sábado, 11 de maio de 2013

PMDF alega defeito e devolve 3,4 mil tasers, avaliadas em R$ 11 milhões

PM disse que produtos só serão pagos quando problema for solucionado.
Compra de capas de chuva levou à troca de comandante na última semana.

A Polícia Militar do Distrito Federal anunciou a devolução de 3.453 pistolas elétricas e os respectivos cartuchos, compradas com dispensa de licitação por R$ 10,8 milhões, por falta de qualidade do material. De acordo com a corporação, elas seriam usadas para inibir crimes nas copas das Confederações e do Mundo. Na semana passada, a compra de capas de chuva para os mesmos eventos levou à troca do comando da PM.

O tenente-coronel Zilfrank Araújo afirmou que as pistolas chegaram no final do mês e foram avaliadas por uma comissão, que encontrou produtos com mau funcionamento, frágeis e apresentando peças danificadas. Ele disse que o procedimento de inspeção é padrão e que, como previsto no contrato, a verba não vai ser repassada para a empresa até que o problema seja solucionado. Enquanto isso, elas estão estocadas no quartel-general da PM.

Os kits foram fabricados pela Condor Equipamentos Não Letais, do Rio de Janeiro, que foi notificada da situação na segunda e tem 30 dias para se manifestar. Araújo afirmou que ela foi contratada com dispensa de licitação por ser a única empresa nacional que fabrica o produto.

A empresa negou ao G1 que foi notificada pela PM. A Condor disse que foi informada apenas de problemas pontuais em acessórios e em uma pequena parte do lote entregue. Também afirma que esses problemas já foram ou estão sendo corrigidos.

O chefe da área de comunicação, coronel Edilson Rodrigues, afirmou que os policiais estão sendo treinados há algum tempo para usar as armas, que foram compradas pela corporação pela primeira vez.

“[Elas foram adquiridas] dentro da nossa política de buscar equipamentos de menor letalidade na ação policial, era importante comprar isso aí, sim. E até mesmo por conta dos grandes eventos e a possível presença de um grande número de turistas estrangeiros.”  

Troca de comando
O novo comandante-geral da Polícia Militar do DF, Jooziel Freire, tomou posse nesta terça-feira (7). Ele substituiu o coronel Suamy Santana, que foi exonerado do cargo na semana passada após o anúncio da compra de até 17 mil capas de chuva por R$ 5,3 milhões.

A aquisição dos itens foi incluída na licitação de materiais relacionados às copas das Confederações e do Mundo - junho e julho, época de seca em Brasília - e culminou com a queda do comandante anterior. O governador Agnelo Queiroz disse em nota considerar a compra das capas um "ato desmedido".

Santana disse que a inclusão das capas de chuva na licitação para as copas foi um "erro administrativo". "Burro eu não sou e seria incapaz de comprar 17 mil capas de chuva para serem usadas no período de seca no Distrito Federal na Copa do Mundo. Seria o cúmulo da idiotice", disse o coronel durante coletiva.

O valor da licitação também levantou questionamentos. Pelo valor da licitação, cada capa custaria mais de R$ 300. Capas semelhantes no mercado custam entre R$ 50 e R$ 60, de acordo com levantamento feito pela reportagem do DFTV.

Santana defendeu a compra de novas capas em substituição às antigas, que têm anos de uso, e disse que as que seriam licitadas são diferentes das convencionais e garantia de cinco anos dada pelo fabricante. Segundo ele, as capas relacionadas para os dois eventos esportivos têm material refletor, para serem enxergadas à distância, e dão mais mobilidade para os policiais.

O coronel disse ainda que não assinou o documento autorizando a compra do material, mas que tinha conhecimento da situação e que não poderia responsabilizar um subordinado pelo suposto erro. “A culpa foi minha”, afirmou.

 http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2013/05/pmdf-alega-defeito-e-devolve-34-mil-tasers-avaliadas-em-r-11-milhoes.html

Polícia do DF prende ex-conselheiro tutelar suspeito de abusar de crianças

Vítimas eram meninas de 9 anos e fazem parte da família do suspeito.
Polícia apresentou ainda suspeito de tentar estuprar mulher na Asa Sul.

A polícia do Distrito Federal prendeu na tarde desta sexta-feira (10) um ex-conselheiro tutelar suspeito de abusar sexualmente de duas crianças. A investigação indica que o crime ocorreu em 2012. As vítimas são sobrinhas da sogra do suposto agressor e tinham 9 anos de idade na época.

O ex-conselheiro tutelar foi localizado após denúncias anônimas. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Adriano Valente, a investigação analisará se ele cometeu abusos contra as crianças do conselho tutelar em que atuava, no Riacho Fundo.

O homem não tem passagens pela polícia e deve responder pelo crime de estupro de vulnerável, que prevê pena de 8 a 15 anos.

Outro caso
Nesta sexta, a polícia também apresentou um homem suspeito de tentar estuprar uma mulher na saída de uma faculdade na 108 Sul, na noite desta quinta-feira. A vítima foi abordada com socos pelo suspeito, que tem 13 passagens pela polícia, incluindo quatro por homicídio. Ele estava foragido do sistema penitenciário.

A vítima conseguiu fugir porque o suspeito se assustou com o fluxo de pessoas que passavam pelo local. A estudante avisou à polícia, que realizou diligênciais e conseguiu localizar o homem.

O suspeito foi encaminhado para a Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM) e deve responder por tentativa de estupro, com pena que pode chegar a 10 anos de prisão.

Para a delegada adjunta da DEAM, Ângela Santos, a atitude dá vítima fez a diferença para que o suspeito fosse encontrado com rapidez. “A vitima não tem que se sentir culpada ou envergonhada. Ela fez o certo em denunciar o ocorrido, o que ajudou a encontrar o agressor”, afirmou Ângela.

 http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2013/05/policia-do-df-prende-ex-conselheiro-tutelar-suspeito-de-abusar-de-criancas.html

MP-RJ denuncia 4 por ameaçar fiéis que acusam pastor de estupro

Pastor está preso desde terça-feira (7) por acusações feitas há um ano.
Marcos Pereira foi denunciado por dois casos de abuso sexual.

 O Ministério Público denunciou, nesta sexta-feira (10), quatro homens suspeitos de ameaçar uma das vítimas que acusam o pastor Marcos Pereira de estupro, como mostrou o RJTV. Ubirajara Moraes Pereira, Cezar Luiz Moraes Pereira, Lúcio Oliveira Câmara Filho e Daniel Candeias da Silva teriam ameaçado a vítima em março de 2012, logo após uma das denúncias contra o pastor ter sido apresentada. O MP pede ainda proteção às testemunhas em decorrência da suspeita de possíveis ligações de Marcos Pereira com o tráfico de drogas.

A  Justiça do Rio negou, na noite de quinta-feira (9), dois pedidos de liminar para libertar o pastor, que foi preso na terça-feira (7) e está no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste. Marcos Pereira é acusado de estuprar fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. A Justiça entende que há provas do crime e indícios suficientes da autoria.

Além dos estupros, o pastor é investigado por associação ao tráfico, lavagem de dinheiro e por envolvimento em quatro homicídios.

O advogado do pastor, Marcelo Patrício, alegou ao RJTV que o religioso é inocente e que está tentando reverter na Justiça a liminar que negou os pedidos de habeas corpus ao suspeito. O advogado também defende a inocência dos quatro homens denunciados nesta sexta-feira.

MP não pode denunciar 3 estupros
O pastor Marcos Pereira não responderá criminalmente por três das seis acusações de estupro contra ele porque as acusações foram feitas antes da mudança na Lei 12.015 de 2009. A legislação anterior fixava prazo de até seis meses para que a vítima denunciasse o crime de estupro, o que não aconteceu. O pastor responde por apenas dois casos.

'Estarrecedor'
Outro caso, cuja vítima é a mulher de Marcos Pereira, ainda está sendo apurado. Segundo o MP-RJ, há informações de que o filho dela com o pastor seja fruto de um estupro. O promotor Rogério Sá Ferreira afirma que os relatos das vítimas são chocantes.
"É estarrecedor. Pelos depoimentos das mulheres, a gente percebe que ele é um estuprador em série. Ele agia como se o esperma dele fosse água benta. Essas mulheres eram completamente dependentes economicamente porque moravam em alojamentos das igrejas, e emocionalmente porque viam nele um verdadeiro 'homem de Deus'. Elas não tinham condições de dizer não", disse o promotor.

Apenas por esses dois casos denunciados, o pastor pode pegar até 24 anos de prisão, se for condenado. O MP-RJ espera que Marcos Pereira seja julgado ainda este ano.

Denúncias à Justiça
Segundo o MP-RJ, o pastor agiu da mesma forma com as duas vítimas que figuram nas denúncias: jogou as mulheres na cama, arrancou a roupa delas e as forçou a praticar sexo.

Na denúncia, os promotores relatam que ele negava até mesmo material de higiene às mulheres que se recusavam a manter relações sexuais com o acusado.

"Pelos relatos das testemunhas, principalmente das mulheres, verifica-se que estamos diante de um verdadeiro depravado, degenerado, pervertido sexual, capaz de fazer as coisas mais baixas e sempre se aproveitando da sua condição de líder maior da Igreja", diz o texto de uma das denúncias, assinadas pelos promotores Rogério Lima Sá Ferreira e Adriana Lucas Medeiros.

Pastor Marcos Pereira é acusado de estupro no Rio e foi levado para o Complexo Penitenciário de Bangu (Foto: Seap/Divulgação) 
Pastor Marcos Pereira foi levado para o ComplexoPenitenciário de Bangu (Foto: Seap/Divulgação) Relatos das vítimas

Duas vítimas que denunciaram o pastor Marcos Pereira por abuso sexual relataram ao RJTV desta quarta-feira (8) como funcionava a abordagem do religioso. Em depoimento, elas afirmaram que chegaram a morar na igreja, onde não podiam ler jornais, ver televisão e nem falar em telefones celulares.

"Quando ele pegou na minha mão, eu já fiquei na minha cabeça pensando se ele estava tentando ver se tinha algum espírito em mim, que era o que ele costumava fazer. Eu fiquei orando, ele começou aos poucos, ele foi tocando no meu corpo. Você se sente humilhada, você se sente nada, como se fosse um objeto descartável", disse uma delas.

Para outra vítima, o sistema de clausura favorecia os abusos. "Ele aproveita momentos de fragilidade, que a gente fica ali, entregue mesmo àquela ideologia que eles passam para gente", disse.

Outros crimes
Marcos Pereira também é investigado por homicídio, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Trinta pessoas já prestaram depoimento contra o pastor. Segundo um ex-braço direito do religioso, certa vez, o pastor obrigou o amigo a guardar mochilas com aproximadamente R$ 400 mil em sua casa.

Após ouvir as vítimas, o delegado Márcio Mendonça, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) do Rio de Janeiro, revelou nesta quarta-feira (8) que o suspeito dizia às mulheres que elas estavam "possuídas" e que só iriam se livrar do "mal" caso tivessem relação sexual com um religioso. Entre as vítimas está a ex-mulher dele e uma jovem que disse ter sido estuprada dos 14 aos 22 anos. A polícia apura a possibilidade de outras mulheres terem sido abusadas.

"Ele tinha um comportamento semelhante quando estuprava as mulheres dentro da própria igreja. Ele dizia que elas estavam possuídas, demoniadas e ele fazia crer que a única forma que essas pessoas pudessem ser libertadas daquele demônio era tendo relação com uma pessoa santa", afirmou o delegado Márcio Mendonça.

A prisão
Ao ser encaminhado para a delegacia, o pastor não quis comentar a prisão e disse que não sabia quais eram as acusações. "Não tenho ideia", disse. Imagens gravadas pela Polícia Civil do Rio mostram o momento da prisão de Marcos Pereira.

A prisão ocorreu na Avenida Brasil, quando o pastor seguia em direção a Copacabana, na Zona Sul da cidade. Ele estava acompanhado por fiéis da igreja. Contra Marcos, havia dois mandados expedidos pela Justiça.

De acordo com as investigações, parte dos crimes ocorreu em um apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana. O local seria usado pelo pastor para promover orgias e violência sexual. O imóvel, avaliado em R$ 8 milhões, está registrado em nome da Assembleia de Deus dos Últimos Dias.

O G1 entrou em contato com a assessoria da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, localizada em São João de Meriti que informou, por meio de nota, que o pastor Marcos Pereira é inocente e sua conduta como homem de Deus prova isso.  A assessoria acrecentou ainda que todos estão "indignados com a injustiça e que isso não passa de especulação".

O pastor Marcos Pereira ficou conhecido por ajudar na reabilitação de dependentes químicos e no resgate de criminosos que seriam mortos por traficantes. Em 2004, ele negociou o fim de uma rebelião em um presídio do Rio de Janeiro.

Denúncia foi feita há 1 ano
O inquérito para investigar a associação do pastor Marcos Pereira com tráfico foi instaurado há um ano, depois que, em fevereiro de 2012, o líder do AfroReggae José Junior prestou depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) sobre supostas ameaças que o religioso teria feito ao grupo.

Segundo José Júnior, o pastor teria também participado da onda de ataques cometidas por traficantes no Rio de Janeiro, entre 2006 e 2010. Na ocasião, em nota, o religioso disse que "durante muitos anos atraímos o olhar desconfiado de muitas pessoas, o que me colocou sob investigação e monitoramento intenso e permanente dos órgãos policiais, sem que nenhuma, repito, nenhuma ligação minha ou da igreja que presido tenha sido identificada. Trabalhar com criminosos visando a sua recuperação é diferente de se envolver com criminosos, e esta fronteira eu nunca ultrapassei".

A partir dessa investigação policial apareceram as informações sobre estupros. Segundo o delegado Márcio Mendonça, "as pessoas tinham medo de denunciar" porque começaram a ser ameaçadas. Segundo os relatos ouvidos pela polícia, o medo das vítimas devia-se ao fato do pastor abrigar criminosos e guardar armas na igreja.

Segundo o delegado, o pastor Marcos Pereira estuprava as vítimas também dentro da igreja, muitas vezes em seu gabinete. "Na igreja, tem pessoas que prestam serviço para ele e que não recebem nada. Elas servem o café, ajudam na limpeza, fazem o almoço. Ele se aproveitava e abusava das pessoas naquele local mesmo.", disse Márcio Mendonça, citando ainda que o religioso praticou "atos agressivos" e que fazia orgias com homens e mulheres no apartamento em Copacabana.

Homicídio
Segundo a polícia, uma jovem assassinada em 2008 queria denunciar o pastor depois de ter sido vitima de abuso. Três pessoas foram presas suspeitas do crime, entre elas, o sobrinho do religioso.

Há também uma investigação que aponta que, além do homicídio desta jovem, que já era maior de idade, há outros homicídios. "São pessoas que teriam descoberto as orgias e aí foram assassinadas", afirmou o delegado.

 http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/05/mp-rj-denuncia-4-por-ameacar-fieis-que-acusam-pastor-de-estupro.html

Juíza suspende concessão do Maracanã por ver 'ilegalidades'

Liminar desta sexta impede contratação do consórcio vencedor da licitação.
Grupo de Odebrecht e Eike ganhou concorrência; Governo vai recorrer.

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) obteve, nesta sexta-feira (10), uma liminar que impede a contratação do consórcio vencedor da licitação para a concessão do complexo do Maracanã devido a "ilegalidades" no processo. Segundo a decisão da juíza Gisele Guida de Faria, da 9ª Vara de Fazenda Pública, o estado não pode conceder a terceiros o direito de exploração da área do entorno do complexo. Em caso de descumprimento da determinação, a multa será de R$ 5 milhões. O Governo do Rio informou que vai recorrer.

O consórcio Consórcio Maracanã SA, formado pelas empresas Odebrecht (90%), IMX (5%), de Eike Batista, e AEG (5%), foi anunciado como vencedor na tarde desta quinta (9). Procurado pelo G1, o grupo informou que não vai se posicionar sobre a decisão.

A ação civil pública do MP-RJ foi ajuizada em 9 de abril pela 8ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania da Capital. A decisão da juíza viu "a presença de ilegalidades que contaminam a licitação em apreço", como diz o texto da liminar.

O MP-RJ, por meio do do procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira, no dia 3 de maio, havia recorrido da decisão do Tribunal de Justiça, que manteve a licitação para a concessão do Complexo do Maracanã.
No dia 10 de abril, a promotoria havia conseguido uma liminar suspendendo a abertura dos envelopes com as propostas para administrar o estádio, depois de entrar com uma ação civil pública demonstrando irregularidades no processo licitatório. A liminar, no entanto, foi cassada pela presidente do TJ, desembargadora Leila Mariano, e o processo de licitação foi concluído na quinta-feira (9).

Vencedor
O Consórcio Maracanã SA venceu a licitação por decisão unânime da Comissão de Licitação, que considerou o grupo habilitado. Nenhum recurso foi apresentado pelo concorrente, o Consórcio Complexo Esportivo Cultural do Rio de Janeiro.

Essa foi a terceira fase da licitação para a concessão realizada no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul.

Reabertura
O estádio foi parcialmente reaberto no dia 27, para um evento-teste. Com presença de comitiva liderada pela presidente Dilma Rousseff, cerca de 25 mil pessoas — 30% da capacidade final — assistiram a um espetáculo de luzes e som antes da vitória dos Amigos de Ronaldo por 8 a 5 sobre os Amigos de Bebeto, com direito a dois gols do Fenômeno, um deles após um "elástico", drible que lembrou os bons tempos do craque.

Do lado de fora e até dentro do estádio, manifestantes se mostraram contrários à privatização do estádio. Durante o jogo, policiais chegaram a usar bombas de efeito moral para dispersar um protesto de um grupo que é a favor da permanência do antigo Museu do Índio ocupado por indígenas. No novo projeto, o atual espaço dará lugar a um museu olímpico.

 http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/05/juiza-suspende-concessao-do-maracana-apos-recurso-do-mp-rj.html

Júri crê em homicídio, mas absolve réus por morte de PC Farias e Suzana

Juiz Maurício Breda leu sentença e pediu que irmão de PC seja denunciado.
Jurados descartaram hipótese de suicídio em crime ocorrido em 1996.

O júri popular do Tribunal do Júri do Fórum de Maceió decidiu absolver os quatro seguranças acusados pela morte de Paulo César Farias, o PC Farias, e da namorada, Suzana Marcolino, crime ocorrido em 1996. A sentença foi lida em plenário nesta sexta-feira (10), após cinco dias de julgamento.

A plateia aplaudiu o resultado, e os familiares agradeceram a Deus. O juiz Maurício Breda pediu que o irmão de PC Farias, Augusto, seja denunciado por corrupção ativa.
PC Farias e Suzana Marcolino foram encontrados mortos em uma casa de Praia de Guaxuma, Alagoas, em junho de 1996.
Geraldo chora abraçado a parente após leitura da sentença. (Foto: Jonathan Lins/G1)José Geraldo chora abraçado a parente após leitura da sentença. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Estava com a consciência tranquila"
Reinaldo Correia de Lima Filho, policial militar
O veredicto foi por maioria. Os jurados entenderam que houve o crime de duplo homicídio, e não de suicídio, como queria a defesa.

Os jurados entenderam também que três dos seguranças tinham o dever legal de impedir o crime, e podiam tê-lo feito, mas não deveriam ser condenados por omissão. "Eles foram absolvidos por clemência", afirmou o juiz.

Os policiais Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, então seguranças de PC Farias, foram acusados de duplo homicídio triplamente qualificado por não terem impedido as mortes.

Durante a leitura da palavra "absolvidos", os familiares dos réus comemoraram no plenário, e José Geraldo ajoelhou-se em frente ao banco dos réus. Ao final, muitos aplausos.

Os réus se abraçaram e choraram no plenário. Reinaldo disse que esperava o resultado. "Estou aliviado e dever cumprido. Estava com a consciência tranquila", disse.
Augusto farias é a terceira testemunha a depor nesta terça-feira. (Foto: Jonathan Lins/G1)Augusto Farias, irmão de PC Farias, deverá ser denunciado por corrupção ativa contra delegados; ele chegou a ser apontado como mandante dos crimes e teria oferecido propina a delegados do caso (Foto: Jonathan Lins/G1)
 
Denúncia contra irmão de PC Farias
A sentença foi lida no plenário do Fórum de Maceió às 21h pelo juiz Maurício Breda, que decidiu pedir que o irmão de PC Farias, Augusto César Farias, seja denunciado pelo crime de corrupção ativa.

Breda informou que vai encaminhar ao Ministério Público uma gravação de dois delegados que, no júri, acusaram Augusto de ter oferecido propina para que ele não fosse investigado, por meio de um jornalista, em 1999.

Augusto chegou a ser apontado como mandante das mortes, mas o inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal por falta de provas. Ele tinha foro privilegiado. "Não há como ter operado a prescrição pela prática do crime de corrupção ativa", afirmou o magistrado.

O advogado José Fragoso Cavalcante afirmou estar "satisfeitíssimo" com o veredicto, e o promotor Marcos Mousinho anunciou que vai recorrer. "Os réus reconheceram que houve um duplo homicídio. Reconheceram que os réus foram autores por omissão", afirmou.

(*Com reportagem de Carolina Sanches, Fabiana De Mutiis, Michelle Farias e Rivângela Gomes, do G1 AL)

Último dia de júri: debates
Durante os debates no quinto e último dia de julgamento, Promotoria e advogados confrontaram versões sobre a morte do casal e as duas perícias divergentes apresentadas ao longo das investigações.
Primeiro a falar, pelo Ministério Público, o promotor Marcos Mousinho pediu a condenação e afirmou que os policiais, então seguranças de PC Farias, tinham a obrigação, "por lei", de impedir as mortes. Em vez disso, entraram numa "trama" para dizer que houve um suicídio.
10/5/2013 - Promotor Marcos Mousinho lê conclusão do arquivamento (Foto: Jonathan Lins/G1)Promotor Marcos Mousinho fala ao júri (Foto: Jonathan Lins/G1)
Em seguida, o advogado José Fragoso rebateu a tese afirmando que se trata de "ficção" pensar que Suzana não matou PC Farias e cometeu suicídio em seguida.

"Estou fazendo o possível para evitar uma injustiça contra esses quatro inocentes", afirmou. "Fizeram tudo para transformar os dados da vida real numa ficção", concluiu.
10/5/2013 - José Fragoso lê trechos de um livro que afirma a possibilidade de falha no método de medição dos ossos (Foto: Jonathan Lins/G1) 
O advogado José Fragoso lê trechos de um livro que afirma a possibilidade de falha no método de medição dos ossos (Foto: Jonathan Lins/G1)
Ele mostrou parecer do Ministério Público Federal pedindo o arquivamento do inquérito contra o então suspeito pelas mortes, o irmão de PC Farias, Augusto, que foi seguida pelo Supremo Tribunal Federal.
 
Entenda o caso
PC Farias foi tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1989 e, à época do assassinato, respondia em liberdade condicional a diversos processos, entre eles sonegação fiscal, falsidade ideológica e enriquecimento ilícito. Ele foi encontrado morto ao lado da namorada na casa de praia de sua propriedade.

Os PMs que o encontraram eram responsáveis pela segurança particular de PC Farias.
Segundo a Promotoria, eles agiram por omissão, porque estavam presentes na cena do crime, mas relataram não ter ouvido os tiros e não impediram as mortes.
 

4º Dia
Na quinta-feira, 4º dia de júri, os réus deram sua versão sobre o crime. Dois deles apontaram Suzana como autora do assassinato de PC Farias.
8/5/2013 - Réus, PMs acompanham o 3º dia de júri (Foto: Jonathan Lins/G1)Réus, policiais militares acompanham júri (Foto: Jonathan Lins/G1)
 
O primeiro a ser interrogado foi Adeildo Costa dos Santos, 51 anos, policial militar desde 1981. Ele disse "por tudo que foi apurado até agora, eu não tenho dúvida que foi dona Suzana".

José Geraldo da Silva, 50, policial reformado que hoje atua na segurança da filha de PC, Ingrid, afirmou o que acha ter ocorrido: "Tenho certeza que ela matou e se matou". "Da minha consciência, da primeira perícia", completou. "Com certeza [sou inocente]."
O terceiro a falar foi Josemar Faustino dos Santos, 49, conhecido como Dudu, disse que ajudou a arrombar a janela no quarto onde estava o casal. "Se arrombar a janela for crime, cometi um grande crime", afirmou o réu.

Reinaldo Correia de Lima Filho, 50 anos, que é policial militar, também negou envolvimento no crime. O réu disse ser inocente, mas que não tem a quem atribuir os fatos da denúncia.
9/5/2013 - O médico-legista Daniel Muñoz contesta primeira hipótese dos peritos e faz demonstração do uso da pistola (Foto: Jonathan Lins/G1)O médico-legista Daniel Muñoz contesta primeira hipótese dos peritos e faz demonstração do uso
do revólver (Foto: Jonathan Lins/G1)
Confronto de perícias

Também na quinta, peritos que contestaram, em 1996, o laudo inicial sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino afirmaram ser impossível ela ter cometido suicídio.

A equipe do médico-legista Badan Balhares concluiu que Suzana matou PC Farias e se suicidou em seguida. Mas, após ser contestado pelo legista George Sanguinetti, uma nova perícia foi feita, concluindo que o casal havia sido assassinado (Veja dúvidas sobre os dois laudos).
O legista Daniel Muñoz, da USP, que exumou o corpo de Suzana, afirmou que os vestígios encontrados nas mãos de Suzana estavam nas palmas. "Só tem uma saída. Ela estava com as mãos em volta da arma. É uma posição de defesa", afirmou.

3º Dia
Na quarta, terceiro dia de julgamento, o médico-legista Badan Palhares e outros peritos de sua equipe prestaram esclarecimentos e reafirmaram que Suzana Marcolino matou PC Farias, deixando uma mensagem de despedida, para, em seguida, cometer suicídio.
"Como perito, o local de crime define, por si só, que aquilo é um homicídio seguido de suicídio", disse. Ele chefiou a equipe de peritos que fizeram o primeiro laudo sobre as mortes. “Hoje não tenho nenhuma dúvida”, afirmou. “Absolutamente nenhuma.”
Badan mostra instrumento utilizado para identificar a trajetória da bala (Foto: Jonathan Lins/G1)Badan mostra instrumento utilizado para identificar a trajetória da bala (Foto: Jonathan Lins/G1)
Ao todo, dez pessoas foram ouvidas na sessão, entre elas, a irmã de Suzana: "Ela jamais se mataria", disse Anna Luiza aos jurados.

Badan, que não concedeu entrevistas antes do julgamento, apresentou em slides um resumo de todo o procedimento de perícia realizado na casa de Guaxuma, onde os corpos foram encontrados. Ele afirma que tudo comprova a tese apresentada: Suzana matou PC Farias e, em seguida, cometeu suicídio.
8/5/2013 - O legista José Lopes depõe sobre a morte de PC Farias e de sua namorada (Foto: Jonathan Lins/G1) 
O legista José Lopes fala sobre laudo de morte de PC Farias e Suzana (Foto: Jonathan Lins/G1)
 
O perito José Lopes da Silva Filho, que fez a necropsia nos corpos, disse que a altura da vítima não interfere na conclusão a que chegou a equipe de perícia em 1996.

O perito disse que o disparo que atingiu PC foi à distância e o de Suzana foi próximo.
Segundo ele, a bala passou por três pontos, por isso, foi possível se chegar à trajetória exata. Segundo o Lopes, não há “nenhuma dúvida”, de que foi um homicídio seguido de suicídio e que Suzana estava sentada na cama, com joelhos dobrados e tronco inclinado para frente.

Dois delegados que atuaram nas investigações da morte negaram as acusações do irmão do empresário, Augusto Farias, de que teriam feito uma proposta para livrá-lo do processo. Um deles disse, no entanto, ter recebido uma proposta de suborno de um jornalista com o mesmo intuito, que foi gravada.

Anna Luiza Marcolino fala na condição de declarante no Fórum de Maceió. (Foto: Jonathan Lins/G1)Anna Luiza Marcolino fala na condição de declarante no Fórum de Maceió
(Foto: Jonathan Lins/G1)

A irmã de Suzana Marcolino, Anna Luiza Marcolino, afirmou que nunca viu a arma que teria sido usada para matar PC e a namorada. "Ela jamais se mataria", disse. "

Ela também pediu que a defesa tome cuidado com as palavras usadas para se referir a Suzana, porque "nenhuma mulher aceita ser chamada de prostituta, ainda mais quando não é". "Ela não pode ser condenada porque era uma jovem que gostava de viver e acreditava nas pessoas”, afirmou.
Eônia Pereira fala sobre patrimônio de Augusto Farias em depoimento. (Foto: Jonathan Lins/G1)Eônia Pereira fala sobre patrimônio de Augusto Farias em depoimento. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Antes, falou Eônia Pereira, ex-cunhada de PC Farias, primeira testemunha convocada pelo juiz Maurício Breda. Ela e os peritos foram chamados para falar como declarantes. Por isso, não prestaram juramento e não estavam obrigados a falar a verdade.

Ela afirmou que não se dá bem com Augusto Farias e que PC Farias “bancava caprichos” dos irmãos. Segundo Eônia, o patrimônio de Augusto aumentou "substancialmente" após o crime.
Suzana sempre sonhou alto. Acho até que ela pagou um preço muito alto pelo sonhos"
Zélia Maciel, prima de Suzana Marcolino
 
Augusto Farias chegou a ser apontado como suspeito de ser mandante da morte do irmão. Nesta terça, quando foi ouvido como testemunha de defesa no júri, ele voltou a negar as acusações e disse que “nunca imaginou” que um dia seria apontado como suspeito. Então deputado federal,  Augusto não foi processado pelo crime. O inquérito contra ele foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de provas.

No 3º dia de júri, também foi ouvida a última testemunha de defesa, a prima de Suzana Marcolino. Zélia Maciel de Souza afirmou que foi comprar a arma do crime com a namorada de PC Farias e que Suzana falava que iria se casar com o empresário. “Suzana chegou pra mim e disse que ia casar e que eu ia ter uma surpresa porque era com um homem muito rico”, disse a testemunha. “Suzana sempre sonhou alto. Acho até que ela pagou um preço muito alto pelo sonhos.”

2º Dia
No 2º dia de júri, 13 testemunhas prestaram depoimento no Fórum de Maceió, entre elas, o irmão do empresário, Augusto César Cavalcante Farias, que disse acreditar na hipótese de crime passional no caso. Ele  também afirmou que nunca imaginou que seria apontado como mandante dos assassinatos. Já a suposta amante de PC Farias, Cláudia Dantas, confirmou que eles se encontravam. Ao final, a filha de PC Farias, Ingrid, disse ter ouvido do pai que ele queria romper o namoro com Suzana Marcolino.
“Naquela cena você começa a desconfiar de tudo e de todos. Os seguranças estavam lá, até que prove o contrário, eram de confiança”, disse Augusto Farias. “Depois de toda a apuração é que nós nos convencemos [de que era um homicídio seguido de suicídio].”

Sobre as acusações de que ele teria mandado matar o irmão, Augusto disse que foi apontado porque foi o primeiro a chegar à cena do crime. Ainda segundo Augusto, PC disse que deixaria Suzana Marcolino para tentar um relacionamento com Cláudia Dantas.
7/5/2013 - Claudia Dantas, suposta amante de PC, diz ao júri que eles tiveram encontros (Foto: Jonathan Lins/G1)Claudia Dantas, suposta amante de PC, diz ao júri que eles se encontravam (Foto: Jonathan Lins/G1)
'Encontros'
Ouvida na sequência, Cláudia, apontada como a pivô do namoro entre PC e Suzana, afirmou aos jurados que teve três encontros com o empresário e que, na noite do crime, ele disse a ela que terminaria com Suzana Marcolino. A testemunha disse ainda que havia recebido um ramalhete de flores de PC Farias.

A primeira a depor foi Milane Valente de Melo, que era namorada do irmão de PC Farias, Augusto, à época do crime. Ela afirmou que teve contato com o empresário apenas algumas vezes e que não próxima de Suzana Marcolino. Segundo ela, Augusto achava que Suzana estava interessada no dinheiro do irmão e foi apresentada a ele na cadeia.
7/5/2013 - Ingrid Farias foi a última testemunha a depor no segundo dia de julgamento do caso PC Farias. (Foto: Jonathan Lins/G1)Ingrid Farias, filha de PC Farias, foi a última a depor no segundo dia de julgamento do caso
PC Farias. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Arma
Também foram ouvidos Monica Aparecida Rodrigues Calheiros e o marido, José Jefferson Calheiros de Medeiros. Ela vendeu uma arma para Suzana Marcolino. Segundo ela, na época, “em qualquer esquina se achava venda de arma” e ela vendeu a arma por R$ 250 para que a ex-namorada de PC praticasse tiro. Segundo o juiz, lendo os autos, a arma foi vendida por R$ 350 e paga com um cheque. “Ela foi lá pra comprar a arma e pediu para testar”, afirmou a testemunha.

Última a prestar depoimento, Ingrid Farias, filha de PC Farias, disse que tinha 14 anos quando perdeu a mãe e 16 anos quando perdeu o pai. Morando na Suíça à época, ela diz que conheceu Suzana Marcolino e que, pouco antes do crime, ouviu do pai que ele “queria acabar porque não estava muito feliz”.


1º Dia
Na segunda (6), cinco homens e duas mulheres foram os escolhidos para compor o Conselho de Sentença do júri popular.
Duas testemunhas prestaram depoimento. Leonino Tenório de Carvalho, que hoje é jardineiro na casa da praia, afirmou que não permaneceu no local na noite do crime e que somente viu os corpos pela manhã.
Militares acusados no caso PC Farias demonstram cansaço ao final do primeiro dia de júri. (Foto: Jonathan Lins/G1)Policiais militares acusados no caso PC Farias demonstram cansaço ao final do primeiro dia
de júri (Foto: Jonathan Lins/G1)

A testemunha disse que ele, o garçom e os seguranças arrombaram a janela do quarto onde o casal estava e que chegaram a mexer no corpo de PC, mas não no de Suzana. Ele afirmou ainda que, dias depois do crime, o colchão foi queimado porque já estava exalando odor.

Em seguida, o garçom Genival da Silva França falou por três horas. Ele afirmou não ter ouvido os disparos, mesmo tendo dormido na casa do caseiro. Ele serviu o jantar a PC Farias, o irmão Augusto Farias com a namorada 'Milene', e Suzana Marcolino. O funcionário disse também que presenciou mais de uma briga entre PC e Suzana.

 http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2013/05/juri-cre-em-homicidio-mas-absolve-reus-por-morte-de-pc-farias-e-suzana.html

Em recuperação, mendigo gato reencontra fotógrafa que mudou seu destino

Internado há sete meses, ele já pode receber a visita da família, que acompanha aliviada a evolução do tratamento.

Michelle Fernandes sonha ser cantora gospel. Rafael Nunes já foi modelo fotográfico. Os dois não se conhecem, mas têm muitos pontos em comum.

  Confira o antes e depois do mendigo gato
 

Internado há sete meses, ele já pode receber a visita da família, que acompanha aliviada a evolução do tratamento.
Jovens, boa aparência, uma vida inteira pela frente. Quem poderia imaginar: Michelle e Rafael viraram mendigos.

“Minha casa é a rua. Infelizmente”, conta Michelle Fernandes.
“Passava frio, os pés gelados. Às vezes chovia, ventava” lembra Rafael Nunes.

Michelle vive nas ruas de Curitiba há seis anos. Rafael ficou nesta situação um ano e cinco dias. Eles se juntaram a uma população de anônimos que vagam pelas cidades sem destino.

“Eu tive dificuldade na família, de conviver com a família. Foi muito difícil, né? Eu tinha um namorado e ele usava droga. E eu usei junto com ele”, conta Michelle.

“Eu comecei a vender as minhas roupas e consumir drogas”, revela Rafael.

A equipe do Globo Repórter encontrou Rafael em uma clínica de recuperação para dependentes de álcool e drogas em Araçoiaba da Serra, a 120 quilômetros de São Paulo.

Internado há sete meses, ele já pode receber a visita da família, que acompanha aliviada a evolução do tratamento. Seu José, o pai dele, se lembra das noites em claro quando o filho vivia nas ruas.

“Eu cheguei a mudar para um quarto sozinho. Para escutar televisão de noite. E ficar sentado na cama, um pouco chorando, um pouco rezando”, conta o aposentado José Nunes.

A mãe, a enfermeira Edite Nunes, montou uma rede de informantes pela cidade na tentativa de localizar e levar o filho de volta para casa.

“Às vezes, alguém dizia: ‘eu vi o Rafael em Campo Raso’. Aí, eu pegava o ônibus e ia para Curitiba. Chegava lá, eu rodava, rodava. Então, eu saía para esquerda, com certeza ele ia para direita”, lembra dona Edite.

“Eu tinha medo dele aparecer em casa um dia fora de si, drogado e machucar o pai e a mãe e machucar as crianças. Eu sempre tive medo. Ao mesmo tempo, a gente quer resgatar e a gente tem medo”, desabafa a irmã de Rafael, Rubiana Nunes.

Mas, em outubro de 2012, a vida de Rafael cruzou com a de Indy Zanardo. A fotógrafa gaúcha visitava parentes em Curitiba. E, entre uma foto e outra, apareceu Rafael, maltrapilho e delirante.

“Ela estava tirando foto do familiar dela e eu acho que eu passei no meio, ofuscando a câmera dela”, lembra Rafael.

“Ele falou assim ‘tira uma foto minha’. Ele falou ‘você vai pôr na rádio para eu ficar famoso’”, conta Indy.

“Brinquei com ela, balancei assim, gesticulei. E ela tirou a foto, né?”, diz Rafael.
“Eu tirei a foto e ele saiu correndo. Eu não tive tempo de conversar com ele. Ou de olhar. Na verdade, eu nem vi ele. Eu fui ver mesmo depois que eu entrei no ônibus, Olhei para minha câmera e vi a foto ali. Na verdade, na hora em que eu olhei na foto, para mim, não era a mesma pessoa que estava ali na minha frente. Que eu achei, assim, muito bonito”, conta Indy.

De volta ao Rio Grande do Sul e impressionada com a beleza do mendigo, Indy decidiu publicar a foto na internet. Foi um sucesso instantâneo nas redes sociais: em poucas horas, milhares de acessos.
Quem seria aquele jovem? Um mendigo com pinta de modelo? Ou um modelo fazendo pose de mendigo?

Em poucas horas, a notícia do mendigo gato chegou à família de Rafael.

“Eu pensei: ‘meu deus, a minha família vai saber que eu tenho um filho na rua’, porque ninguém sabia, a minha mãe tem 90 anos”, conta a mãe de Rafael.

Mas, o que poderia ter sido uma notícia ruim, acabou apontando um novo caminho para Rafael. A direção da clínica onde ele está internado soube da história e ofereceu tratamento ao ex-modelo.
Sem nunca ter encontrado a família de Rafael, Indy acabou transformando a vida de todos.

“Se não fosse ela, nós estávamos com ele perdido. A gente sempre tinha uma esperança, nós vamos continuar, mas ele estava além do fundo do poço”, desabafa Edite.

“Só tenho a agradecê-la realmente por aquele instante. Aquele breve instante que ela tirou a foto que ela postou na internet e mudou a minha vida”, conta Rafael.
E então, uma surpresa: o encontro com Indy.

“Obrigado. Você recuperou meu filho, minha família”, diz a mãe de Rafael, enquanto abraça Indy.
“Que bom te ver assim”, diz Indy.

“Valeu. Obrigado mesmo”, agradece Rafael.
“Muito obrigado pelo que você fez. Você faz parte da nossa família”, diz o pai de Rafael.
“É assim que eu me sinto”, revela Indy.

Foi um encontro emocionado e caloroso, como o de velhos amigos que precisam pôr a conversa em dia.

Hoje, Rafael está lúcido, tranquilo. Mas ainda é preciso cautela.

“Ele ainda tem que passar por muitas etapas, ele vai passar por dificuldades, por frustrações, ele tem que saber lidar com a realidade dele”, explica Ana Leda Bella, psicóloga.

Para Rafael e para a família dele, a esperança de recuperação nunca esteve tão perto.
“Que coisa mais linda te ver assim”, se alegra Indy.

“Mudei realmente, né?”, pergunta Rafael.
“Com certeza. Deus te deu uma chance. Mais uma chance. Tem que agarrar com força e coragem”, diz Indy.

Michelle também se diz livre das drogas, mas ainda vive nas ruas. Sem emprego e sem apoio da família, ela tenta se reerguer sozinha. Quando cai a noite, se abriga no albergue da Fundação de Ação Social de Curitiba, conhecida como FAS.

Todas as noites, 300 pessoas são atendidas lá, entre homens e mulheres. É a lotação máxima. Esgotadas as vagas, ninguém mais entra. Histórias que se misturam, vivências dramáticas de pessoas que não tem uma casa pra voltar, mas que lá pelo menos por algumas horas, encontram um pouco de conforto.

Todos passam por uma revista, têm direito a banho, comida quentinha, uma cama pra dormir. Só em 2012, quase 3,5 mil pessoas que viviam nas ruas de Curitiba passaram por lá. A maioria é formada por homens que se perderam nas drogas.

“A partir do crack, as pessoas foram mais pra rua. Ou porque suas famílias não admitem o uso em casa e porque também é mais fácil conseguir a droga na rua”, afirma Márcia Fruet, presidente da Fundação Ação Social.

Um homem, que não quis mostrar o rosto, luta para se recuperar. Ele tem 40 anos e há um ano e meio está afastado da família.

“O morador de rua não é um bandido. Ele não é, vamos dizer assim, como as pessoas taxam, vagabundo, não. Às vezes, passou por uma situação, uma dependência, que levou a ele chegar ser morador de rua. Eu já tive dificuldades em entrevistas de emprego quando eu disse que morava na FAS. Então, já não tinha emprego”, conta o homem.

No albergue, funciona uma central para resgate de moradores de rua. Sempre que chega um comunicado, as equipes são acionadas. É uma tarefa que avança noite adentro.

A equipe do resgate social encontra uma mulher deitada no chão, completamente bêbada.
Na capital mais gelada do país, o álcool também é usado pelos moradores de rua para espantar o frio das madrugadas. No inverno, são comuns as notícias de andarilhos encontrados mortos nas calçadas de Curitiba.

Quando amanhece, os que passaram a noite no abrigo são obrigados a sair. Para Michelle, que vive no abrigo há seis anos, é hora de ir para a escola e tentar uma nova chance.

“Agora, estou estudando. Estou querendo me formar agora pra fazer gastronomia”, revela Michelle.
Nas aulas, é aluna dedicada, caprichosa. Sonha com uma casa e poder trazer para perto os dois filhos, que não vivem mais com ela.

Globo repórter: De quanto em quanto tempo você consegue ver os filhos?
Michelle: De dois em dois meses. Quando eu posso ver antes, eu vejo de 15 a 20 dias, mas sempre vou dar uma olhadinha neles.

E lá vai ela, no trânsito, circulando entre carros. Pedindo esmolas? Não, nada disso: trabalhando!
Enquanto não tem um emprego fixo, a Michelle trabalha nos fins de semana. Vende jornais nos sinais de transito. R$ 70 é o pouco que ela consegue ganhar com o trabalho avulso.

Apesar das privações, Michelle encara a vida com otimismo. Está sempre com um sorriso no rosto. Como tantos outros que fizeram das ruas os cômodos da própria casa, ela sonha com o dia em que as calçadas voltem a ser apenas caminhos de ir e vir.

 http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/05/em-recuperacao-mendigo-gato-reencontra-fotografa-que-mudou-seu-destino.html