatura oferecida à noite no câmpus de Valença do IFET da Bahia, as
notas dos cotistas foram um pouquinho melhores. No primeiro caso, o
último selecionado pela ampla concorrência entrou com 617,86 e o último
cotista aprovado nas sete vagas reservadas para egressos da rede pública
(independentemente da renda ou raça) ficou com 617,9 pontos. No outro
curso, o não cotista tirou 610,08 e o cotista, 610,14.
Desempenhos discrepantes
Dentro dos vários grupos de cota racial do Sisu, os
modelos exclusivos para indígenas, independentemente da renda, são os
que mais têm discrepâncias de notas mínimas dos aprovados entre cotistas
e não cotistas. A raça é o fator que mais interfere nas diferenças de desempenho dos estudantes
.
O curso com diferença mais gritante é o de História da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) oferecido no câmpus do Bacanga. O
último não cotista aprovado no bacharelado oferecido no turno
vespertino tirou 662,18 pontos. O cotista aprovado na seleção específica
para indígenas que cursaram o ensino médio na rede pública,
independentemente da renda, tirou 389,74. Uma diferença de 272,44
pontos.
No mesmo câmpus da UFMA, outro caso de extrema diferença
chama a atenção. No curso de Engenharia Química (integral), 164,20
pontos separam o último selecionado pela ampla concorrência do estudante
aprovado nas cotas para indígenas (sem critério de renda).
Os outros cursos com maiores diferenças entre cotistas
(em algum dos modelos) e não cotistas foram: Educação Física (noturno)
do IFET do Paraná (157,44 pontos), Química Industrial da UFMA (156,86
pontos) e Ciências Biológicas do IFET do Paraná (155,66 pontos).
Em alguns cursos, as diferenças foram grandes também, mas
a favor dos cotistas. É o caso do curso de licenciatura em Física do
IFET Tocantins, em que o último aprovado pelas cotas para egressos da
rede pública, independentemente da renda ou raça, alcançou 705,63 pontos
e o último selecionado pela ampla concorrência, 633,68. Uma diferença
de 71,95 pontos.
Na sequência, os cotistas se saíram melhor nas seleções
dos cursos de Agronegócio do IFET Tocantins (69,55 pontos), Matemática
da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (55,82
pontos), Letras-Inglês do IFET Paraná (53,96 pontos) e Agronomia da
UFRAM (50,56 pontos).
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