sábado, 30 de abril de 2016

Senadora quer suspender impeachment até julgamento de contas

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentou hoje (29) duas questões de ordem à Comissão Especial do Impeachment no Senado. Na primeira delas, a senadora pede a suspensão do processo na comissão até que as contas presidenciais de 2015 sejam julgadas pelo Congresso Nacional. 

Vanessa Grazziotin
Vanessa Grazziotin
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Vanessa alega que quando o pedido de impeachment foi acatado, o ano fiscal sequer tinha sido encerrado – a petição faz considerações a manobras contábeis praticadas pelo governo naquele ano. A senadora diz que o governo tem prazo constitucional de 60 dias após o início da sessão legislativa para apresentar a prestação de contas referente ao ano anterior, ou seja, o governo teve até o início de abril de 2016 para prestar as contas de 2015. O prazo é também posterior ao acatamento do pedido de impeachment pelo presidente da Câmara dos Deputados. 

“Os fatos constantes da denúncia sobre a qual esta comissão deverá se debruçar refere-se a condutas de 2015. Pasmem, o exercício de 2105 sequer havia se encerrado, mas o senhor presidente da Câmara, fazendo pouco caso da carta política, resolveu receber tal peça acusatória no início de dezembro de 2015”, disse a senadora. 

Ainda de acordo com a senadora, a análise da denúncia só poderia ser feita após a totalidade das contas, uma vez que ela se refere a fatos relacionados a elas. “Não existe a possibilidade de apresentação de contas presidenciais, ainda que parcial, antes desse prazo. Nem seria razoável aceitar-se contas parciais, porquanto nada dizem fora do conjunto programado do exercício completo”, disse. 

Com base nisso, Vanessa disse que as contas presidenciais precisam ser primeiro julgadas pelo Tribunal de Contas da União, cujo parecer será remetido à Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Depois de votadas pela comissão, o relatório aprovado será finalmente votado em sessão conjunta da Câmara e do Senado, quando as contas poderão ser finalmente rejeitadas ou aprovadas integral ou parcialmente. 

Vanessa Grazziotin apresentou também questão de ordem na qual levanta suspeição sobre o relator na comissão, senador Antônio Anastasia (PSDB-MG). Os senadores governistas alegam que Anastasia também praticou as chamadas pedaladas fiscais quando foi governador de Minas Gerais. 

A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que presidia a sessão em substituição ao presidente Raimundo Lira (PMDB-PB) no momento da apresentação das questões de ordem, recebeu os pedidos e informou que eles seriam discutidos pelos membros da comissão posteriormente. 

Em seguida, os ministros que foram convidados para apresentar a defesa da presidenta Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, da Advocacia Geral da União; Nelson Barbosa, da Fazenda; e Kátia Abreu, da Agricultura; fizeram suas considerações finais após mais de nove horas de reunião. 

http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/impeachment/senadora-pede-suspensao-de-impeachment-ate-julgamento-das-contas-de-2015,a207d3c53a4bbf207d84e3d439f58106o0fh1u69.html

A economia de Meirelles

O ex-presidente do Banco Central deve ser o chefe das finanças do governo Michel Temer, caso o Senado afaste a presidente Dilma Rousseff. Conheça as suas armas para tirar o País da recessão

Henrique Meirelles, provável ministro da Fazenda num eventual governo Michel Temer, em declaração na sexta-feira 29: “restaurar a confiança na solvência do estado brasileiro e adotar medidas que possam, conjuntamente com a restauração da confiança, levar um aumento de investimento”
Henrique Meirelles, provável ministro da Fazenda num eventual governo Michel Temer, em declaração na sexta-feira 29: “restaurar a confiança na solvência do estado brasileiro e adotar medidas que possam, conjuntamente com a restauração da confiança, levar um aumento de investimento” ( foto: Na lata)
 
Desde a sua saída da presidência do Banco Central (BC), no fim de 2010, Henrique Meirelles jamais abandonou o desejo de retornar ao proscênio da política. Muito elogiado pelos seus oito anos à frente da autoridade monetária, Meirelles avaliava concorrer a um cargo eletivo. Para os amigos e assessores mais próximos, jamais escondeu a sua lista de pretensões, que incluíam o governo de Goiás, seu estado natal, a Prefeitura e o Governo de São Paulo, e até a Presidência da República.

Na campanha de 2010, tentou ocupar a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff. Preterido pelo PMDB em favor de Michel Temer, acabou arquivando temporariamente os planos políticos para se dedicar ao setor privado e à presidência da Autoridade Pública Olímpica (APO), órgão responsável por gerenciar as obras no Rio de Janeiro. Agora, a poucos dias da decisão do Senado sobre o afastamento da presidente Dilma, Meirelles está a um passo de voltar a Brasília. Após um profícuo encontro com o vice-presidente Temer, seu nome foi selado para o Ministério da Fazenda.

Aos 70 anos, o goiano formado em engenharia civil, que virou executivo financeiro de sucesso, terá pouco tempo e uma pequena margem de manobra para enfrentar a maior recessão da história do País. Temer tem sido cauteloso na formação do seu futuro governo. Não quer passar a impressão aos senadores, que ainda votarão o processo de impeachment de Dilma, de que está sentando na cadeira antes da hora. “Não posso, em respeito ao Senado, tratar da formação de um eventual governo, mas tenho que estar preparado para, conforme o rito, assumir o governo no dia seguinte, caso a decisão seja pelo afastamento temporário da senhora presidente da República”, afirmou Temer, na terça-feira 26.

Essa preparação tem sido feita através de inúmeras reuniões no Palácio do Jaburu, sede oficial da Vice-Presidência, além de encontros políticos como o realizado na quarta-feira 27, com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Aécio Neves (PSDB-MG), na residência oficial da Presidência do Senado Federal. Na tarde de sábado 23, Temer recepcionou Meirelles para uma longa conversa sobre a situação econômica do País. O diagnóstico dramático não surpreendeu o vice-presidente, que havia recebido, dias antes, análise semelhante do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

No entanto, ficou “muito bem impressionado”, segundo suas próprias palavras, com as ideias de Meirelles para virar o jogo num mandato que terá apenas dois anos e meio de duração. Ao jornal O Globo, Temer informou que escolherá o ministro do Planejamento (será o senador roraimense Romero Jucá), mas delegará “ao Meirelles” a indicação do presidente do BC e outros integrantes da equipe econômica. “Confesso que se eu tivesse que assumir hoje, o Ministério da Fazenda seria dele”, afirmou Temer, se referindo ao ex-presidente do BC. Imediatamente a Bovespa passou a subir e encerrou o pregão do dia em forte alta.

O mercado financeiro aplaude a ida de Meirelles para a Fazenda por seu histórico como guardião da moeda, sua credibilidade internacional e sua larga experiência no setor privado, que inclui a presidência mundial do BankBoston, na década de 1990, e, atualmente, a presidência do Conselho da J&F, holding do grupo que detém as marcas Friboi, Seara, Vigor e Havaianas, além do Banco Original, Eldorado Brasil e Canal Rural, entre outros negócios. “Meirelles é um executivo de mão cheia, que atrai pessoas competentes”, diz José Júlio Senna, ex-diretor do BC. “É difícil pensar num nome melhor neste momento.”

A favor do ex-presidente do BC conta ainda o seu interesse pela política, que lhe será de grande serventia nas difíceis negociações com os parlamentares. “Meirelles tem experiência para dizer ‘não’ e isso será importante, por exemplo, na renegociação das dívidas dos Estados”, diz Carlos Thadeu de Freitas, chefe do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Além disso, contará com um Congresso mais dócil, com maioria pró-Temer. Eleito deputado federal pelo PSDB (foi o mais votado em Goiás), em 2002, Meirelles não chegou a frequentar o Salão Verde do Congresso Nacional, pois aceitou o convite do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o BC.

Em 2009, se filiou ao PMDB de olho nas eleições do ano seguinte, mas não se candidatou. Em outubro de 2011, migrou para o PSD, partido criado pelo ex-ministro Gilberto Kassab, com a intenção de disputar a Prefeitura de São Paulo. Foi sondado para concorrer ao governo paulista, na eleição seguinte, quando afirmou, em entrevista à DINHEIRO, que “ser governador do maior estado do País era uma questão de oportunidade e destino”. A oportunidade não surgiu e o destino lhe coloca agora novamente em Brasília.

ARMAS ECONÔMICAS Com a situação fiscal em frangalhos – o País registra sucessivos déficits primários desde 2014 –, o ministro da Fazenda do novo governo sabe que a prioridade é colocar as contas públicas numa trajetória sustentável. Porém, o orçamento engessado, que torna obrigatórios mais de 90% dos gastos, dificulta a missão. A pedido de Temer, o senador Jucá, cotado para o Ministério do Planejamento (conheça a lista dos ministeriáveis ao longo desta reportagem), trabalha no Congresso Nacional pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a desvinculação de 25% das receitas de Estados, municípios e União pelos próximos quatro anos.

Interlocutores do vice-presidente da República garantem que está descartada, ao menos inicialmente, uma rodada de elevação de tributos. Esse discurso foi repetido em um encontro de seis horas com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, no domingo 24. “Ele não é a favor de aumento de impostos”, afirmou Skaf. A posição de Temer difere parcialmente da opinião de Meirelles que avaliara, uma semana antes, em Nova York, que seria preciso elevar a carga tributária “temporariamente” para melhorar o quadro fiscal.

No mesmo evento, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, o futuro ministro da Fazenda externou alguns pontos de vista que simbolizam suas armas econômicas para dar um choque de expectativas. Na área fiscal, ele prega a desindexação do salário mínimo, cuja fórmula engloba a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes e a inflação do ano anterior. Além disso, defende uma reforma da previdência, com adoção de idade mínima, e uma reforma tributária que simplifique o sistema de impostos do País.

Assessores do PMDB sinalizam que a tesoura do governo poderá atingir até 60% dos investimentos, mantendo apenas as obras já em andamento. No âmbito monetário, Meirelles não abre mão do atual nível de reservas cambiais, acima de US$ 350 bilhões, nem da livre flutuação do câmbio, que só sofreria intervenções em momentos de alta volatilidade. Com a autoridade de quem foi o mais longevo presidente do Banco Central, Meirelles empunha a bandeira da autonomia formal do órgão.

A independência do BC, na avaliação dos especialistas, poderia gerar condições mais favoráveis para o País ter juros menores. No mercado financeiro, já existe uma avaliação predominante de que a recessão é tão profunda que o atual nível de juros tornou-se desnecessário para derrubar inflação. “Se a inflação está caindo de 10% para 7%, há espaço para a Selic cair três pontos percentuais, mantendo o mesmo patamar de juro real”, diz Érico Ferreira, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

Na quarta-feira 27, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter, por unanimidade, a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, mas não fechou as portas para um futuro corte. Além de reduzir a Selic, Meirelles acredita que a melhor forma de despertar o “espírito animal” do empresariado é desengavetar as concessões de infraestrutura. São projetos de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos que, somados, podem movimentar quase R$ 200 bilhões em investimentos nos próximos anos e, de quebra, melhorar a arrecadação do governo federal.

Outro ponto que agrada o setor privado é a flexibilização das leis trabalhistas, dando mais autonomia para as negociações entre sindicatos e empresas. “Com Meirelles, o governo Temer se blinda das críticas do PT, pois ele foi ‘companheiro’ dos ‘companheiros’ no governo Lula”, diz Roberto Macedo, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. Com o objetivo de reafirmar sua posição em favor dos mais carentes, o PMDB está apresentando um plano social.

Na sexta-feira 29, após novo encontro, desta vez na casa de Temer, em São Paulo, Meirelles foi indagado sobre os desafios do novo governo. “Em primeiro lugar, restaurar a confiança na solvência futura do Estado brasileiro”, afirmou. “E, em segundo lugar, adotar medidas que possam, de fato, conjuntamente com a restauracão da confiança, levar a um aumento de investimento e, em consequência, das contratações, das concessões de empréstimos, para que as empresas voltem a produzir, contratar e reverter a trajetória da contração da economia brasileira hoje.” Além das declarações públicas, é possível decifrar o seu pensamento econômico a partir dos seus artigos publicados na Folha de S.Paulo.

O texto mais recente destaca que os investidores internacionais terão um “papel fundamental” na retomada da economia brasileira, via investimento direto ou aquisição de ações e títulos de empresas. Nos seus 17 artigos publicados neste ano, as 10 palavras mais utilizadas foram: economia (40 vezes); Brasil (39); inflação (37); investimento (33); política (27); mercado (25); crescimento (22); juros (21); expectativa (21); e confiança (20). O vocabulário de Meirelles reforça a percepção de que ele já tem o diagnóstico correto dos problemas e o plano para tirar o País do buraco. Só faltam o sinal verde do Senado Federal e a assinatura de Temer.
“Meirelles é banqueiro. Não é milagreiro”
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, elogia a escolha de Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, mas salienta que os desafios fiscais são enormes
Qual a sua avaliação sobre a escolha de Meirelles para a Fazenda?
É um bom nome, tem as ideias certas e vai montar um time bom. Ele é banqueiro, mas não é um milagreiro.
Ele terá mais respaldo político do que o Joaquim Levy teve?
Menos respaldo seria difícil. O Joaquim ficou solenemente pendurado na brocha a maior parte do período dele na Fazenda, pedindo uma escada, mas não deram. O vice-presidente Michel Temer está a par do que está acontecendo e parece ter entendido o tamanho da encrenca.

O ajuste fiscal será realizado?
Sou pessimista em relação ao tamanho do ajuste necessário. São R$ 200 bilhões a R$ 300 bilhões em 5 anos.
Como foi sua convivência com Meirelles no Banco Central? 
Trabalhei dois anos e meio com o Henrique e nos demos bem. Ele é bastante reservado. Agora, com ele na Fazenda, acredito que o BC terá independência.
-----
“O primeiro passo é reduzir os juros”
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, defende a redução imediata dos juros para melhorar a dívida pública
Qual a sua avaliação sobre a escolha de Meirelles para a Fazenda?
Antes de mais nada, gostaria de dizer que eu não acho bom para a democracia esse tipo de troca de governo. Quanto ao Meirelles, eu vejo com preocupação o histórico de juros altos.
Já é possível reduzir os juros?
Claro. É uma aberração manter a taxa de juros com a inflação despencando por causa da recessão. A trajetória da relação dívida/PIB é crescente por causa do impacto dos juros. O primeiro passo é reduzi-los.
O sr. acha que o resultado ruim contribuiu para o apoio da população ao impeachment da presidente Dilma Rousseff?
O ambiente ruim na economia, sem dúvida, ajudou muito. É muito claro. É só olhar as pesquisas de opinião.
-----
Presente de grego para o novo governo
Por Gabriel Baldocchi
Uma bomba fiscal de R$ 402 bilhões espera Michel Temer caso a presidente Dilma Rousseff seja afastada pelo Senado no início de maio. O peemedebista terá de convencer os governadores a recuarem da ofensiva no Supremo Tribunal Federal (STF) em busca de revisão da forma de cálculo da dívida dos Estados com a União. A decisão do pleito iniciado por Santa Catarina estava prevista para a sessão da quarta-feira 27, mas foi adiada por 60 dias para que as partes possam negociar.

Diante de uma crise profunda no caixa do Estado, o governador catarinense, Raimundo Colombo (PSD), aproveitou uma brecha legal para defender a incidência de juros simples, em vez de compostos (juros sobre juros), sobre o estoque da dívida, contrariando a lógica prevalecente na esmagadora maioria dos contratos financeiros. Se a tese for aceita, as dívidas estaduais com o governo federal cairiam de R$ 421 bilhões para R$ 42 bilhões e gerariam uma insegurança jurídica para todo o conjunto de operações no País – qualquer um poderia questionar os mesmos direitos num financiamento de veículos, por exemplo.

Por essa lógica, os impactos são incalculáveis. Até agora, oito Estados conseguiram liminares favoráveis à questão dos juros simples, com um impacto de R$ 2,6 bilhões para a União, apenas em abril. A decisão continua a valer durante os 60 dias. A proposta inicial da equipe econômica para aliviar a crise nos Estados previa um alongamento da dívida e uma redução temporária nas parcelas. Havia resistência, porém, em relação às contrapartidas exigidas, como a proibição à renúncia tributária, redução nas despesas com cargos comissionados e adoção de leis de responsabilidade estaduais. “A renegociação das dívidas foi bastante favorável”, afirma Mônica Mora, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“A iniciativa de pleitear no STF fugiu um pouco do que poderíamos esperar nesse momento.” Uma grande negociação de dívida foi fechada entre Estados e União em 1997. O endividamento vinha caindo desde então, mas um novo ciclo de crédito se iniciou após a crise financeira de 2008 e culminou num novo acordo, em 2014. “Teve um momento de bonança e os governos estaduais acabaram fazendo novos gastos”, afirma Vilma Pinto, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). “Não estavam preparados para enfrentar um momento adverso como o atual.”

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20160429/que-henrique-meirelles-pode-fazer-pela-economia/367769

Novos inquéritos contra Cunha apuram uso do mandato para crimes

Objetos de ambos inquéritos são os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Janot já havia escrito no pedido de afastamento de Cunha
Janot já havia escrito no pedido de afastamento de Cunha
 Os dois novos inquéritos abertos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em segredo de Justiça, contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, investigam o uso de seu mandato para práticas criminosas.

Em um deles, a linha de investigação é o uso do mandato de Cunha e de deputados próximos para pressionar o grupo Schahin e favorecer o corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro.

No outro, o foco é a atuação de Cunha pela aprovação de medidas provisórias no Congresso Nacional em favorecimento a aliados, como o banqueiro André Esteves, ex-presidente do BTG Pactual, e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.

Os objetos de ambos inquéritos são os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já havia escrito no pedido de afastamento de Cunha, protocolado junto ao Supremo, que o peemedebista tem praticado "desvio de finalidade" no seu mandato parlamentar.

Na peça, Janot lista diversas medidas provisórias suspeitas de terem sido manipuladas por Cunha para favorecimento indevido a Léo Pinheiro, de quem o deputado era próximo. Os indícios apontados são mensagens encontradas no celular do empreiteiro.

Uma delas é a MP 584/2012, que concedia isenção às empresas vinculadas às Olimpíadas de 2016.
"No mesmo dia, Cunha perguntou se na Medida Provisória 584/2012 há emendas da OAS e da prefeitura e que estaria vendo com Dornelles, referindo-se ao deputado Francisco Dornelles.

Alguns dias depois, Cunha cobrou o pagamento de valores, que, pelo teor das conversas anteriores, era em duas partes: R$ 1.500.000,00 e R$ 400.000", escreveu Janot.

Já em relação à Schahin, a suspeita é que requerimentos na Câmara de convocação de diretores do grupo foram usados para pressioná-los por causa de uma disputa comercial com Funaro.

Neste caso, além de Cunha, outros deputados aliados dele também devem ser investigados. Há requerimentos contra a Schahin assinados por vários parlamentares próximos a Cunha, como os hoje ex-deputados Nelson Bornier (PMDB-RJ) e Alexandre Santos (PMDB-RJ).

Dois empresários do grupo, os irmãos Milton e Salim Schahin, até disseram em depoimentos que foram ameaçados de morte por Funaro.

Outro lado 
Cunha, por meio de sua assessoria, nega as acusações do uso do mandato para práticas criminosas. Ele também tem dito que não responde por requerimentos apresentados por outros deputados.

A reportagem não localizou a defesa de Léo Pinheiro.
A defesa de André Esteves afirma que "não há nenhuma irregularidade" da parte dele e que vai aguardar o andamento das investigações.

Funaro, em documento enviado ao Supremo por seu advogado, chamou de "absurda" a acusação de ameaça de morte, disse que "jamais" teria influência para fazer Cunha agir em seu favor e sustentou que o grupo Schahin merecia ser investigado justamente por estar envolvido em irregularidades comprovadas na operação Lava Jato.

Procurada nesta sexta-feira (29), a assessoria do governador interino do Rio, Francisco Dornelles, não respondeu até a conclusão desta reportagem.

http://minasgerais.ig.com.br/?url_layer=2016-04-29/11289072.html

Em 'último suspiro', Dilma mira 2018 e legado pessoal, diz brasilianista

Presidente tem acenado medidas de última hora para reparar, a longo prazo, sua imagem e a do Partido dos Trabalhadores


Acenos de Dilma a estudantes e indígenas e novas ações em programas como o Mais Médicos miram chances do PT em 2018 e legado pessoal de presidente, diz brasilianista Matthew Taylor
Roberto Stuckert Filho/ PR - 22.04.16
Acenos de Dilma a estudantes e indígenas e novas ações em programas como o Mais Médicos miram chances do PT em 2018 e legado pessoal de presidente, diz brasilianista Matthew Taylor
Às vésperas da votação no Senado que pode levar a seu afastamento por até 180 dias, a presidente Dilma Rousseff tem acenado com medidas “de última hora” a indígenas e pequenos agricultores, além de tentativas de expandir o programa Mais Médicos e reajustar o Bolsa Família.
Matthew Taylor
 
Matthew Taylor
Para o brasilianista Matthew Taylor, professor da American University e membro dothink tank Council on Foreign Relations, baseado em Washington, as iniciativas chegam “tarde demais” para surtirem efeito imediato, e miram muito mais uma potencial candidatura do PT em 2018 e o legado pessoal da presidente.

Em entrevista à BBC Brasil, Taylor indicou que as ações de Dilma chegam após amplas concessões dos governos do PT ao que classifica como a bancada “BBB” (Bíblia, Bala e Boi) - que a abandonou e votou em massa a favor do impeachment - e visam reparar, a longo prazo, a imagem de Dilma e do Partido dos Trabalhadores.

No entanto, o especialista acredita ser muito difícil que a presidente consiga “apagar sua história como a ‘gerentona do PAC’ e a pessoa que pressionou para a construção da hidrelétrica de Belo Monte com muita força e a contragosto de muitos grupos da esquerda tradicional no Brasil”.

Veja os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Como o senhor avalia o estágio atual da crise política no Brasil?Matthew Taylor - Há uma grande possibilidade de o Senado remover Dilma do poder até a metade de maio, levando a sua suspensão por até 180 dias. Se isso acontecer, creio que as chances de ela ser permanentemente afastada do cargo sejam muito altas. Mas uma vez que ela esteja temporariamente afastada, o vice-presidente Michel Temer já terá o poder de gerenciar as verbas da União, o que é um fator importante. Diante desse cenário, o que temos visto é que a presidente tem feito tudo que está ao seu alcance para tentar ganhar vantagem nesta reta final e deslegitimar tanto o processo de impeachment quanto a figura de Temer.

Uma frente para atingir estes objetivos é tentar dividir o Senado, buscando a criação de uma divisão dentro do PMDB. Outra iniciativa é falar mais com a mídia internacional e atores internacionais. Embora isso possa ter efeitos limitados, é algo importante porque faz com que Dilma apareça com líderes mundiais, e em ocasiões como o discurso na ONU, que apesar de ter sido contido, trouxe vantagens para ela. Uma terceira via foi tentar criar a percepção de que Temer cancelaria os programas sociais, que foi eficientemente rebatida pelo vice-presidente.

BBC Brasil - Nos últimos dias a presidente Dilma Rousseff tem acenado com medidas em áreas como a educação, a pequenos agricultores, indígenas, além de anunciar mais financiamento para habitação e ações para expandir o programa Mais Médicos. Como o senhor avalia tais iniciativas? São ações que podem surtir efeito positivo para o governo e a presidente a curto prazo?
Taylor -
Eu acrescentaria à esta lista a tentativa de reajustar o Bolsa Família. São ações que chegam tarde demais para surtirem qualquer efeito positivo nos próximos seis meses, e eu imagino que a presidente esteja ciente disso. Eu interpreto esses pacotes de medidas como uma tentativa de pensar mais à frente, para 2018, para uma potencial candidatura do PT, e também a longo prazo, pensando no legado e na imagem pessoal da presidente. Mas eu acho que é muito difícil para ela tentar apagar sua história como a “gerentona do PAC” e a pessoa que pressionou para a construção da hidrelétrica de Belo Monte com muita força e a contragosto de muitos grupos da esquerda tradicional no Brasil.

São medidas que também visam melhorar a imagem do PT, que governou tentando agradar e manter o apoio das bancadas “BBB” (Bíblia, Bala e Boi), e ao satisfazer esses grupos deixou de lado a esquerda tradicional que sempre esteve ao lado do partido. Governar para manter o apoio dessas bancadas significou ser menos progressista em áreas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em temas de raça, drogas, crime, direitos indígenas e no setor agrícola.
Presidente em entrega de habitações populares
Agência Brasil
Presidente em entrega de habitações populares

Eles fizeram muitas coisas boas, obviamente, mas a lógica de manter o apoio dessas bancadas os manteve atrelados a não progredir em vários assuntos. A curto prazo, agora que essas bancadas abandonaram a presidente e votaram em massa a favor do impeachment, não há mais nada que a prenda, e por isso algumas dessas medidas podem ser colocadas em prática mesmo que ela tenha potencialmente apenas mais duas semanas no cargo.

BBC Brasil - Com a iminente votação do processo de impeachment no Senado, os 100 dias para as Olimpíadas, e o estágio atual da crise política e econômica, como o senhor vê a avaliação atual da comunidade internacional sobre o Brasil?Taylor - É muito difícil evitar a conclusão de que o país atravessará um período extremamente complexo até 2018. Com relação à Olimpíada, eu sou cautelosamente otimista, embora a queda da ciclovia tenha sido um choque a nossa confiança. Mas de forma geral eu creio que à essa altura os Jogos já estejam em “piloto automático”. Haverá problemas, mas eu não acredito na possibilidade de que a Olimpíada seja um fracasso catastrófico. Haverá certa tensão com relação aos problemas sociais do Rio, custos excessivos de obras e poluição, mas parece que as instalações estão avançadas e tudo caminha bem.

A respeito da trajetória do Brasil até 2018, a situação fiscal do país é tão crítica que não importa quem seja o presidente, haverá muitas dificuldades. Este será um problema cuja solução necessariamente vai requerer reformas impopulares. Há muito pouco que Temer possa fazer para conseguir emplacar uma correção fiscal a curto prazo, em meio a um período turbulento e sendo um governo de transição cuja legitimidade será constantemente questionada.

BBC Brasil - Embora analistas viessem apontando para uma forte oposição dos movimentos sociais contra um eventual governo Temer, o vice-presidente começou a se reunir e ensaiar negociações com grupos de sindicalistas. Pode haver uma surpresa, com menos turbulência entre estes grupos e um eventual novo governo do PMDB?
Taylor -
Eu acho que a lua de mel de Temer acabou. É possível que haja um maior diálogo com esses grupos, mas eu acho que os assuntos que ele buscará avançar para tentar virar a página da crise econômica atingirão fortemente sua imagem. Em resumo, eu acho que ele pode alinhar apoio de políticos em Brasília, mas nas ruas de São Paulo, Rio, e ao redor do país, eu suspeito que a dor causada pelas medidas criará algum tipo de reação negativa a ele.
Temer tem se aproximado de sindicalistas
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - Abr
Temer tem se aproximado de sindicalistas

BBC Brasil - A cobertura da imprensa internacional sobre a crise política e a votação do impeachment tem sido bastante crítica. Na sua opinião, que sinal o país envia à comunidade internacional neste momento?
Taylor -
A mensagem ainda é muito nebulosa. Por um lado há um sinal de muita esperança que vem do fato de que apesar de toda a turbulência e do caos as instituições democráticas parecem estar funcionando razoavelmente bem. Eu acho que o mundo, se eu posso dizer que Washington, onde estou baseado, pode falar pelo mundo, está perplexo com o que está acontecendo no Brasil, mas ainda mantém a esperança de que a democracia permanecerá forte e até agora os sinais são de que as coisas vão continuar caminhando com respeito às regras institucionais democráticas.

BBC Brasil - Que tipo de impacto aparições internacionais, como o discurso de Dilma na ONU, podem ter? Podem se converter em um “tiro no pé” diplomático?Taylor - Eu acho que é difícil que após iniciativas deste tipo vejamos declarações de líderes mundiais nos mesmos moldes do que foi dito pela Unasul e pela Organização dos Estados Americanos (OEA). É mais provável que haja posicionamentos mais moderados, como o do secretário-geral das Nações Unidas, alertando sobre e preservação da estabilidade das instituições. Acho que esse é o máximo de apoio que Dilma vai conseguir no exterior. Por outro lado, é positivo para ela aparecer no cenário internacional, apertando a mão de líderes mundiais. São imagens que podem ser poderosas numa batalha por legitimidade.

Eu acho que há mais chances desses esforços de Dilma se tornarem um “tiro no pé” dentro do Brasil do que no exterior. Dentro do país eu acredito que tais iniciativas para angariar apoio internacional podem ser vistas como uma uma tentativa de levar assuntos internos para o exterior, que poderiam afetar a imagem do país. E de qualquer forma é muito difícil imaginar que qualquer declaração de líderes internacionais possa ter algum efeito prático sobre lideranças brasileiras e o processo de impeachment.
BBC Brasil - Embora tenha sugerido que denunciaria uma tentativa de golpe na ONU, a presidente alterou o tom de sua fala para algo muito mais brando. Na sua opinião, a que se deve a mudança?Taylor - Minha suspeita é de que as declarações de três juízes do STF sugerindo que isso não seria uma boa ideia fizeram com que a presidente mudasse de posição. Havia uma movimentação na oposição também, de que isso seria falar mal do Brasil fora das fronteiras do país, e que isso seria negativo para a imagem do Brasil. Mas é importante lembrar que embora não tenha dito muito sobre a crise na Assembleia Geral, Dilma falou em oportunidades laterais com jornalistas. Na prática ela fez as duas coisas: cumpriu seu papel de estadista na ONU e também mandou seu recado à comunidade internacional.

BBC Brasil - Nos últimos dias os jornais brasileiros estamparam em suas manchetes um pedido da presidente para que a Unasul e o Mercosul avaliem impor sanções ao Brasil. É incomum que um presidente peça a imposição de sanções contra seu próprio país?
Taylor -
É incomum, sim, mas tudo tem sido incomum no Brasil nesses últimos dias. Eu acho que ela está tentando utilizar todas as ferramentas a sua disposição, e creio que o argumento central pelo qual Dilma está lutando é o da legitimidade. Ela fará qualquer coisa para levantar dúvidas. É uma boa estratégia política, não tanto para salvar seu mandato, já que as chances de ela sobreviver ao impeachment são muito reduzidas, mas mirando 2018 e a construção de seu próprio legado pessoal.

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2016-04-30/em-ultimo-suspiro-dilma-mira-2018-e-legado-pessoal-diz-brasilianista.html