As declarações feitas pelo presidente do Banco Central (BC),
Alexandre Tombini, na terça-feira (19) reforçaram entre analistas a
percepção de que a probabilidade de uma elevação dos juros básicos
(Selic) ainda em 2013 cresceu substancialmente. Tombini afirmou que os
ciclos monetários - ou seja, as altas e baixas da Selic - continuam
valendo no País. Em outras palavras, a taxa básica será reajustada para
conter a inflação se o BC entender que é preciso.
"Não há dúvidas de que a possibilidade de uma alta da Selic ocorrer
ainda neste ano vem crescendo", disse o economista-chefe do Banco Fator,
José Francisco de Lima Gonçalves. Isso não significa que essa eventual
alta ocorreria em breve, como o próprio mercado chegou a cogitar nas
últimas semanas.
Outra observação importante é a de que, mesmo com esse
aumento de probabilidade, a maioria dos economistas de mercado continua
acreditando que a Selic não sofrerá alterações neste ano. Permanecerá no
nível atual, de 7,25% ao ano, entre eles, Lima Gonçalves. "O BC poderia
trazer a inflação para o centro da meta no fim do ano ou no início de
2014, mas, para isso, seria obrigado a provocar uma recessão na economia
brasileira. Será que algum político está disposto a uma ação como
essas?", indaga.
O economista pondera que, apesar de a inflação estar forte neste
início de ano (6,15% nos 12 meses encerrados em janeiro, ante um teto de
meta de 6,5%), a atividade econômica permanece fraca. A expectativa é
de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha crescido apenas 1% em 2012. O
dado oficial será divulgado no próximo dia 1.º de março.
O economista Fabio Silveira, da RC Consultores, concorda. "No
ambiente econômico que vivemos hoje no Brasil, a única variável forte é o
consumo. Se o BC acionar a taxa básica de juros, vai atingi-la em
cheio", argumenta. Por isso, ele tem uma avaliação ousada em comparação
com muitos dos seus colegas: o Copom reduzirá novamente a Selic.
"Acreditamos em uma queda de 0,25 ponto porcentual na última reunião do
ano", disse. Nesse contexto, muitos especialistas avaliam que a taxa de
câmbio continuará a ter um papel importante no combate à inflação ao
longo de 2013.
O vice-presidente de Tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, disse
que, apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter afirmado na
sexta-feira (15) que o controle da inflação no Brasil é feito via taxa
de juros, os investidores ainda veem o câmbio como variável importante
para ajudar a deter a escalada dos preços. Na terça (19), por exemplo, o
real voltou a se fortalecer ante o dólar. A moeda americana caiu 0,41%,
para R$ 1,955. No ano, a perda ante o real é de 4,4%.
O economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, concorda que o câmbio
vem sendo usado como coadjuvante no controle da inflação. Mas, diante
das declarações de Tombini, ele levanta outra dúvida. "Se o BC realmente
elevar a Selic, será que a autoridade monetária vai soltar um pouco o
dólar, que no nível abaixo de R$ 2 representa um risco ao crescimento do
País?", indaga. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
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