quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Um ano após queda do avião de Campos, vítimas lutam para voltar à vida normal

Imóveis atingidos pelos detroços do avião ficaram interditados de agosto a janeiro; moradores lutam para superar traumas

Acidente com Eduardo Campos completa um ano nesta quinta-feira, dia 13
PSB
Acidente com Eduardo Campos completa um ano nesta quinta-feira, dia 13
Um ano após a queda do avião que matou sete pessoas, entre elas o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, moradores e proprietários ainda lutam para voltar à vida normal e lutam para superar traumas, como o medo de ficar sozinho em casa, depressão, ou mesmo o fato de ter ficado sem uma lar por mais de seis meses.

Apenas dois dos moradores ou proprietários dos 14 imóveis atingidos (13 casas e uma academia de ginástica) aceitaram um acordo financeiro para não processar os donos da aeronave e o PSB.

Além de Campos, também morreram no acidente o assessor Carlos Augusto Leal Filho, o chefe de gabinete no governo de Pernambuco, Pedro Valadares Neto, o cinegrafista Marcelo Lyra, o fotógrafo Alexandre Severo e o piloto Marcos Martins e o copiloto Geraldo M. P. da Cunha. A causa do acidente ainda está sendo investigada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Os imóveis, localizados no bairro Boqueirão, ficaram interditados de agosto a janeiro, quando as reformas começaram a ser feitas para possibilitar a volta para a casa. Durante a interdição da área, s pessoas preferiram ir para casa de parentes em vez do abrigo oferecido pela Prefeitura de Santos.

No prédio atrás do terreno onde caiu o avião, a reforma só terminou em maio, quando as pessoas puderam voltar para suas casas, após passarem 10 meses vivendo de favor com familiares. Marlene Rodrigues Martinez, mora em um apartamento no térreo com duas irmãs. Segundo ela, a maior parte dos dejetos do acidente foram retirados do terreno pela porta de sua casa.

O dono da academia Mahatma, Benedito Juarez Câmara, de 69 anos, reabriu a academia em 13 de julho deste ano. Antes de conseguir isso, ele precisou contar com a ajuda e solidariedade de fornecedores que venderam equipamentos que só serão pagos em junho de 2016, de alunos (que frequentavam suas aulas em locais improvisados), de uma escola (que emprestou a piscina duas vezes por semana para aulas de natação e hidroginástica) e até de um concorrente (que emprestou uma sala para que ele continuasse parte das aulas de musculação).

Edna da Silva, de 54 anos, que teve sua casa invadida e destruída pela turbina em chamas do avião aterrissou na sala de estar, luta com um casal de filhos e uma neta para superar os traumas. Todos os familiares estavam em casa na hora do acidente, menos Edna, que estava no trabalho.
“Derramou combustível da aeronave e o fogo se alastrou. Foi um milagre todos terem se salvado, mas ficaram com queimaduras e cortes. Pegou fogo em tudo, com exceção do meu quarto. A Sthephany ficou muito abalada porque perdeu a gatinha, Janis. Mas ela teve muita ajuda e vai superando melhor tudo. Ela ganhou um curso de modelo no mês seguinte à queda do avião, o que a ocupou e lhe rendeu um novo guarda-roupa e mexeu positivamente com a vida dela. Isso tudo foi uma benção. Nós, os adultos, ficamos mais de três meses usando as roupas de doações e ainda não lidamos com tudo o que ocorreu. Não sei se será possível superar tudo, mas vamos melhorando um dia de cada vez. Eu queria poder esquecer tudo”, conta Edna. 

Ela move duas ações na Justiça, uma contra a F Andrade (empresa que seria dona da aeronave) e outra ação contra o PSB. “A única coisa que o PSB e o Márcio França fizeram foi mentir nos jornais. Eles poderiam ter dado um socorro, em um momento tão difícil. Além de ter a minha casa completamente destruída, perdemos todos os documentos, móveis e utensílios domésticos. A gente viveu de solidariedade, da doação de tudo por pessoas que não nos conheciam”, conta Edna, que está endividada após ter de comprar todos os móveis e eletrodomésticos da casa. A vítima gastou cerca de R$ 25 mil apenas com isso e está endividada nas parcelas desses pagamentos.

Sérgio Azevedo, funcionário público aposentado, é aluno da academia Mahatma e estava no local, na hora da queda do avião e disse que a explosão no terreno ao lado causou um grande estrondo, além de calor insuportável. 
Imagens do local onde caiu o avião um ano após acidente:
Avião caiu em terreno desabitado, no bairro Boqueirão, em Santos (SP). Destroços atingiram 14 imóveis . Foto: Maíra Teixeira/iG
Edna da Silva, de 54 anos, teve sua casa invadida pela turbina do avião, que estava em chamas e incendiou a sala, onde estava a neta de 9 anos. Foto: Maíra Teixeira/iG
Marlene Rodrigues Martinez com um dos cães que sumiram após acidente. . Foto: Maíra Teixeira/iG
Benedito Juarez Câmara, dono da academia Mahatma. Foto: Maíra Teixeira/iG
Laura e Sérgio Azevedo são alunos da academia e estavam no local na hora da queda do avião. Foto: Maíra Teixeira/iG
Avião caiu nas imediações da rua Alexandre Herculano, no Boqueirão, bairro nobre de Santos (SP). Foto: Maíra Teixeira/iG
Local onde caiu o avião fica no Boqueirão, área nobre próxima ao Canal 3, em Santos (SP). Foto: Maíra Teixeira/iG
Além de Eduardo Campos, mais seis pessoas morreram no acidente aéreo. Foto: Maíra Teixeira/iG
Avião destruiu muro de prédio, que tinha seguro. Na foto, parede já está reconstruída. Foto: Maíra Teixeira/iG
Muro de prédio que faz divisão com local onde caiu o avião foi reconstruído. Foto: Maíra Teixeira/iG
Marlene Rodrigues Martinez na cozinha de sua casa, por onde Defesa Civil transportava dejetos. Foto: Maíra Teixeira/iG
Avião caiu no meio das casas . Foto: Maíra Teixeira/iG
Fachada da academia Mahatma não foi atingida, apenas a parte interna. Foto: Maíra Teixeira/iG
Dono da academia mostra recortes de jornais que afirmaram que PSB pagariam custos das famílias prejudicadas pelos destroços; . Foto: Maíra Teixeira/iG
Dono da academia, Benedito Juarez Câmara, mostra recortes de jornais que afirmaram que PSB pagariam custos das famílias prejudicadas pelos destroços. Foto: Maíra Teixeira/iG
Dono da academia mostra recortes de jornais que afirmaram que PSB pagariam custos das famílias prejudicadas pelos destroços. Foto: Maíra Teixeira/iG
Dono da academia guarda jornais que afirmaram que PSB pagariam custos das famílias prejudicadas pelos destroços; . Foto: Maíra Teixeira/iG
Foto de jornal mostra destruição da academia Mahatma. Foto: Maíra Teixeira/iG
Recorte de jornal da época. Foto: Maíra Teixeira/iG
Dono da academia mostra matéria na qual PSB afirma que pagaria custos e indenizações dos vizinhos prejudicados pelos destroços. Foto: Maíra Teixeira/iG
Dono da academia mostra matéria na qual PSB afirma que pagaria custos e indenizações dos vizinhos prejudicados pelos destroços. Foto: Maíra Teixeira/iG
Eduardo campos. Foto: Maíra Teixeira/iG
Academia Mahatma após reconstrução. Foto: Maíra Teixeira/iG
Academia Mahatma após reconstrução. Na época do acidente, eram 700 alunos, hoje são 70, segundo Juarez. Foto: Maíra Teixeira/iG
Juarez, dono da academia Mahatma, no salão ao lado do terreno aonde . Foto: Maíra Teixeira/iG
Vista lateral do terreno onde avião caiu, ao lado da academia . Foto: Maíra Teixeira/iG
Muro de prédio foi destruído; Moradores ficaram fora das casas de agosto a maio. Foto: Maíra Teixeira/iG
Piscinas da academia Mahatma estão sendo reconstruídas. . Foto: Maíra Teixeira/iG
Academia Mahatma fica ao lado do terreno onde avião caiu. Foto: Maíra Teixeira/iG
Avião caiu em terreno desabitado, no bairro Boqueirão, em Santos (SP). Destroços atingiram 14 imóveis . Foto: Maíra Teixeira/iG
 
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Lava Jato: esquema de corrupção ultrapassou fronteiras da Petrobras, diz MPF

Operação Pixuleco II prendeu hoje ex-vereador da cidade de Americana (SP) A 18ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quinta-feira (13) pela Polícia Federal, identificou a existência de um esquema de pagamento de valores ilícitos referente à concessão de empréstimo consignado por meio do Ministério do Planejamento.

 De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, a empresa Consist Software, administrada pelo ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano (PT), preso temporariamente nesta quinta-feira, recebia uma taxa mensal das empresas que ofereciam crédito consignado para cada empréstimo concedido. A maior parte desse valor recebido pela Consist, estimado em R$ 52 milhões pagos entre 2010 e 2015, era então destinada ao PT, por meio do lobista Milton Pascowitch, de acordo com as investigações da PF.

“O contrato era celebrado por entidades de crédito que oferecem empréstimos consignados no Ministério do Planejamento e as instituições financeiras, entidades de previdência aderiam a esse acordo guarda-chuva e a empresa [Consist] era remunerada por essas entidades mensalmente, por conta de cada empréstimo consignado que elas obtinham”, explicou o delegado da Polícia Federal Mário Ancelmo Lemos.

Conforme as investigações da Lava Jato, a Consist recebia uma taxa mensal de aproximadamente R$ 1,50 em cada contrato de empréstimo consignado assinado pelas empresas de crédito. “Era como se fosse uma taxa de administração que equivale a R$ 3,5 milhões por mês”, acrescentou o delegado.

Para o procurador da República Robson Henrique Pozzobon, com a nova fase, denominada Pixuleco II, ficou claro para a força-tarefa da Lava Jato que o esquema criminoso descoberto na Petrobras ultrapassou os limites da estatal petrolífera. “Até agora, a Lava Jato apresentou provas de corrupção consistentes na Petrobras e suas subsidiárias, na Caixa Econômica Federal e na Eletrobras. Mas depois dessa nova fase, verificamos que esse grande esquema ilícito transbordou as fronteiras e espraia seus efeitos para o Ministério do Planejamento.”

Segundo o procurador, a nova fase da Lava Jato é uma continuação da 17ª fase, a Pixuleco, em que foi preso o ex-ministro José Dirceu. A Pixuleco II foi iniciada a partir dos depoimentos de delação premiada do lobista e um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras Milton Pascowitch. Pascowitch relatou que foi procurado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em fases anteriores da Lava Jato, para intermediar o pagamento de propina de empresas do Grupo Consist Software para o PT. Em troca, Pascowitch receberia uma comissão de 15%.

Na delação premiada, Pascowitch contou ainda que passou a intermediar os pagamentos da empresa Consist porque João Vaccari reclamou que estava tendo problemas com o pagamento da propina anteriormente repassado por Alexandre Romano (PT). Vaccari nega que tenha participado do esquema.

Depois dessa nova fase, verificamos que esse grande esquema ilícito transbordou as fronteiras e espraia seus efeitos para o Ministério do Planejamento" (Robson Henrique Pozzobon, procurador da República)
 
Os investigadores informaram hoje que Pascowitch recebeu cerca de R$ 15 milhões de empresas do Grupo Consist. Os valores eram pagos após a assinatura de contratos falsos entre empresas de fachadas operadas por Pascowitch e a Consist. “Essa forma de pagamento é bastante conhecida e amplamente utilizada no esquema de corrupção revelado pela Lava Jato porque é uma via de mão dupla: interessa ao operador, que permite maquiar o repasse de propina, e à empresa pagadora, porque permite apresentar uma justificativa para o pagamento.”

Segundo Pozzobon, os depoimentos dos gestores da Consist permitiram a força-tarefa da Lava Jato identificar o repasse de mais aproximadamente R$ 40 milhões à empresa de fachada e escritórios de advocacia indicados por Alexandre Romano. “Empresas que ele próprio [Alexandre Romano] figurava como sócio, como escritórios de advocacia.”

Para os investigadores, o esquema revelado hoje no Ministério do Planejamento tem ligação “visceral” com o esquema de superfaturamento de contratos na Petrobras. “O Milton Pascowitch confidenciou que represava valores recebidos por empresas que pagavam propina no âmbito da Petrobras, especialmente a Holp e a Personal, e utilizava esse represamento para abrir as comportas para o senhor João Vaccari periodicamente”, explicou Pozzobon.

As investigações constataram ainda que, a pedido de João Vaccari Neto, a esposa do ex-secretário de Recursos Humanos no Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Figueira, morto em 2012, recebeu valores oriundos do esquema. Os pagamentos teriam ocorrido após a morte do ex-secretário.

Procurado, o PT, por meio da assessoria, informou que não vai se pronunciar. A reportagem procurou o Ministério do Planejamento, que ainda não se manifestou.

 http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2015-08-13/lava-jato-esquema-de-corrupcao-ultrapassou-fronteiras-da-petrobras-diz-mpf.html