Há dois anos, Eraldo, a mulher e os netos não podiam curtir o Alemão em família
Dois anos se passaram desde que a polícia e o
Exército tomaram, em pouco mais de uma hora, o quartel-general da maior
facção criminosa do Rio de Janeiro. Com o Estado dando as cartas,
moradores são unânimes ao afirmar que podem, enfim, experimentar a paz
nas ruas dos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte. Entretanto,
PMs das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) da área relataram ao R7
que, mesmo sem a ostentação e o poder de antes, traficantes ainda
dominam certos redutos e comercializam drogas quando e como bem
entendem.
Os soldados que encaram o dia a dia da patrulha nos complexos temem
por novas armadilhas do tráfico que, mesmo sufocado, sobrevive em becos
mais miúdos. Um policial que pediu para não ser identificado diz que o
clima continua tenso nas favelas ocupadas em 28 de novembro de 2010 por
Forças de Segurança.
— Nova Brasília e Alemão [ambas no Complexo do Alemão] não têm paz. Você não vê mais ostentação de arma na parte baixa, mas a bala voa lá em cima. E tem muita gente com fuzil. Eles monitoram a gente 24 horas por dia. Sempre que começamos um patrulhamento, alguém avisa a eles que estamos subindo. Os moradores, inclusive, ajudam.
— Nova Brasília e Alemão [ambas no Complexo do Alemão] não têm paz. Você não vê mais ostentação de arma na parte baixa, mas a bala voa lá em cima. E tem muita gente com fuzil. Eles monitoram a gente 24 horas por dia. Sempre que começamos um patrulhamento, alguém avisa a eles que estamos subindo. Os moradores, inclusive, ajudam.
Em meio à pobreza, ocupação revelou casas de luxo do tráfico; relembre:
Durante a ocupação, muitas casas de traficantes foram saqueadas e até
parcialmente destruídas. Eletrodomésticos foram furtados. Antes de
fugir, Pezão atirou contra aparelhos de televisão de plasma em sua
mansão.
A casa de Pezão tinha ar-condicionado até dentro do banheiro, onde havia
banheira de hidromassagem, rebaixamento do teto com gesso e iluminação
de neon. Segundo informações obtidas pela polícia, os locais eram usados
para promover festas particulares com muitas mulheres e bebidas.
Logo após a ocupação policial, crianças aproveitaram o sol na piscina da
casa de três andares de Pezão. Hoje, o Estado tenta tomar posse desse e
de outros imóveis de criminosos
A casa do traficante Mica, um dos chefes do tráfico no Complexo da Penha
também tinha piscina no terraço. Após mais de um ano foragido,
o criminoso foi preso no Carnaval passado, em Maricá, região
metropolitana do Rio.
Da laje de sua mansão, Mica tinha visão panorâmica de boa parte do Complexo da Penha.
No dia 28 de novembro de 2010, polícia e Exército invadiram os Complexos
do Alemão e da Penha para tomar o lugar o tráfico. A retomada do
território completa dois anos nesta quarta-feira (28). O R7
voltou ao conjunto de favelas para ouvir moradores e PMs de UPPs
(Unidades de Polícia Pacificadora) sobre a pacificação. A paz avançou na
região, mas policiais dizem que ainda há tráfico e fuzis na parte mais
interna das comunidades. Há dois anos, durante varredura no Alemão,
policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais)
encontraram a mansão de Pezão, chefe do tráfico no Alemão (foto). Um
quadro do cantor Justin Bieber, com marcas de tiro, chamou a atenção.
Os PMs dizem temer represálias do tráfico, como o ataque à base da UPP da Nova Brasília que terminou, em julho passado, com a morte da soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos. Ela foi atingida por um tiro de fuzil no peito. Semanas depois, outro policial foi baleado no braço. De acordo com um dos policiais ouvidos, “todo mundo trabalha com medo, porque essa coisa de bala ainda é sinistra”.
'Brinde ao novo Alemão'
Apesar disso, basta um rápido passeio para enxergar que as 130 mil pessoas divididas entre Penha e Alemão são cercadas por um cenário mais pacífico e urbanizado do que há dois anos. Os acessos às comunidades ganharam investimentos públicos. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal asfaltou ruas, reformou galerias de esgoto e substituiu parte dos apodrecidos postes de madeira que sustentavam incontáveis e embolados gatos de luz. Destaca-se também o já famoso teleférico, que transporta 10 mil passageiros por dia.
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